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quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

PERDIDOS NO ESPAÇO

Ando meio cabreiro com as possibilidades que a humanidade pós redes sociais e smartphones pode alcançar. A invenção da internet e a democratização de seu uso é pra ser saudada por todos como o avanço fundamental da raça. A mim, a rede mundial de computadores parece acelerar a evolução da espécie humana para mais de mil anos por dia. Até refiz o conceito de teletransporte, que era aquele que tínhamos em “Matrix”, “De Volta para o Futuro” ou no “Jornada nas Estrelas” – para o pessoal mais saudosista. De todo modo, o deslocar-se de um ponto ao outro continua na ponta do dedo do engenheiro Scotty ou de qualquer um de nós. Tenho pensado nas relações sociais que são construídas e desconstruídas na realidade do mundo virtual. Minha desconfiança é que percebo a web propiciando um remake das arenas romanas onde se digladiam, muitas vezes violentamente, os mais diversos vieses ideológicos. Mesmo pessoas mais impassíveis, vez por outra se metem em alguma discussão por whatsapp onde nos agrupamentos não cabe o mundo inteiro do facebook, instagram etc. Neste ano de eleições em nível estadual e federal, talvez alcancemos o paroxismo de fake news, que certamente são pólvora pura neste rastilho que invade as redes e ganham as ruas disseminando intolerância e ódio.
Há avançados estudos sobre o aumento dos níveis de estresse dos indivíduos relacionados ao tempo de conexão na Rede. Tenho encontrado pessoas, dentro e fora das redes e de grupos de comunicação, que relatam querer se livrar dessa moderna servidão; há ainda os que se sentem sequestrados pela internet ao comparar a distribuição de seu próprio tempo entre as atividades laborais e as de lazer e ócio remunerados nas quais se teletransportam via web para qualquer lugar do mundo. As perguntas que não querem calar são: a tecnologia avança para fazer-nos economizar o tempo? Se sim é a resposta, o que fazemos do nosso tempo supostamente vago? Utilizamos para descansar mais, para o lazer, visitar os amigos, praticar uma religião, cuidar de nossa saúde, reunir-se no sindicato ou no partido político? Uma resposta que tem nos feito pensar diuturnamente a conjuntura em que vivemos é que a moeda do ciberespaço não é a informação; mas, a ATENÇÃO. Portanto a resposta é: temos gasto o nosso tempo em atenção. 
O marketing é isso de anunciar, de dar visibilidade a uma marca, de arranjar a vitrine, de atender bem e, o mais difícil, de fidelizar. Dentro e fora da web é assim. Sobretudo na internet, ninguém coloca algo se não for para obter alguma vantagem em troca. Sempre evoco o axioma “Não existe almoço grátis” quando vejo um usuário da net fazendo download “free”, cadastrando-se e deixando “pedacinhos de pão” como identificação, endereços, hábitos de consumo, preferências. Lembremos de uma premissa fundamental da pós-modernidade: gastar dinheiro não é a única forma de consumir. 
Todo esse quadro pode ser pior do que se apresenta se, de fato, o indivíduo está capturado ou, em outra palavra que os especialistas já admitem, VICIADO. É nisso que Google e Facebook investem dia a dia para conquistar, e manter conquistados, os pequeninos desta “Terra de Gigantes”. Para tal são desenvolvidos estudos sobre as formas de ACESSAR o cérebro inconsciente a fim de desvendar os circuitos do prazer e nos fazer garantir a conexão mais duradoura possível.
Alguém já disse que os os Gigantes descobriram a nossa irracionalidade. De outro modo, como nos desesperamos se não estivermos on line, se passamos muito tempo sem acesso às redes, alheios a tudo que pode estar acontecendo sem nós? Sem receber uma curtida ou comentário no novo post?
Quando Bertold Brecht escreveu “Se os tubarões fossem homens” estávamos ainda distantes de uma sociedade fisgada pelos celulares e o chamado design persuasivo das grandes empresas de comunicação, entretanto a metáfora continuaria irretocável. As “suas goelas seriam representadas como inocentes parques de recreio, nas quais se poderia brincar magnificamente”, pois de outro modo não se pode conceber que a autorregulação mental da maioria de nós não tenha força para desativar nosso perfil no face, excluir-nos de grupos no zap ou sair por aí apertando botões de cancelar.
Começo a compreender que nossa atenção está tão comprometida em curtir e ser curtido que não há espaço, tempo e circunstância para pensar e refletir. O universo tornou-se menor; tristemente, não melhor. Os humanos navegam, a exemplo do Dr. Smith, cada vez mais Perdidos no Espaço.

Publicado na Estilo OFF - FEVEREIRO/2018

Um comentário:

CCF disse...

Vejam bem, é só uma opinião surgida no contexto da leitura...
Quando na idade média, a primeira catapulta entrou em cena durante o reinado de Dionísio I, um especialista em guerra na ocasião declarou...Essa peça mortal, muito em breve irá ganhar em capacidade de execução(Com certeza ele se referia ao implemento de tecnologia), e irá substituir o ser humano nos futuros combates...
Chegamos ao presente, a catapulta foi substituída por outras armas, e a guerra no seu contexto continuou com a mesma essência, e o ser humano com a mesma maldade.
O bom, é que logo logo chegaremos a Marte...E o Facebook será passado!

CCF