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quarta-feira, 6 de setembro de 2017

PREFEITOS SEMPRE TÊM CALCANHAR DE AQUILES


Faz 20 anos que moro no mesmo endereço. Antes experimentamos um monte de casas nas quais pagávamos o aluguel sofrido que dormia debaixo do travesseiro, como se diz. Quando viemos aqui pro Loteamento João Bedim contávamos nos dedos das mãos os vizinhos num raio de 300 metros. Foram tempos desbravadores. Se chovia, tornando a estrada um lamaçal, o ônibus não passava. Para ir trabalhar, saíamos de casa com sacos plásticos amarrados nos pés pelo menos até o calçadão do Claudão, que era o único indício de presença do poder público entre a cidade e nós. No mais, podíamos cantar alegremente nosso fugere urbe com Agepê: “moro onde não mora ninguém/É lá que eu me sinto bem”. A despeito da ausência de um montão de serviços da municipalidade, tínhamos a tranquilidade de armar uma rede de vôlei em plena rua; jogar futebol num terreno baldio, ir dormir com o coaxar das rãs; e ser acordado todas as manhãs com o mugido do gado pastando à porta.
Não sei se no 2º ou no 3º mandato de Péricles, finalmente lançaram asfalto no que hoje é a avenida Dep. Dr. Cory Pillar. À época, o secretário de obras esticou, como máquina de pastel, o asfalto e colocou uma camada sobre a rua Joaquim Martins da Silva e adjacências. Que felicidade! Não tínhamos grana pra construir a calçada da casa, mas uma de nossas ruas estava com o asfalto novinho em folha. Uma de nossas ruas, pois – não sei se disse – a residência era de esquina. Morar numa esquina pode ser uma vantagem estratégica. Mas, nesse caso, era uma dificuldade extra. Nos anos que se seguiram nossa vida não foi a mesma. O loteamento cresceu ficando cada vez mais perto do centro da cidade. Os automóveis passavam céleres pelas ruas pavimentadas. Entretanto, a minha outra rua, a Félix Tavares de Oliveira, estava no osso. Quando chovia, era só barro e quando secava, poeira. As pessoas pulavam pras calçadas, que agora pudéramos construir, pra fugirem do atoleiro.
Naquele tempo, o que funcionava no atendimento às demandas da população era o pistolão – alguém influente, com mandato ou não, que tendo carreado muitos votos para o prefeito eleito, continuava cheio de “moral” para a eleição seguinte. Pobre de nós! No João Bedim não tinha isso. Éramos poucos moradores e os políticos nos consideravam invisíveis e nossos problemas desimportantes. Faziam promessas: muitas e cridas; mas não cumpridas.
Em 2006, sob o governo de Jair Bittencourt, num stand da prefeitura, montado numa das edições da Merco Noroeste, descobrimos num mapa que a nossa rua JÁ ERA CALÇADA. Como assim?! É! Pra todos os efeitos legais, a rua estava pavimentada. Ficamos com aquela sensação de cônjuge traído: morávamos numa rua asfaltada, todo mundo na prefeitura sabia, menos nós. Que loucura! O barro e a poeira que assomavam a casa seria fruto da imaginação?
Fato mesmo é que a rua Félix T. de Oliveira está aqui. Nuazinha. Às vezes um cabeça coroada manda dar uma patrolada nela. Deve ser porque a mãe dele não mora aqui. Sim! Pois toda vez que a máquina passa na rua é pra piorar. Se chover, vira areia movediça. Mas se não chover, intoxica. A poeira entra até por orifícios inimagináveis. Aproveito o espaço da OFF pra pedir encarecidamente que se for pra não pavimentar a rua, não queiram fazer favorzinho meia tigela. Pelo menos com a terra assentada, o pó e a lama são um pouco menos. Até ia me esquecendo de dizer que ganhamos há coisa de uns 6 anos dois bueiros, à guisa de portal, que funcionam de modo invertido: eles não captam a água pluvial. É o contrário! Quando chove, saem coisas de dentro deles para invadir a rua.
É por isso que considero a Félix Tavares um Benchmarking às avessas. Elegi a rua a RÉGUA da administração pública, o Calcanhar de Aquiles dos prefeitos. Da minha janela lateral, todo dia, quando olho pra ela “avalio” o mandatário da cidade. Faço isso desde o início do século. Comecei pelo que mentirosamente a proclamou pavimentada. Considero todos os outros, cinco ou seis prefeitos que se sucederam e a mantiveram descalçada, como coniventes e prevaricadores. O atual pode, se quiser, mudar seu destino. Pra isso, tem que ser diferente dos outros; não basta parecer.
Publicado na OFF - setembro/2017