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quarta-feira, 12 de julho de 2017

SEM REMENDOS E SEM REMÉDIOS

Como se não bastasse estarmos num mato sem cachorro aqui dentro, nossas autoridades vão buscar nos envergonhar internacionalmente. É o caso da recente visita de Temer à Rússia e à Noruega. Deve ser a primeira vez na história da diplomacia comercial brasileira que uma viagem dessas dá um prejuízo de RS 196 milhões. Esse foi o tamanho do corte (50%) da verba para o Fundo da Amazônia. O anúncio foi feito pelo ministro de Meio Ambiente da Noruega, Vidal Helgeser, na cara de Sarney Filho, depois que o magano tentou remendar dizendo que “apenas Deus poderia garantir” a redução do desmatamento. Na lógica do ministro de Temer, Deus deve ter se embirrado com os moradores de Pedrogão Grande, em Portugal, onde um incêndio florestal matou 62 pessoas e deixou 59 feridas.
Aqui na terrinha, nesses últimos tempos, mais que em outros, a imprensa vem inflando o envio de sinais trocados para a sociedade. Quem dentre nós não tem se surpreendido com notícias paradoxais entre si? À noite, os jornalísticos dizem que as “vendas do comércio varejista subiram”; na manhã seguinte “o desemprego atinge 14 milhões de brasileiros”. “Você pode acreditar. O Brasil voltou a crescer” pela manhã; a “ONU piora projeção do PIB brasileiro” à tarde. As estrelas da comunicação em seus espaços privilegiados nos jornais e telejornais apregoam, de olho na verba publicitária, que a economia brasileira está uma BELEZA de tão recuperada. Mas os desempregados, os ativos e os aposentados que vão a supermercados e farmácias estão longe de acreditar nessas “verdades de manchete”.
Por falar nisso, o governo Temer anunciou que vai fechar, sob a alegação de que é “dispendioso e pouco eficaz”, as unidades próprias do programa Farmácia Popular, que é mantido em parceria com Estados e Municípios. A crise é feia e agora não tem remédio. A distribuição gratuita, ou com descontos que vão até 90%, de fármacos para tratamento das doenças crônicas mais comuns como hipertensão e diabetes, num país que faz medicina preponderantemente curativa, vai ficar mais longe de quem mais precisa. Vamos ver como o povo irá remediar mais essa dificuldade.
Só quem não perde nessa história é a indústria farmacêutica. O Senado e a Câmara acabam de aprovar a comercialização de três inibidores de apetite proibidos na Europa e nos Estados Unidos e que a nossa Agência Nacional de Vigilância Sanitária diz que trazem risco para a saúde. Mais assustador ainda é constatar que exatamente entre os consumidores de “remédio para emagrecer” estão os que mais se automedicam. Nem sabemos o que seja pior, pois a ANVISA já declarara que “a cada 42 minutos uma pessoa é intoxicada por uso indevido de medicamentos no Brasil”. Sem contar que a Organização Mundial de Saúde diz que 50% de todos os medicamentos são prescritos, dispensados ou usados inadequadamente. É assustador!
Realmente, chama nossa atenção a forma como as pessoas se relacionam com os medicamentos. Sou do tempo em que muitas residências possuíam caixa de primeiros socorros com material para curativos simples. A de minha casa tinha ainda um pouco de bicarbonato de sódio, uma aspirina, no máximo. Hoje as caixas são de remédios. Há até porta-comprimidos. Juro que vi um de dois andares para uso pessoal. E as pessoas trocam receitas de remédios com a mesma singeleza com que ensinam o feitio de um doce ou de um bolo.
Pelas cidades, temos visto o fechamento de lojas comerciais de todo tipo. Exceto, e ao contrário, drogarias. Essas proliferam mesmo em cômodos de porta única e com uma acintosa venda ativa berrando a pleno pulmão as promoções do dia. Parece engraçado o sujeito levando mais duas ou três caixas de Cialis para aproveitar o preço. Entretanto não tem graça alguma ver o vendedor empurrando nele outra droga para combater os efeitos colaterais.
A natureza está cheinha de princípios ativos pouco explorados, por isso não creio que a pesquisa por fármacos esteja esgotada. Mas convenhamos! Parece que há mais novas doenças para se vender velhos medicamentos do que novos medicamentos para as velhas doenças. Ou seja: somos todos (im)pacientes da indústria farmacêutica.
Publicado na Estilo OFF - julho/2017 

Um comentário:

Anônimo disse...

Você tem toda razão, não vejo nenhuma farmácia falir. E nada mais absurdo do que propagar medicamentos nas calçadas equipadas, inclusive, com caixas de som!