Da série "O que os netos nos fazem fazer!"
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sexta-feira, 16 de dezembro de 2016
quarta-feira, 14 de dezembro de 2016
sexta-feira, 9 de dezembro de 2016
Talvez nem tudo esteja perdido
Todos os dias quando acordo
Não tenho mais o tempo que passou
Renato
Russo
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http://4.bp.blogspot.com/-v3bDA5kyEmU/UW8Thz9xMAI/ AAAAAAAAHCY/oiaIhyS2UOs/s1600/ponte-itaperuna-2.jpg |
Na Escola Municipal Águas Claras, testemunhei uma experiência que é o avesso da lógica patrimonialista. Lá os gestores da escola bancaram, às próprias custas, um projeto para tornar verdade o atendimento às necessidades educacionais especiais como manda a LDB em seu artigo 58. Não fossem iniciativas como essa, que educadores pelo Brasil afora têm patrocinado, a propalada inclusão seria mais uma letra morta com epitáfio vivo rondando o céu da pátria da ordem e do progresso.
Uma coisa é consignar na lei o direito, muito diferente pode ser garantir a realização da justiça. A matrícula de alunos com necessidades educativas especiais é um caso nacional emblemático. Esses discentes têm dificuldades específicas de aprendizagem e/ou limitações no desenvolvimento e no desempenho das atividades curriculares. Se tudo não for feito para que seu percurso escolar seja um sucesso, a inclusão é uma grande e aviltante mentira.
No Águas Claras, uma coalizão de forças e de propósitos reuniu as gestoras Luciene Novais e Elâine Barbosa, a professora Mariley Sarmento e a fonoaudióloga Clécia Souza. O quarteto adquiriu o protocolo CRA (Classificação para Reenquadramento de Aprendizagem) concebido pela neuroeducadora Rosana Mendes, que também acabou tendo sua atenção arrastada para esta experiência em Itaperuna. Foram reunidos os pais para conhecerem e autorizarem a participação dos filhos no projeto.
Tudo o que aconteceu dá seguramente um livro de boas práticas. No resumo, a escola vem de um patamar de reprovação no 3º ano – objeto da experiência – de 19,38% de média nos últimos 5 anos. Em 2015 chegou a reprovar 10 alunos entre 44. Já este ano é diferente! Dos 49 alunos matriculados em fevereiro apenas 3 (6,12%) ainda ficaram retidos. Essa deverá ser a melhor taxa de aprovação dos últimos anos no município. Não é um milagre! É trabalho dedicado! É convicção na possibilidade de superar dificuldades! É fé na capacidade de transformar a realidade sem se deixar vencer pela falta de recursos e pelos maus exemplos vindos do andar de cima!
Do lado de fora da escola são tempos de estupefação. A cada dia somos surpreendidos por alguma novidade que mantém em estado de ebulição o país da pós-verdade. Explico: Post-truth é o adjetivo eleito pela universidade de Oxford para ser a “palavra do ano”. No Brasil e no mundo este tempo é o da pós-verdade, porque sobram conveniências e leniências. A crença pessoal e o apelo emocionado influenciam muito mais a opinião pública do que a verdade. É cada vez mais desafiador separar a verdade da mentira, pois é crescente a indústria da boataria e a síndrome da manada.
As pessoas, sofregamente, compartilham e curtem – com emoji de palmas e outros – postagens nas redes sociais, sobretudo no facebook e nos grupos de whatsapp. Quase acredito que ganham algum bônus em dinheiro ou créditos para navegação cada vez que dão um tinindo – aquela mãozinha com o dedo polegar para cima em sinal de aprovação. A velha premissa de que uma imagem vale por mil palavras é confirmada sem parar pelos emoticons. A linguagem simbólica, segundo dizem, está sendo retomada como nos primórdios do desenvolvimento da língua quando os desenhos antecediam as palavras. Basta olhar os ideogramas pré-históricos constituintes de tantos idiomas como o grego, o egípcio, o japonês e o chinês, por exemplo. Mesmo nesses casos, a subjetividade do emissor exige compreensão do receptor. Não é à toa que tenho compartilhado um dito que é a narrativa deste século: “falta amor no mundo, mas o que falta muito mais é interpretação de texto”.
Também sobra. Sim! Sobra falta de vergonha na cara da elite dirigente do Brasil. Vejamos o caso do, agora ex, ministro Geddel. Quem compraria um apartamento, digo, um carro usado dele? Entretanto, dourado pela presidência da república e blindado com apupos por deputados do baixo clero – a base congressual de reserva –, o baiano periga ser canonizado em vida. Em contrapartida, o esforço de educadores do município de Itaperuna é “premiado” com a cassação de direitos e garantias salariais ao apagar das luzes de um governo municipal que só agora diz ao que veio.
domingo, 6 de novembro de 2016
Estão mexendo em nosso queijo
Dar crédito ao pessimismo nunca é investimento que me atrai. Ao
contrário, sou um recalcitrante otimista. Mas isso não impede que na análise do
balanço desses últimos anos tenha que reconhecer a dificuldade de se manter, ao
menos, o entusiasmo; ou pelo menos, o mesmo entusiasmo.
Lembro perfeitamente que estive na torcida pelo fim de 2015. Afinal, o
tal parecia um ano completamente disposto a não terminar. Quem tinha fé rezou
para que acabasse logo. E que próspero ano novo surgisse das bolhas vaporosas
dos espumantes de todas as cores sociais que subiam aos céus como fumaça de
incenso, para dar a isso um pouco do fervor do espírito reformista que parecia
impor-se no país. Porque, convenhamos, muito acima da linha da pobreza há uma
aristocracia que se preocupa com a qualidade dos croiassant que come enquanto
os bárbaros saqueiam seus palácios.

Todo ano deveria obedecer ao calendário civil e terminar exatamente em
31 de dezembro. Também sou a favor de uma Lei Complementar de Responsabilidade
“promessal”: tudo que se comprometeu cumpra-se a começar pelas promessas mais
recônditas que fazemos a nós mesmos no momento da queima de fogos. Falo disso
porque a passagem do ano é o momento em que cada um de nós é mais benévolo
consigo e com os outros. É quando, num rasgo de racionalidade resolvemos o
dilema pós-moderno do modelo definitivo de desenvolvimento econômico. É quando
achamos a incógnita da solucionática que equaciona a segurança da poupança e o
crescimento pelo consumo, com investimentos para a infraestrutura e o controle
inflacionário. No nosso caso brasileiro também com o dólar domesticado, pois
entre uma ida e outra a Miami é preciso garantir as vantagens da balança
comercial favorável aos made in
Tabajara. Afinal, ninguém pode deitar eternamente em commodities esplêndidas num mundo que muda sem parar.
Mas entramos finalmente! Após a década de crescimento pelo consumo com
distribuição de renda, poupança Cancún, farra do filé mignon e universidade
para todos ao tratado geral de congelamento dos gastos chamado tecnicamente PEC
241. Meu resumo é que vivemos um debate nacional sobre o social cobertor curto
e os privados interesses compridos.
Invadidos ainda por 2013 – um desses anos que dura até hoje –, vê-se que
uma parte da população exagera na dose de pessimismo proposital e a outra
metade de otimismo nefelibata. A sensação que todos experimentamos é a de
provisoriedade. Além do que, menos assombra nosso otimismo a invasão dos tempos
passados no presente do que esse cheiro de 2018 em tudo o que se faz na
política nacional. Sim, isso nos deixa a convicção de que não são os interesses
da nação que estão na ordem do dia, mas os projetos grupais de poder.
Minha mãe, quase analfabeta, não sabia que nos ensinava por axiomas.
Para todas as situações ela se socorria no senso comum. Era uma pedagogia
passada de mãe para filhos que nos fazia ver para além dos significados. Nesse
caso da PEC ruidosa, ela diria que “em casa que falta pão, todos gritam e
ninguém tem razão”. E aproveito para cunhar um aforismo: depois da incontigencialidade
sempre vem a desesperança.
Hoje amanheci pensando em Drummond. Nem tanto sobre pedras no caminho. Me
veio essa comparação que se pode fazer do Brasil com o ônibus que carregava o
passageiro recalcitrante. A gente não pode aceitar ser expulso do coletivo sem
saber exatamente o que está acontecendo. A gente não deve se conformar com um
destino que não escolhemos. É mais saudável não se fiar em que os deputados e
senadores cuidam dos interesses do povo em Brasília. Essa democracia
representativa já deu. Mais importante: É melhor não acreditar em tudo que a
grande imprensa diz, pois nesses tempo de pretensa penúria e de propalada
contenção de despesas, o governo federal continua gastando, e muito, com
publicidade para colorir a realidade e nos expulsar do ônibus sob a alegação de
que somos teimosos.
Publicado na OFF - novembro/2016
sábado, 8 de outubro de 2016
É HORA DE DESCER DO PALANQUE
No futuro, quando relatarmos como os candidatos a cargo eletivo “pediam”
o nosso voto coercitivamente – sim, porque o voto era obrigatório! – gritando,
durante o chamado período eleitoral, seu nome e número ao som de um jingle mal enjambrado de rimas previsíveis
e com autorização da justiça eleitoral para nos amolar diuturnamente, todos os
dias, não acreditarão. Esse é um resumo do que foi mais uma campanha eleitoral
local, apesar de que eu ouvira uma musiquinha que pedia a Itaperuna e região
que votasse num determinado candidato a prefeito. Aliás, nem vou comentar as
peças de marketing dos candidatos,
pois eles vêm se superando nos equívocos e no mau gosto ano a ano. Falta
criatividade e sobra mesmice.
Num quesito essas eleições apresentaram inovação e quebra da tradição.
Os candidatos desta feita esconderam seus padrinhos políticos da planície à
colina. E por mais que entre as candidaturas que polarizaram se tenha buscado
colar uns nos outros a imagem dos respectivos caciques, não colou. Teve
candidatura gravando em Brasília vídeo apelativo: investimento inútil.
Dei-me ao luxo de ler “Proposta de Governo” (http://prefeito2016.com/candidatos-a-prefeito-2016/itaperuna-rj/) – feita para que ninguém leia; se ler, não entenda; se entender, faça
cara de paisagem. O plano de governo é requisito para o registro da
candidatura, mas não há previsão legal sobre o não cumprimento dessas promessas
escritas pelas candidaturas a prefeito e vice. Teriam o condão de gerar, ao
menos, uma pena moral. Mas quem está preocupado com isso?!
Biri-biribá, paremos de brincar! É hora de descer do palanque. A campanha
acabou; o prefeito eleito já pode jogar fora sua Proposta de Governo e adotar
um projeto real e possível que está mais ou menos desenhado no plano apresentado
pelo candidato da REDE Theigo Ladeira. Ou continuar fingindo que fará política
pública: formando, ao velho jeito, a maioria na câmara de vereadores; maquiando
programas federais e estaduais mal implementados no município; lidando com o
orçamento como se fosse uma peleja; fazendo um favorzinho aqui, ali, acolá e
alhures; cumprindo compromissos com os financiadores e apoiadores da
candidatura (o tal do clientelismo); vingando-se de uns opositores; e cuidando
de não quebrar o establishment a fim de manter a ordem social. Isto é:
renovando tudo; a fim de que nada mude e nem deixe de ser o que sempre foi.

Fiz um estudo muito breve da situação das escolas municipais de
Itaperuna. Acredito que a SEMED também tenha se debruçado sobre os resultados.
Quero apenas colaborar com mais um olhar.
Nossos aluninhos dos ANOS INICIAIS têm respondido bem aos esforços de
professores e gestores. Das 15 unidades escolares que fizeram a Prova Brasil,
100% melhoraram ou mantiveram os resultados. Aliás, 1/4 das escolas bateram a meta: EM CIEP BRIZOLÃO
467 HENRIETT AMADO; EM CÓRREGO DA CHICA; EM OSCAR JERÔNIMO DA SILVA e EM SÍTIO
SÃO BENEDITO.
Já nos ANOS FINAIS a situação é de atenção. Das 6 escolas cujos 9º anos
fizeram a Prova, apenas 50% melhoraram os resultados e 1/3 atingiram a meta.
Parabéns! EM ÁGUAS CLARAS e EM CIEP BRIZOLÃO 467 HENRIETT AMADO que, diga-se,
sempre alcançaram os objetivos deste nível de ensino.
O espaço está acabando, mas preciso dizer ainda mais duas coisas:
1- Quanto aos ANOS FINAIS deste Ideb: as escolas da rede estadual de
Itaperuna atingiram a meta de 5,0. Mas as municipais, que tinham meta de
5,7, somente chegaram até 4,8; e
2- Chama atenção a taxa de sucesso das escolas que funcionam com apenas um
ciclo de ensino. Todas as que oferecem apenas os ANOS INICIAIS melhoraram.
Algumas pesquisam apontam que as escolas de segmento único têm
rendimento até 22% superior às demais. Além disso, países de referência em
educação como Coreia do Sul, Cingapura, Alemanha e Inglaterra adotam o modelo
de unidades com ciclo único. Aqui no Brasil todos sabem que as escolas com duas
ou três etapas e turnos têm apenas o significado de gastar menos em
infraestrutura, equipamento e gestão. Já que os candidatos a prefeito falaram
durante a campanha em educação de período integral, o que se elegeu poderia
começar por especializar as escolas e profissionalizar sua gestão por segmento.
Não é nada não é nada, é um bom começo; mostra que de fato a intenção é mudar
para melhor.
PUBLICADO NA OFF-OUTUBRO/2016
quinta-feira, 29 de setembro de 2016
OS PREFEITÁVEIS DE ITAPERUNA
Com base nas informações do TRE-RJ disponíveis no sítio http://prefeito2016.com/candidatos-a-prefeito-2016/itaperuna-rj/ fizemos uma síntese para facilitar a leitura dos itaperunenses sobre os candidatos que se habilitam a governar o município.
ORDEM DE CHAMADA DE A a Z
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domingo, 11 de setembro de 2016
Colaborando com a OBMEP

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Fiscais aplicadores e volantes |
Foi uma tarde de trabalho e de emoção também.

Os jovens chegando e parentes desejando boa prova são momentos mágicos em que pensamos na importância e na responsabilidade do nosso papel.
Momento "carrasco" em que temos de avisar que o tempo de prova está acabando.
E no final, hora da tietagem!
Foto com a Maria Luiza Rodrigues Defante - Menção Honrosa na OBMEP 2014
Selfies com Rebeca Roza Fontoura - Medalha de Prata na OBMEP 2015.

E para encerrar, também 2 fotos com Lucy Mª Degli Desposti Pereira - Medalha de Ouro em 2013, Prata em 2014, e, novamente, Ouro em 2015.
PORQUE VALE A PENA PARTICIPAR!
Agradecimentos especiais à direção, professores e apoios do C. E. Euclides Feliciano Tardin.
quarta-feira, 7 de setembro de 2016
É preciso abaixar o fogo
As crianças de minha geração e classe social executavam trabalhos
domésticos como, por exemplo, “fazer a cama”. Isto significava: dobrar o
cobertor; esticar o lençol e forrar a cama com a colcha; guardar o travesseiro
e o pijama antes de lavar o rosto; escovar os dentes e sentar-se à mesa para o
café da manhã.
No correr do dia, antes ou depois de ir à escola, havia outras tarefas. Aliás,
minha mãe dizia: _trabalho de menino é pouco, mas quem dispensa é louco. Lá em
casa, cada um de nós, por seu turno, vigiara o leite ferver. Algumas vezes no
grande fogão a lenha; outras, amiúde, no fogão a gás. Existia uma panela alta
onde o leite era posto a ferver e tínhamos de mexê-lo com uma escumadeira para
que não criasse raspa no fundo. Inevitavelmente, em algum momento, o leite
levantava fervura e prontamente girávamos o botão do queimador para que não
entornasse – o que representaria sujeira e prejuízo. Era ainda o tempo da vida
sólida, conforme ensina Zygmunt Bauman.
Hoje uma enorme quantidade de sujeira é produzida a fim de que possamos
tomar um copo de leite pasteurizado, e batizado com uns não-sei-quantos-aditivos.
Sem contar os químicos na alimentação da vaca que já não vive só de comer capim.
De todo modo, a sujeira não forma mais binômio com prejuízo. Tornamo-nos
SUJISMUNDOS para que o serviço de coleta de lixo chegasse a ser a mais notável
indústria movida pelo consumo e lucro. Não há crise na indústria da remoção do
lixo. Desde os contratos sob suspeição até a criminosa condição insalubre de
trabalho diuturno dos garis, passando pelas subcontratações e termos aditivos duvidosos,
a coleta e destinação do lixo é o antro onde germina a corrupção com desvio dos
recursos públicos pelo incesto com a iniciativa livre. Nesse caso, melhor é o
adjetivo privada, que serve também para qualificar este tempo da “Vida
Líquida”.
O ponto central é a reflexão sobre a produção do lixo. Não é bem o “onde
vamos colocar tanto lixo?”; mas se podemos adotar uma atitude para não produzi-lo
com essa voracidade crescente. Porque estamos vendo a “fervura levantar” faz
tempo.
O mercado consegue, ano a ano encurtar a distância entre a loja e a
lixeira fazendo com que esse processo ocorra o mais velozmente possível.
Estamos aceitando, sem arrependimentos, a curta duração dos bens de consumo. Em
conformidade com os ditames do mercado, temos prontidão em nos livrar das coisas
que duram mais do que 1 ou 2 anos. Isso vale para relacionamento amoroso,
aparelho de celular, perfil no facebook, ritmo musical ou projeto de formação
acadêmica. Chegamos à sociedade do consumo sem mártires ou heróis. Vige o tempo
breve da celebridade – palavra de origem latina, mas que não se confunde com cerebrum.
No início do século, a Rita Lee cunhou uma letra líquida, gastronômica, para
consumo instantâneo. O refrão diz assim: Um dia depois / Não me vire as costas
/ Salvemos nós dois / Tudo vira bosta.... As fezes, como se sabe, são o lixo
mais original desde sempre. É o mais reciclável, pois de 80% a 90% é água. Diferentemente
de tudo o que metaforiza explicitamente, como o “programa do partido, o herói,
o dedo duro, a apólice de seguro, o passado e o futuro, a prostituta e o
deputado, a virtude e o pecado”, a merda é uma imposição fisiológica, natural e
legítima.
Toda a elaboração dos outros lixos poderia ser minimizada não houvesse o
incentivo ao consumo compulsivo, que a indústria do descartável pôs na linha de
produção planetária.
Tudo isso ferve num fogão à lenha. E não tem botão de DESLIGA. Ao
contrário. Quando a elite toma de volta as rédeas da nação, e impõe um governo
cuja marca paira ameaçadora como o império da “ordem” e do “progresso”, parece
que tudo vai passar, menos as dores e a corrupção. A “ordem” produz lixo
humano, que, nessa lógica, são todos os que estão fora do mercado, e não
conseguem consumir. O “progresso” do capital, quer pela exacerbação produtiva,
quer pelo rentismo, não pode ser alcançado sem produção de lixo, inclusive
industrial. O “progresso” depende de “coletores de lixo” cujas vidas físicas
são apenas mantidas, pois alguém tem que catar e dar destinação ao refugo.
Haverá quem diga que as crianças de antigamente eram exploradas por seus
pais, obrigadas a produzir muitos trabalhos como a varrição da casa e quintal,
torração dos grãos de café, alimentação dos animais de criação etc. Eu vivi aquele
tempo sem me sentir abusado ou alienado a respeito da produtividade que a
família esperava de mim. Mas, o processo civilizatório “resgatou”, como numa
nova abolição, os menores do trabalho. Tirou as crianças da produção para
inseri-las na roda do consumo. E, desde cedo, os jovens são convencidos a não
se apegarem muito às coisas. A respeitarem a transitoriedade necessária da
existência delas. A admitirem que o mercado não existe sem o nosso profundo
desapego. A obedecerem aos impulsos de consumo.
Publicado na Estilo OFF - setembro/2016
quinta-feira, 18 de agosto de 2016
domingo, 7 de agosto de 2016
Sem sustos, esperemos!

Há pessoas que somente cuidam excepcionalmente da casa quando vão receber visita. Casos assim, nem sempre se tratam de uma agenda de última hora. Acho que uma ocasião dessas serviu para cunhar o dito popular “varrer pra debaixo do tapete”. Tenho uma estória de família que contamos repetidas vezes nas rodas de riso e prosa. É de uma parenta distante que estava pra receber o pretendente – era como chamavam o rapaz que tinha intenção de namoro. Naqueles idos do século passado, todo namoro guardava um potencial de matrimônio. Manuela, querendo causar boa impressão, arrumou toda a casa e, ao final, já cansada tinha a última etapa da faxina a fazer na cozinha, já que nos outros cômodos, alguma sujeira tinha ido parar debaixo do tapete. É bom que o leitor mais jovem saiba que, naquele tempo em que se amarrava cachorro com linguiça, a cozinha era um dos espaços mais importantes das residências. Então, muito ansiosa e cada vez mais apressada, nossa já nem tão jovem moça resolveu arear as panelas somente de um lado – o que ficaria exposto quando arranjadas nas prateleiras de alto a baixo dos paneleiros. E assim fez.
Uma irmã traquina, enquanto Manuela se banhava e aprontava para a chegada do rapaz, resolveu se vingar de alguma amargura pretérita e, indo à cozinha, trocou o lado de todas as panelas fazendo com que o que era polido e brilhante ficasse fosco e feio. No auge dos salamaleques, a futura noiva apresentava a casa ao moço e se auto elogiava até que chegando à cozinha seu mundo desabou: _Era um pretume só, gente! ela contava, com alguma amargura, tempos depois em que continuava solteirona.Não tenho complexo de vira lata. Mas reconhecendo essa “emergência” da síndrome de Ricúpero – “O que é bom a gente mostra; o que é ruim, esconde.” – fico me perguntando quantas desculpas mais teremos de pedir ao mundo e informar que “É natural que haja ajustes a fazer.” (Eduardo Paes) em todas as obras dos Jogos. Não deveria ser preciso colocar cangurus, alces, suçuaranas e antílopes para que australianos, suecos, argentinos, quenianos e outros “se sentissem em casa”. Muito mais civilizado seria se as obras de infraestrutura estivessem concluídas, uma vez que o Rio fora escolhido para sediar a XXXI Olimpíada há quase oito anos.
Não é simplesmente deixar para a última hora, e mesmo assim – ou por isso mesmo – se atrasar. É mais. É fazer mal feito. O leque de motivos é muito mais amplo do que o utilizado pela parenta. Aqui tem a corrupção, tem a incompetência técnica, tem a proposital escolha de materiais mais baratos, tem a indolência, e, em tudo, tem a falta de respeito, sobretudo pelo que é público. Aliás, cá pra nós, que os estrangeiros não nos ouçam: como pode um dos legados da Olimpíada do Rio ser o mistério das vigas perdidas (há quase 3 anos) da perimetral? Parece ficção que o furto de 7 vigas de uma combinação especial de metais, somando mais de 200 metros, tenha, além de tudo, sumido também dos noticiários como que escondido debaixo do tapete. E nem se pode dizer que as autoridades responsáveis pela apuração do caso não tenham vergonha na cara, pois isso parece coisa tão bem distribuída no seio da sociedade que, nunca se ouviu alguém reclamar de que tivesse pouca.
Por poucas, mas acertadas, razões, torço para que estejamos tendo uma bela Olimpíada. Detestar saia justa – ao contrário do prefeito do Rio – é um dos motivos que me movem a desejar que tudo esteja bem. Receber mal em minha casa os convidados é outro.Nem sei quantos brasileiros comungam de um sentimento de temeridade frente à realização dos Jogos, mas preciso dizer que me sinto meio Manuela. Tomo pelos braços, amistosamente, milhares de pessoas do mundo inteiro e desfilo impávido e solícito pela casa mesmo sabendo de quase tudo que foi empurrado para debaixo do tapete.
Publicado na Estilo OFF - agosto/2016
sábado, 9 de julho de 2016
Olha o voto! Quem dá mais?!
Deve haver dois ou mais motivos para que as eleições municipais estejam
tão mornas em pleno julho. É um
paradoxo que, num país onde a população tem saído ininterruptamente às ruas nos
últimos 3 anos em manifestações políticas dos mais variados matizes, se veja
agora este marasmo quanto às próximas eleições municipais, logo elas que são as
mais próximas do povo. Será que a realidade da política nacional jogou nas
cordas o sistema político brasileiro afastando de vez o povo do processo
eleitoral? É uma possibilidade.
Certo mesmo é que a justiça eleitoral
mexeu no calendário das eleições de modo que as campanhas ficaram mais próximas do fim. Para isso, entre outras medidas, reduziu de 90
para 45 dias o prazo legal de campanha e criou mais dois canais para denúncia
de malfeitos: uma página do facebook
(https://www.facebook.com/trerj) e o número (21) 995335678 de whatsApp.
O tribunal eleitoral está de olho, principalmente, nas propagandas antecipadas
(antes de 16 de agosto) e no abuso do poder econômico.
Uma razão concreta para o desânimo dos políticos é a posição do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE) que tenta banir de vez o financiamento empresarial das
campanhas. Isso tem sido o pesadelo de várias candidaturas, sobretudo as que
tradicionalmente se organizam por grupos de poder econômico país afora.
Em Itaperuna, conhecer um pouco da história eleitoral do município pode
ajudar a antecipar o que está por vir. Não precisa muita experiência na
análise, pois em nosso município os resultados eleitorais não surpreendem.
Costumo dizer que aqui, o grupo de poder é único, mesmo não sendo totalmente
hegemônico. Nenhum candidato a prefeito, até hoje, se elegeu fora do reich.

Em 2012, o candidato eleito – Alfredão – teve 56,9% de sua campanha
financiada por empresas direta e indiretamente. É curioso que entre os
candidatos que chegaram quase empatados respectivamente em 2º – Paulada – e em
3º – Dr. Roninho – somente esse teve financiamento empresarial da ordem de
32,4%.
Já o vencedor das eleições de 2008 – Claudão – não teve um único tostão
dos empresários da cidade. O segundo colocado – Daruís – foi ajudado em 67,2%
de suas despesas por empresas. Aliás, este foi o ano em que saiu derrotada,
pela primeira e única vez a candidatura que investiu mais e apresentou a maior
despesa de campanha. Explicação: venceu a memória afetiva do povo. Uma
excepcionalidade que sempre escapa às pesquisas de opinião!
Nas eleições de 2004, a campanha mais cara – Jair Bittencourt –, que
teve 67,2% de financiamento empresarial, é que saiu vitoriosa tendo gastado o
dobro da despesa do segundo colocado.
Desde quando nesse país o voto se tornou obrigatório, é que se
“institucionalizou” sua compra e venda. Pode parecer um exagero, mas sempre
digo que, salvo poucas e honrosas exceções, os mandatos neste país são comprados.
Isto é, o preço do voto é o novo cabresto. Não é gratuitamente que se aculturou
o povo de que a democracia – que pretensamente é o regime da civilitude –
somente se legitima pelo voto. E o voto se tornou solução dos dissensos. Por
meio do voto tudo se resolve: desde a escolha da cor do piso da sala até se se
mantém um país na União Europeia ou não, passando agora pelo voto para diretor
de escola estadual há pouco aprovado na ALERJ.
Só pra lembrar: de ordinário, nas eleições municipais, quem gasta mais
dinheiro é eleito prefeito, vereador, o diabo a quatro. Tendo por base as
eleições de 2012, aviso aos candidatos a prefeito que o voto aqui custou R$
8,98. Quem pagou R$ 13,80 virou prefeito de Itaperuna.
Publicado na OFF - julho/2016
quarta-feira, 8 de junho de 2016
O juízo, afinal!
Definitivamente, a palavra delação entrou no vocabulário do povo
brasileiro e, ao que parece, promete vida longa.

Quanta diferença da delação! Essa confissão moderna e premiada que
aponta apenas os erros e infrações dos outros. O prêmio não é apenas ver o
algoz em maus lençóis. Serve para diminuir ou aliviar de vez a pena de quem
desnuda o crime contra quem o quer esconder. Ou seja: ao dedo duro, os louros e
a amnésia social.
Principalmente quando se trata da formação de bando, quadrilha ou rede,
que tem sido o modus operandi tão
facilitado pelas novas tecnologias, o instituto da delação premiada (elevado a
essa categoria somente na década de 1990), segundo se diz, tem servido à
justiça brasileira no desvendamento de crimes, principalmente, contra o erário
por parte de agentes políticos e de governos. Não há um único dia, desde o
início da chamada Operação Lava Jato, sem que sejamos informados sobre trechos
de delações e também de grampos telefônicos, ilegais ou não, de atores do jet-set nacional.A esse respeito, quando se misturam confissão, delação e espionagem, digo, investigação, é que se descobre que isso é o TODO do sistema de apuração de crimes. E talvez seja este o ponto nevrálgico: a tênue linha divisória entre investigação e espionagem.
No plano internacional, por exemplo, os EUA alegam que as revelações de Edward
Snowden não são sobre espionagem contra governos e grandes corporações, mas
monitoramento investigativo. Ou melhor: um programa de vigilância a favor da
paz mundial. Como diria Confúcio: arranjem a crença, que eu lhes arranjo os
crentes.
Já na Itália, dá-se conta de que as delações prosperaram tanto que sua
influência inspira a Justiça mundo afora. Em troca do perdão judicial, o
“arrependido” Buscetta (o Tommaso) dedurou deus-e-o-mundo da Cosa Nostra. Não digo MÁFIA, pois, aqui,
são tantas e indistintas que o leitor não iria saber se falava sobre a do ISS
paulista, a da merenda escolar, do trabalho escravo, do tráfico de drogas, dos
planos de saúde, de mulheres, de influência, da BRANCA etc. “Deus sabe a força
de um adjetivo, principalmente em países novos e cálidos”, diria o machadiano
Brás Cubas.
No Brasil, a Justiça já tirou, nem sei quantas vezes, o Whatsapp do ar, já determinou prisão do
vice-presidente do Facebook, mas não
consegue colaboração numa simples investigação de tráfico de drogas. Nesse
campo, parece que as delações recompensadas não prosperam.
Agente secreto, investigador, intercepção telefônica, espionagem,
criptografia, gravação de áudio e/ou vídeo tudo isso me remetia especialmente à
ficção da minha juventude nos anos 70/80, tempo de ler e ver Sherlock, 007,
Mata Hari, Dick Tracy, o brasileiríssimo Ed Mort, Virginia Hall, Rabugento.
Pensei que tudo isso tivesse ficado para trás, naquele tempo em que o máximo de
indiscrição era feita por uma janela, às vezes com um binóculo. As delações
mais os áudios gravados às escondidas, sendo seletivamente postos na imprensa a
cada dia, ainda evocam as estórias de Agatha Christie.
Daí é que me vem nascendo uma preocupação com esses tempos de diga-me o
que postas, curtes e compartilhas que eu dir-te-ei quem és: o registro
indelével da memória guardado pelo serviço de espionagem e invasão de
privacidade da vida alheia em algum super HD planetário. Para simplificar,
sendo itaperunense, chamo de ITC, Inventário de Todas as Coisas. Quando essa
teoria superar meu provincianismo, vou batizar de CT, o Cadastro de Tudo. Não
quero assustar você, mas ele já existe. Os escatologistas dizem que no grande
último dia, essas coisas que fizemos, falamos, escutamos, escrevemos,
compartilhamos, curtimos com KKKK e
pelas quais batemos palmas irão, uma a uma, aparecerem num grande telão para
todos verem.
Por isso, faz tempo que tenho tido um estranho desejo de também fazer
uma delação premiada.
Publicado na OFF - junho/2016
quinta-feira, 5 de maio de 2016
Entre o antagonismo e o protagonismo juvenis
A partir de certa idade, precisamos fazer como João e Maria: ir deixando
marcas pelo caminho a fim de facilitar a volta, torcendo para que passarinhos
não sacaneiem.
Traço mapas mentais no intuito de manter o fio da meada. Para a
cafeteira não ficar funcionando o dia todo, deixo uma xícara limpa solta na
bancada. Ao sair, vejo-a! Lembro que a cafeteira está ligada. Tomo o último cafezinho
antes de apertar off. A xícara é o link com o meu paiol de lembranças. Minha
memória RAM, a que organiza todo o saber, não está 100%. É a envelhescência! Tudo
fica mais devagar.
Na juventude é o contrário. O jovem tem uma memória organizativa enorme.
Está sempre de prontidão. É voluntarioso!
Imaginemos que haja dois tipos de memória: de curto prazo e de longo
prazo. Gosto de compreender isso como uma mesa de estudos. Nela está o
necessário para realizar um trabalho: livros, papéis, canetas, lápis, borracha.
A mesa é a memória de curto prazo ou provisória. Quanto maior, mais materiais
podemos colocar sobre ela. Cada um dos materiais é a memória de longo prazo com
toda informação que se vai acumulando pela vida.
O tipo de memória predominante faz a diferença entre jovens e adultos. Também
a qualidade dos processos de adquirir, armazenar e recuperar.
Os mais velhos têm um HD grande com muitas informações de cada assunto.
Em contrapartida, a “mesa de trabalho” é pequena e a pesquisa lenta. Já os
adolescentes têm espaço na mesa para vários HDs cheios de itens variados; entretanto,
o conhecimento de cada assunto é raso, com pouca informação acumulada.
Esse introito desmedido é para conversar sobre o movimento de OCUPAÇÃO
das escolas da rede estadual do Rio de Janeiro. Também para dizer que à vista
das diferentes formas de constituir e utilizar suas lembranças, adultos e
jovens fazem profícua parceria quando seus interesses se afinam. Para o bem ou
para o mal.
Neste dia de São Jorge, o número que aparece na mídia é de 72 escolas
ocupadas em apoio à greve dos professores. Juntaram aí as memórias.
Vejo as notícias dos estudantes “ocupados” dentro das escolas – pelo
menos as imagens liberadas. Observa-se uma superorganização dos meninos e
meninas na partilha e execução de tarefas, no cuidado com a infraestrutura predial,
no zelo pela limpeza, na segurança, na alimentação. Penso que as escolas
ocupadas estão em melhores mãos que as outras cujos gestores insistem em fazer
funcionar com infraestrutura ruim; precário serviço terceirizado; sem porteiros;
com quadro incompleto de professores, pois há uma greve.
Nas ocupações, quanta diferença! Os estudantes, parece, agora, estão
completamente apaixonados pela escola. Nenhum deles está pensando em ano
letivo. Se há terceiroanistas, não reclamam a falta de habilidades e
competências para pontuarem bem no ENEM, cujas inscrições começam em 9 de maio.
As reinvindicações não são surreais frente ao aperto econômico do
governo. Afinal, as ocupações são um sucesso! Recebem visitas de autoridades
jurídicas, apoio de alguns pais, e, claro, do sindicato dos profissionais da
educação, afinal: “tamo junto”!
Mesmo não havendo diálogo com os “ocupados” e seus apoiadores, talvez o
Estado não devesse ir à luta por reintegração de posse. As ocupações são um fim
em si mesmas e barateiam os gastos com as despesas correntes. Esperemos que os articuladores
intelectuais e financeiros das invasões botem a cara para fora e granjeiem o
bônus e o ônus político do movimento. E, quando quiserem, saiam pacificamente
cansados ou desentendidos.
A sociedade tem sua própria mobilização. E não é passiva e nem considera
tudo natural. Os responsáveis têm buscado transferir os filhos para colégios
onde não haja greve. Do mesmo modo, a SEEDUC tem que oportunizar isso aos
alunos que precisam garantir o ano letivo. Se a judicialização do imbróglio dá
ganho de causa a quem constrange o direito de estudar, a saída é procurar outra
escola. Lembro que a educação básica é um direito público subjetivo. Não está
descartada a matrícula do aluno numa escola particular às expensas do Estado.
Além disso, há os que ensaiam um contramovimento que se divide em duas frentes:
“NÃO OCUPA” e “DESOCUPA JÁ”.
O jovem de todos os tempos sempre protagonizou ações que pareciam antecipar
o fim do mundo para os mais velhos. É uma marca juvenil essa capacidade de produzir
o insólito. Primeiro a adesão; depois, às vezes, a justificação. Ficamos na
torcida para que esta juventude não seja apenas a “banda numa propaganda de
refrigerante”.
Sócrates (470-399 a.C.) dava
conta do uso diferenciado da memória entre os jovens e os adultos. Explicava
que essa memória estendida de curto prazo podia levar a comportamentos que ele
traduzia como amor ao luxo, má educação, desprezo pela autoridade, falta de
compreensão para com os mais velhos, gosto pela tirania e por aí vai. Isso,
claro, é uma generalização. Não o é, entretanto, dizer que os alunos das
escolas ocupadas as querem de volta, pois não podem perder o ano à toa.
Entre
o antagonismo e o protagonismo juvenis, cabe nos acostumar a esta agenda do
século XXI.
Publicado na OFF-maio/2016
quinta-feira, 7 de abril de 2016
Tem um chafariz no meio do caminho
Muito da história político-administrativa de
Itaperuna pode ser contada na súmula feita em camadas que é a avenida Cardoso
Moreira. Pouca gente jovem sabe, mas há uma via central e um leito de estrada
férrea inteiros soterrados pela alameda que hoje, apesar de malcuidada, enfeita
o centro da cidade e ameniza, com seu correio duplo de árvores e arbustos, o
sol cáustico que paira sobre nós.
![]() |
http://www.estacoesferroviarias.com.br/efl_ramais_2/itaperuna.htm |
A avenida, até o final da década de 1970, era um
elogio rendido às máquinas automotivas, poucas, mas impávidas, que serpenteavam
incólumes pelas três largas pistas. Seus privilegiados proprietários criam no
fim do transporte férreo para que a cidade “fosse limpa” dos trilhos que a
“enfeavam” e davam-lhe um ar provinciano de atraso tecnológico. A Estrada de
Ferro Leopoldina – orgulho desenvolvimentista –, inaugurada em
1881, é desativada em 1977 por motivos subterrâneos cuja explicação merecem
outra oportunidade.
No futuro, o sítio arqueológico de Itaperuna irá
contar uma história interessante de como foram os governos municipais de nossa
cidade a partir do final da ditadura militar. O corte neste período é em
respeito aos leitores contumazes desta página da OFF que não poderão se
recordar de tempos mais distantes em que ainda não eram nascidos. Além do que,
somente a partir da Constituição de 1988 é que os municípios ganham o poder de se
auto-organizar. Antes, até para arranjar um paralelepípedo da rua era preciso a
autorização do governador biônico do Estado.
Vê-se de estalo que o prefeito Claudão (1º mandato
- 1983 a 1988), ainda que apenas
no final do governo, inaugura na administração do município essa, diríamos,
vantagem competitiva: melhora a arrecadação do tesouro da cidade a partir da
autonomia fiscal trazida pela redemocratização do país e os ventos
constitucionais. Por esse tempo, forja-se talvez uma camada definitiva que é a
construção do canteiro central da Cardoso Moreira, projeto arquitetônico do
CREA, do qual nos orgulhamos, sobretudo porque criou um marco fundamental na
disputa pela ocupação do solo urbano. Mesmo com os erros que o desenho do
canteiro ainda apresenta, como é o caso da descontinuidade do calçadão para
preservação dos cortes das ruas transversais, é como se a cidadania pedestre
marcasse seu gol de placa contra a invasão dos automóveis ensandecidos.
De lá para cá, nenhuma evolução. Somente as árvores
fizeram seu papel de crescerem fortes para sombrear de ponta a ponta a artéria
fundamental da cidade. Além da iluminação de gosto duvidoso e outras
maquiagens, em 32 anos, o calçadão não recebeu a propalada ciclovia e nem o
estacionamento rotativo. Mas em compensação, ganhou um emblema: um chafariz que
é verdadeiro artefato arqueológico a céu aberto.
O símbolo em homenagem ao ex-vereador Hermes Leite
era para ser uma instalação sensitiva com ênfase na visão e na audição. Contudo
tornou-se marco da disputa mesquinha da política brasileira que tem por mote
deixar inacabadas as obras dos opositores. Quando dão continuidade ou reformam,
tentam se apropriar da autoria com o fito de apagar da memória popular o benfeitor.
Fingir que não estava vendo um chafariz agonizando no meio do caminho foi a atitude pouco republicana do prefeito Péricles em seus dois seguidos mandatos de 1997 a 2004, mesmo podendo pedir música no Fantástico. Mudou a estratégia, em 2005, o então prefeito Jair Bittencourt. Viu que tinha um chafariz no meio do caminho. “Revitalizou-o” diminuindo seu tamanho original sem calcular a pressão d’água nas serpentinas. Desse modo, no dia da “inauguração” o chafariz, que tinha ficado mais feio, se vingou molhando parte dos convidados e autoridades.
Fingir que não estava vendo um chafariz agonizando no meio do caminho foi a atitude pouco republicana do prefeito Péricles em seus dois seguidos mandatos de 1997 a 2004, mesmo podendo pedir música no Fantástico. Mudou a estratégia, em 2005, o então prefeito Jair Bittencourt. Viu que tinha um chafariz no meio do caminho. “Revitalizou-o” diminuindo seu tamanho original sem calcular a pressão d’água nas serpentinas. Desse modo, no dia da “inauguração” o chafariz, que tinha ficado mais feio, se vingou molhando parte dos convidados e autoridades.
http://www.paulorobertonews.com/2014/12/sera-que-teremos-chafariz-novamente-em.html |
O chafariz tem estórias suficientes para um romance
russo, cheio de nomes, personagens e tramas. É um túmulo aberto diante do qual
parece que os governantes preferem apertar o botão de DANE-SE.
Publicado na OFF - abril/2016
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