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domingo, 7 de junho de 2015

A Educação de que precisamos



Este é o ano da 6ª edição do SAEB, que é o conjunto de testes padronizados – Prova Brasil e ANEB – que revela o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) das escolas e das redes de educação do país. Em 2005, na criação do exame, o índice foi de 3,8. Partimos desse patamar para o desafio de alcançar a nota 6,0, que é a média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE – (se você não ouviu falar dela não tem muita importância) em 2022, quando comemoraremos o bicentenário da Independência.
Hoje a sociedade nacional, como um todo, fala do IDEB com alguma familiaridade. Muitas vezes, não tendo a compreensão técnica do assunto, o povo emite uma opinião pautada no bom senso. É comum ouvirmos de pessoas simples que se uma escola, uma rede ou um país não atinge uma meta preestabelecida para a sua educação básica a coisa não tá coisando bem. Traduzindo: se isso se refere à Educação então não se está dando conta de preparar nossas crianças, jovens e adultos para o exercício da cidadania, para o trabalho e para a continuidade dos estudos.
Para se compreender minimamente a lógica do IDEB é necessário pensar o percurso educacional básico brasileiro em três etapas: os anos iniciais do ensino fundamental, os anos finais e o ensino médio. São os resultados da aprovação, reprovação e abandono de todos os alunos matriculados nos anos/séries mais a nota alcançada nos testes padronizados que irão estabelecer o quanto esses alunos estão aprendendo e quanto tempo levam para cumprir cada etapa.
Nos anos iniciais, onde estudam os pequenininhos (1º ao 5º ano), a educação brasileira, na média, está de vento em popa. Nossa meta em 2013 era de 4,9 e nossas escolas públicas chegaram lá. O IDEB foi de 5,2 contando com todas as redes, inclusive a privada. Atingimos em 2013 a meta projetada para 2015. Aqui estamos com o boi na sombra. Menos em Itaperuna, que andou pra trás. Por aqui, atingimos as metas em 2007 e 2009, depois disso, tchau! Em 2013 nossa meta era de 5,7 e somente conseguimos 4,9. Mérito para as escolas municipais Sítio São Benedito e Ver. Elzo Galvão da França, que fizeram o dever de casa. Agora em 2015 precisamos chegar a 5,9. Façam suas apostas!
Nos anos finais, a porca começou a torcer o rabo. O Brasil precisava chegar a 4,4 em 2013, mas não passamos de 4,2. Ficamos muito próximos. Um pequeno esforço pode nos colocar novamente nos trilhos da qualidade e da equidade educacionais nesta etapa. Mas é bom lembrar que a meta para 2015 é de 4,7. Na pedra preta, a E. M Águas Claras e a E. M. Ciep Brizolão 467 – Henriett Amado, cumpriram suas metas; mas o conjunto da obra tem sido triste. Todas juntas, as escolas municipais nunca alcançaram a meta. Em 2013 era de 5,4 ficaram com 4,5. Agora precisam chegar a 5,7. Só Jesus na causa.
O grande desafio é o ensino médio. Pro leitor ter uma imagem do tamanho da encrenca que é a etapa final da educação básica, vou desenhar o quadro (quadradinhos escurecidos é quando se atingiu a meta).

Veja que no último IDEB a meta não foi alcançada pelas escolas públicas (quebrando uma sequência) e nem pelas instituições particulares. Pelo andar da carruagem, se nada estiver sendo feito, o ensino médio do Brasil, que foi reprovado em 2013, tomará pau novamente em 2015.
Olhando para tudo isso, o que eu e as torcidas do Corinthians e do Flamengo ficamos pensando é que quanto mais anos as crianças ficam na escola, mais longe estão de alcançar as metas da educação básica. Ou então precisamos discutir o que se está fazendo com elas nas nossas escolas; os currículos, as metodologias; o clima organizacional; a formação inicial e continuada de professores e de gestores; o salário dos profissionais; o 1/3 para hora de planejamento; e otras cositas más.
Olhando para o que acontece nos países em que a educação escolar tem sido mais efetiva o que vemos são escolas onde as crianças passam pelo menos 7 horas. Já tivemos aqui no estado do Rio de Janeiro uma experiência importante que foram os Centros Integrados de Educação Pública – CIEPs – criados por Brizola e Darcy Ribeiro. Aliás, neste 8 de maio, fez 30 anos da inauguração do CIEP 001 – Presidente Tancredo Neves.
Não tenho dúvidas em afirmar que a educação brasileira perdeu seu grande e definitivo projeto de escola quando os governos de Moreira Franco e Marcelo Alencar (com a ajuda da rede Globo) sepultaram o projeto de educação integral que tinha nos CIEPs sua câmara embrionária. Os prédios, claro, continuaram existindo, porque explodi-los seria mais difícil de explicar pra sociedade.
Hoje, finalmente, é corrente no Brasil a ideia de que a única alternativa educacional capaz de responder à pretensão do país de alcançar o patamar dos países da OCDE é a educação em tempo integral. Mesmo assim, entre os que fazem disso uma bandeira, é preciso separar os crentes numa solução social para tirar as crianças da rua e da violência daqueles que, como eu, só acreditam na escola integral como espaço de formação humana, de valorização e aprendizagem de competências socioemocionais, fulcro da educação do século XXI.
Como educador nestes tempos, tenho a pretensão, agora que universalizamos a matrícula, que estamos mantendo a frequência dos nossos alunos, de buscar uma educação de qualidade e equânime. Somente assim, em algumas décadas, poderemos comemorar uma escola que estabeleça um justo grid de largada para todos os brasileiros. Uma sociedade onde o ponto de partida de todo cidadão seja a primeira fila.

Publicado na OFF - junho/2015

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