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sexta-feira, 7 de junho de 2019

BREVE REFLEXÃO DE MEIO MANDATO


Em setembro de 2017 escrevi aqui na OFF que elegera minha rua um benchmarking às avessas. Ela se tornou a régua com que comparo as administrações municipais desde o final do século passado. “Da minha janela lateral, todo dia, quando olho pra ela avalio o mandatário da cidade”. Faz mais de 20 anos que moro aqui. A rua Félix Tavares de Oliveira (João Bedim) parece embalsamada. Ainda assim, tem espasmos de lama quando chove e de poeira quando o sol racha.
Quis ampliar a avaliação da gestão dos doutores Marcus Vinícius e Rogerinho à frente da prefeitura de Itaperuna sem critérios de subjetividade, que parece terem saído completamente de moda desde o decreto presidencial que escancarou a posse e o porte de armas de fogo no país. Assim, pus-me a reler o Plano de Governo da chapa MUDAITAPERUNA com suas 20 páginas repletas de boas intenções. O documento, uma exigência da justiça eleitoral, é endereçado ao itaperunenses (todos deveriam ter lido. Ainda há tempo!) A plataforma elenca 10 compromissos que vão de “respeito e valorização da família” à “segurança pública”, passando por “compromisso contra o aborto” etc. Uma mistura de agenda de costumes (quase sempre hipócrita) com gerenciamento da máquina pública. No 4º item, os escritores do Plano plotaram a prioridade absoluta do que viria a ser a administração sob o título “Compromisso com a Educação em 1º lugar”. Isso se desdobra em 25 projeções, algumas factuais; outras delirantes. De todo modo, a maioria não se cumpriu até agora. Aliás, já na metade do mandato, as promessas, escritas ou orais, mais se parecem estelionato eleitoral. De todo modo, a esmagadora maioria dos 37 mil votos obtidos na acachapante vitória da “Família 22” não leu, não pôs os olhos nem os dedos para folhear, não cheirou e nem teve alguma notícia dos compromissos do Plano de Governo, pois a vitória, em tempos de “nova política”, se dá com a ajuda massiva de um conjunto de eleitores mais propensos ao autoengano. É por isso que as disputas eleitorais têm mais irracionalidades que razão. E as eleições não terminam nunca. Cada dia temos um novo turno, cada semana um bate-boca pelas redes sociais, ruas e amarelinhos. Cada mês uma nova disputa jurídica. Desse modo, os mandatos vão-se aos solavancos, ao sabor da intervenção do Poder Judiciário no julgamento das disputas políticas. Nesta data, um quinto dos prefeitos do Estado do Rio está sob cassação, afastamento e prisão com indisponibilidade dos bens.
Quanto à avaliação do mandato, preciso dizer que a secretaria municipal de Educação de Itaperuna, desde o início, tornara-se depositária de muita expectativa positiva. E não foi em vão. O que chamaram de “Suporte Pedagógico” focado em “melhorar nossos percentuais de desempenho escolar” deu certo. Nos anos iniciais (até o 5º), o conjunto das escolas municipais de Itaperuna saiu de um IDEB de 5,5 (2015) e bateu a meta chegando a 6,4 (2017). Nos anos finais (etapa de 6º ao 9º ano) foram de 4,8 para 5,3 no mesmo período em que se avançou tanto na nota padronizada (aprendizagem) quanto no fluxo escolar (aprovação). Traduzindo, é possível dizer que nossos estudantes da rede municipal estão aprendendo mais. Não à toa, os anos iniciais estão entre os três melhores índices, e os anos finais foram os de melhor resultado entre todos os municípios do Estado do Rio de Janeiro.
De outro lado, dentre os compromissos do “Desenvolvimento Urbano” estão a pavimentação e asfaltamento de quase 200 quilômetros de ruas e avenidas na cidade e distritos. Será que agora vai? Restam mais ou menos 600 dias, por isso, atendendo a pedido, aquieto o meu coração. Ainda há tempo para calçarem a Félix Tavares e mudarem o julgamento da história.
Passando rapidamente os olhos pelos 117 compromissos juramentados no Plano de Governo, que estaria em curso, fica-se perguntando: o que é fake? o que é fato? e o que pode vir-a-ser? Sou levado a pensar que as administrações públicas, em geral, acabam reféns de mitos do planejamento. Exemplo: em 99% dos Planos de Governo a que tive acesso, leio que vão trazer mais empregos via instalação de indústria (em pleno processo de desindustrialização do país) por meio de renúncia fiscal etcétera e tal. Este que temos em mão agora vai mais fundo: Criação de Parque industrial - “Vamos incentivar a implantação de novas empresas e ampliação (grifo meu) das já existentes no município, alavancando a economia local, gerando assim emprego e renda com o auxílio da Firjan e da Fecomércio”; Implantação de polo tecnológico; Programa de Revitalização do Comércio; Apoio para o Desenvolvimento Empresarial; Criação do Programa de Capacitação Profissional; Fomento aos Arranjos Produtivos Locais; e Fomento ao Arranjo Produtivo Local de Confecções. Ufa! Quanta coisa!
Por importante, acho que todos os agentes da administração pública municipal – os de carreira e os carreiristas – deveriam ter o Plano de Governo como livro de cabeceira. Melhor: precisam mandar fazer superampliação macrotipo 24 e colar no banheiro, de frente para o trono, à altura dos olhos, de modo que todo dia pudessem ler o plano e saber a diferença entre a promessa, o possível e o gastronômico.
Para depois não dizerem que estou sendo cáustico, que não sou propositivo blá blá blá, pego carona no compromisso 7 dos doutores da famiglia 22 com a Sustentabilidade. Enquanto não dá pra fazer o prometido pela preservação do meio ambiente, e muito menos a usina de reciclagem de entulhos, a prefeitura poderia atender à reivindicação emergencial do diácono Francelino Júnior. Trata-se da construção de um galpão para separação do lixo, antes do destino final no aterro sanitário, onde se poderia proporcionar alguma dignidade aos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis reconhecendo-lhes o importante papel na melhoria dos resultados da política verde do município. Vamos fazer o comunzinho, o facilzinho e o baratinho (até porque contratos muito caros sempre dão no que dão) lembrando o bom axioma “Em meio ambiente é salutar saber que não existe lado de fora”; e que quase nada é realmente lixo definitivo.
Temos muito que aprender com essa logística reversa. Ela é um ótimo retrovisor para olhar do meio para o começo, e excelente bússola a apontar onde e como poderemos terminar.

Publicado na Estilo OFF/junho-2019

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