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domingo, 13 de dezembro de 2009

A VIDA É PRESENTE


São poucos os que vivem o presente; a maioria aguarda para viver mais tarde.
Jonathan Swift

Há um lugar comum que toda gente boa usa: _Nossa! Como este ano passou depressa. O ano ainda não terminara e o sujeito já está decretando o seu fim. Sempre ouvi dizer que, para certas pessoas, nada mais eficaz para acelerar o tempo do que carnês. Nem sei se ainda existem. Agora é cartão de crédito, boleto bancário e tal. De qualquer forma o mês parece chegar mais rápido quando você tem pagamentos a fazer.
Se tivéssemos uma série histórica de pesquisa de aceleração do tempo, fatalmente, verificaríamos que a pressa vem sendo uma das características mais peculiares da modernidade. Depois da revolução industrial incrementada no início do século XIX com suas linhas de produção tão bem caricaturadas por Charles Chaplin em seu magistral “Tempos Modernos” a sucessão dos anos nunca mais foi a mesma. Entretanto, nada se compara a essa revolução da comunicação feita basicamente pela televisão, telefone celular e internet que parece pôr tudo na ordem da hora. Ou seja, de hora em hora tudo muda e nada volta a ser como antes.
Presto muita atenção a esse açodamento social. Parece que vivemos sempre na expectativa. Explico: Um evento tem mais importância pelo tempo em que ele fica no topo da lista das essencialidades do que o seu acontecimento tão fugaz. Veja os casamentos, por exemplo. Acabei de saber, por uma reportagem de televisão, que os noivos capixabas precisam marcar a cerimônia religiosa com um ano e meio de antecedência, que é o tempo em que o evento ocupa as mentes dos envolvidos. Olha o que a indústria e o comércio fazem com as festas no ano! É dia das mães, da avó, do amigo - que parece não ter decolado até agora -, das crianças, dos pais, de Natal, que se não inventaram, se apropriaram. Outro dia li até uma piadinha séria sobre isso: O marketing antecipa tanto o Natal que periga qualquer dia desses Papai Noel tropeçar no coelhinho da Páscoa pelos corredores do shopping. É que o comércio vive disso. Ainda há de se inventar um jeito de faturar com o Dia da Consciência Negra. Sei lá, fazendo fantasias de Zumbi, videogames de Palmares, bonequinhos afro-descendentes de chocolate, essas coisas... Mas enquanto isso não vem, vão desrespeitando o feriado e fazendo os empregados trabalharem sem recompensa. Não tenho nada contra o trabalho e muito menos contra a lei e o direito.
A antecipação do mês, sem dúvida, é a festa de Natal. Aliás, desde outubro vemos árvores enfeitadas pelas lojas. Nesse momento é provável que você esteja ouvindo os barulhentos carros de som tocando aquela versão chata toda vida intitulada “Então é Natal” com que a Simone irrita nossos ouvidos há décadas. E/ou sendo abalroado por gente empacotada com sorriso de vitrine pelas calçadas da cidade.
Os egípcios viviam para o futuro – eram enterrados com seus pertences e tesouros para serem usados numa acreditada vida após a morte. Já os judeus, vivem para o passado glorioso de que se orgulham – desde que não lhes negue nem a miséria que foi o holocausto –, de olho no futuro que é a vinda de um messias que não chega nunca. Já eu – crente de que na vida futura não entram os bens materiais e cujo Salvador já veio e está entre nós –, prefiro, Hic et nunc, o presente cuja origem latina significa aquilo que está ao alcance, e que o nosso povo achou de dar significado de aquilo que é de graça. Em ambos os casos é exatamente o que escolho. Ninguém pode viver no passado ou no futuro. A gente só vive mesmo é no presente.

Publicada na Revista Estilo OFF - dezembro/2009