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sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

DOMINGOS 3: O ATAQUE DO GANCHO

Da série "O que os netos nos fazem fazer!"


quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

DOMINGOS 2 - A BELA ADORMECIDA

Da série "O que os netos nos fazem fazer!"


sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Talvez nem tudo esteja perdido

Todos os dias quando acordo
Não tenho mais o tempo que passou
Renato Russo

http://4.bp.blogspot.com/-v3bDA5kyEmU/UW8Thz9xMAI/
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 _Não há empreiteiro no céu! É o que diz uma piadinha de salão ao constatar que a obra da ponte que religaria, finalmente, o céu ao inferno, a fim de celebrar a custosa paz entre Deus e Lúcifer, não ficara totalmente pronta. Tinha faltado o trecho que competia ao Criador realizar até o meio do caminho entre as duas potências universais.
Aqui embaixo, no mundo real, o furúnculo fluminense, parece, finalmente que veio a furo. Mas, talvez, nem tudo esteja perdido. Nem todos são garotinhos e cabrais na gestão da coisa pública. Ainda temos mais bons do que maus exemplos ao redor.
Na Escola Municipal Águas Claras, testemunhei uma experiência que é o avesso da lógica patrimonialista. Lá os gestores da escola bancaram, às próprias custas, um projeto para tornar verdade o atendimento às necessidades educacionais especiais como manda a LDB em seu artigo 58. Não fossem iniciativas como essa, que educadores pelo Brasil afora têm patrocinado, a propalada inclusão seria mais uma letra morta com epitáfio vivo rondando o céu da pátria da ordem e do progresso.
Uma coisa é consignar na lei o direito, muito diferente pode ser garantir a realização da justiça. A matrícula de alunos com necessidades educativas especiais é um caso nacional emblemático. Esses discentes têm dificuldades específicas de aprendizagem e/ou limitações no desenvolvimento e no desempenho das atividades curriculares. Se tudo não for feito para que seu percurso escolar seja um sucesso, a inclusão é uma grande e aviltante mentira.
No Águas Claras, uma coalizão de forças e de propósitos reuniu as gestoras Luciene Novais e Elâine Barbosa, a professora Mariley Sarmento e a fonoaudióloga Clécia Souza. O quarteto adquiriu o protocolo CRA (Classificação para Reenquadramento de Aprendizagem) concebido pela neuroeducadora Rosana Mendes, que também acabou tendo sua atenção arrastada para esta experiência em Itaperuna. Foram reunidos os pais para conhecerem e autorizarem a participação dos filhos no projeto.
Tudo o que aconteceu dá seguramente um livro de boas práticas. No resumo, a escola vem de um patamar de reprovação no 3º ano – objeto da experiência – de 19,38% de média nos últimos 5 anos. Em 2015 chegou a reprovar 10 alunos entre 44. Já este ano é diferente! Dos 49 alunos matriculados em fevereiro apenas 3 (6,12%) ainda ficaram retidos. Essa deverá ser a melhor taxa de aprovação dos últimos anos no município. Não é um milagre! É trabalho dedicado! É convicção na possibilidade de superar dificuldades! É fé na capacidade de transformar a realidade sem se deixar vencer pela falta de recursos e pelos maus exemplos vindos do andar de cima!
Do lado de fora da escola são tempos de estupefação. A cada dia somos surpreendidos por alguma novidade que mantém em estado de ebulição o país da pós-verdade. Explico: Post-truth é o adjetivo eleito pela universidade de Oxford para ser a “palavra do ano”. No Brasil e no mundo este tempo é o da pós-verdade, porque sobram conveniências e leniências. A crença pessoal e o apelo emocionado influenciam muito mais a opinião pública do que a verdade. É cada vez mais desafiador separar a verdade da mentira, pois é crescente a indústria da boataria e a síndrome da manada.
As pessoas, sofregamente, compartilham e curtem – com emoji de palmas e outros – postagens nas redes sociais, sobretudo no facebook e nos grupos de whatsapp. Quase acredito que ganham algum bônus em dinheiro ou créditos para navegação cada vez que dão um tinindo – aquela mãozinha com o dedo polegar para cima em sinal de aprovação. A velha premissa de que uma imagem vale por mil palavras é confirmada sem parar pelos emoticons. A linguagem simbólica, segundo dizem, está sendo retomada como nos primórdios do desenvolvimento da língua quando os desenhos antecediam as palavras. Basta olhar os ideogramas pré-históricos constituintes de tantos idiomas como o grego, o egípcio, o japonês e o chinês, por exemplo. Mesmo nesses casos, a subjetividade do emissor exige compreensão do receptor. Não é à toa que tenho compartilhado um dito que é a narrativa deste século: “falta amor no mundo, mas o que falta muito mais é interpretação de texto”.
Também sobra. Sim! Sobra falta de vergonha na cara da elite dirigente do Brasil. Vejamos o caso do, agora ex, ministro Geddel. Quem compraria um apartamento, digo, um carro usado dele? Entretanto, dourado pela presidência da república e blindado com apupos por deputados do baixo clero – a base congressual de reserva –, o baiano periga ser canonizado em vida. Em contrapartida, o esforço de educadores do município de Itaperuna é “premiado” com a cassação de direitos e garantias salariais ao apagar das luzes de um governo municipal que só agora diz ao que veio.


domingo, 6 de novembro de 2016

Estão mexendo em nosso queijo


Dar crédito ao pessimismo nunca é investimento que me atrai. Ao contrário, sou um recalcitrante otimista. Mas isso não impede que na análise do balanço desses últimos anos tenha que reconhecer a dificuldade de se manter, ao menos, o entusiasmo; ou pelo menos, o mesmo entusiasmo.
Lembro perfeitamente que estive na torcida pelo fim de 2015. Afinal, o tal parecia um ano completamente disposto a não terminar. Quem tinha fé rezou para que acabasse logo. E que próspero ano novo surgisse das bolhas vaporosas dos espumantes de todas as cores sociais que subiam aos céus como fumaça de incenso, para dar a isso um pouco do fervor do espírito reformista que parecia impor-se no país. Porque, convenhamos, muito acima da linha da pobreza há uma aristocracia que se preocupa com a qualidade dos croiassant que come enquanto os bárbaros saqueiam seus palácios.
Resultado de imagem para ano novo ruimOs restos a pagar transbordaram tanto ao ponto de este ano vivermos uma dúvida cósmica: estamos em 2016 ou ainda é o ano passado? Por essa razão, receio ficar desejando que 2017 venha logo, a despeito das vitrines com cara de espetáculo natalino já dominando a cidade. Sabe-se lá! Imagina em pleno ano-que-vem a gente sendo cobrado, com juros anuais de refinanciamento da dívida do cartão de crédito que se parcelou em 24 vezes, por tudo o que não quitamos em 2014? Impagável! Mas muita gente ainda paga pra ver.
Todo ano deveria obedecer ao calendário civil e terminar exatamente em 31 de dezembro. Também sou a favor de uma Lei Complementar de Responsabilidade “promessal”: tudo que se comprometeu cumpra-se a começar pelas promessas mais recônditas que fazemos a nós mesmos no momento da queima de fogos. Falo disso porque a passagem do ano é o momento em que cada um de nós é mais benévolo consigo e com os outros. É quando, num rasgo de racionalidade resolvemos o dilema pós-moderno do modelo definitivo de desenvolvimento econômico. É quando achamos a incógnita da solucionática que equaciona a segurança da poupança e o crescimento pelo consumo, com investimentos para a infraestrutura e o controle inflacionário. No nosso caso brasileiro também com o dólar domesticado, pois entre uma ida e outra a Miami é preciso garantir as vantagens da balança comercial favorável aos made in Tabajara. Afinal, ninguém pode deitar eternamente em commodities esplêndidas num mundo que muda sem parar.
Mas entramos finalmente! Após a década de crescimento pelo consumo com distribuição de renda, poupança Cancún, farra do filé mignon e universidade para todos ao tratado geral de congelamento dos gastos chamado tecnicamente PEC 241. Meu resumo é que vivemos um debate nacional sobre o social cobertor curto e os privados interesses compridos.
Invadidos ainda por 2013 – um desses anos que dura até hoje –, vê-se que uma parte da população exagera na dose de pessimismo proposital e a outra metade de otimismo nefelibata. A sensação que todos experimentamos é a de provisoriedade. Além do que, menos assombra nosso otimismo a invasão dos tempos passados no presente do que esse cheiro de 2018 em tudo o que se faz na política nacional. Sim, isso nos deixa a convicção de que não são os interesses da nação que estão na ordem do dia, mas os projetos grupais de poder.
Minha mãe, quase analfabeta, não sabia que nos ensinava por axiomas. Para todas as situações ela se socorria no senso comum. Era uma pedagogia passada de mãe para filhos que nos fazia ver para além dos significados. Nesse caso da PEC ruidosa, ela diria que “em casa que falta pão, todos gritam e ninguém tem razão”. E aproveito para cunhar um aforismo: depois da incontigencialidade sempre vem a desesperança.
Hoje amanheci pensando em Drummond. Nem tanto sobre pedras no caminho. Me veio essa comparação que se pode fazer do Brasil com o ônibus que carregava o passageiro recalcitrante. A gente não pode aceitar ser expulso do coletivo sem saber exatamente o que está acontecendo. A gente não deve se conformar com um destino que não escolhemos. É mais saudável não se fiar em que os deputados e senadores cuidam dos interesses do povo em Brasília. Essa democracia representativa já deu. Mais importante: É melhor não acreditar em tudo que a grande imprensa diz, pois nesses tempo de pretensa penúria e de propalada contenção de despesas, o governo federal continua gastando, e muito, com publicidade para colorir a realidade e nos expulsar do ônibus sob a alegação de que somos teimosos.


Publicado na OFF - novembro/2016

sábado, 8 de outubro de 2016

É HORA DE DESCER DO PALANQUE


No futuro, quando relatarmos como os candidatos a cargo eletivo “pediam” o nosso voto coercitivamente – sim, porque o voto era obrigatório! – gritando, durante o chamado período eleitoral, seu nome e número ao som de um jingle mal enjambrado de rimas previsíveis e com autorização da justiça eleitoral para nos amolar diuturnamente, todos os dias, não acreditarão. Esse é um resumo do que foi mais uma campanha eleitoral local, apesar de que eu ouvira uma musiquinha que pedia a Itaperuna e região que votasse num determinado candidato a prefeito. Aliás, nem vou comentar as peças de marketing dos candidatos, pois eles vêm se superando nos equívocos e no mau gosto ano a ano. Falta criatividade e sobra mesmice.
Num quesito essas eleições apresentaram inovação e quebra da tradição. Os candidatos desta feita esconderam seus padrinhos políticos da planície à colina. E por mais que entre as candidaturas que polarizaram se tenha buscado colar uns nos outros a imagem dos respectivos caciques, não colou. Teve candidatura gravando em Brasília vídeo apelativo: investimento inútil.
Dei-me ao luxo de ler “Proposta de Governo” (http://prefeito2016.com/candidatos-a-prefeito-2016/itaperuna-rj/) – feita para que ninguém leia; se ler, não entenda; se entender, faça cara de paisagem. O plano de governo é requisito para o registro da candidatura, mas não há previsão legal sobre o não cumprimento dessas promessas escritas pelas candidaturas a prefeito e vice. Teriam o condão de gerar, ao menos, uma pena moral. Mas quem está preocupado com isso?!
Biri-biribá, paremos de brincar! É hora de descer do palanque. A campanha acabou; o prefeito eleito já pode jogar fora sua Proposta de Governo e adotar um projeto real e possível que está mais ou menos desenhado no plano apresentado pelo candidato da REDE Theigo Ladeira. Ou continuar fingindo que fará política pública: formando, ao velho jeito, a maioria na câmara de vereadores; maquiando programas federais e estaduais mal implementados no município; lidando com o orçamento como se fosse uma peleja; fazendo um favorzinho aqui, ali, acolá e alhures; cumprindo compromissos com os financiadores e apoiadores da candidatura (o tal do clientelismo); vingando-se de uns opositores; e cuidando de não quebrar o establishment a fim de manter a ordem social. Isto é: renovando tudo; a fim de que nada mude e nem deixe de ser o que sempre foi.
Já “eu do meu lado aprendendo a ser louco” continuo convencido de que a educação é a porta de saída. As transformações sociais só podem efetivamente se dar se houver por base a formação educacional. Os governos, em todas as esferas, contam com instrumentos de avaliação que geram índices capazes de desenhar os resultados do que estamos fazendo pela Escola. Um dos mais robustos medidores da qualidade da educação é o Ideb. O índice, referente às amostras de 2015, acaba de ser disponibilizado pelo MEC no sítio: http://ideb.inep.gov.br/.
Fiz um estudo muito breve da situação das escolas municipais de Itaperuna. Acredito que a SEMED também tenha se debruçado sobre os resultados. Quero apenas colaborar com mais um olhar.
Nossos aluninhos dos ANOS INICIAIS têm respondido bem aos esforços de professores e gestores. Das 15 unidades escolares que fizeram a Prova Brasil, 100% melhoraram ou mantiveram os resultados. Aliás, 1/4 das escolas bateram a meta: EM CIEP BRIZOLÃO 467 HENRIETT AMADO; EM CÓRREGO DA CHICA; EM OSCAR JERÔNIMO DA SILVA e EM SÍTIO SÃO BENEDITO.
Já nos ANOS FINAIS a situação é de atenção. Das 6 escolas cujos 9º anos fizeram a Prova, apenas 50% melhoraram os resultados e 1/3 atingiram a meta. Parabéns! EM ÁGUAS CLARAS e EM CIEP BRIZOLÃO 467 HENRIETT AMADO que, diga-se, sempre alcançaram os objetivos deste nível de ensino.
O espaço está acabando, mas preciso dizer ainda mais duas coisas:
1-   Quanto aos ANOS FINAIS deste Ideb: as escolas da rede estadual de Itaperuna atingiram a meta de 5,0. Mas as municipais, que tinham meta de 5,7, somente chegaram até 4,8; e
2-   Chama atenção a taxa de sucesso das escolas que funcionam com apenas um ciclo de ensino. Todas as que oferecem apenas os ANOS INICIAIS melhoraram.

Algumas pesquisam apontam que as escolas de segmento único têm rendimento até 22% superior às demais. Além disso, países de referência em educação como Coreia do Sul, Cingapura, Alemanha e Inglaterra adotam o modelo de unidades com ciclo único. Aqui no Brasil todos sabem que as escolas com duas ou três etapas e turnos têm apenas o significado de gastar menos em infraestrutura, equipamento e gestão. Já que os candidatos a prefeito falaram durante a campanha em educação de período integral, o que se elegeu poderia começar por especializar as escolas e profissionalizar sua gestão por segmento. Não é nada não é nada, é um bom começo; mostra que de fato a intenção é mudar para melhor.

PUBLICADO NA OFF-OUTUBRO/2016

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

OS PREFEITÁVEIS DE ITAPERUNA

Com base nas informações do TRE-RJ disponíveis no sítio http://prefeito2016.com/candidatos-a-prefeito-2016/itaperuna-rj/ fizemos uma síntese para facilitar a leitura dos itaperunenses sobre os candidatos que se habilitam a governar o município.


ORDEM DE CHAMADA DE A a Z
























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domingo, 11 de setembro de 2016

Colaborando com a OBMEP



Fiscais aplicadores e volantes
Neste dia 10 de setembro, participamos como coordenador, no Centro de Aplicação do C. E. Euclides Feliciano Tardin, da 2ª fase da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas, a OBMEP, em sua 12ª edição.
Foi uma tarde de trabalho e de emoção também.






Os jovens chegando e parentes desejando boa prova são momentos mágicos em que pensamos na importância e na responsabilidade do nosso papel.










Momento "carrasco" em que temos de avisar que o tempo de prova está acabando.





E no final, hora da tietagem!


Foto com a Maria Luiza Rodrigues Defante - Menção Honrosa na OBMEP 2014








Selfies com Rebeca Roza Fontoura - Medalha de Prata na OBMEP 2015.









E para encerrar, também 2 fotos com Lucy Mª Degli Desposti Pereira - Medalha de Ouro em 2013, Prata em 2014, e, novamente, Ouro em 2015.

PORQUE VALE A PENA PARTICIPAR!

Agradecimentos especiais à direção, professores e apoios do C. E. Euclides Feliciano Tardin.

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

É preciso abaixar o fogo

As crianças de minha geração e classe social executavam trabalhos domésticos como, por exemplo, “fazer a cama”. Isto significava: dobrar o cobertor; esticar o lençol e forrar a cama com a colcha; guardar o travesseiro e o pijama antes de lavar o rosto; escovar os dentes e sentar-se à mesa para o café da manhã.
No correr do dia, antes ou depois de ir à escola, havia outras tarefas. Aliás, minha mãe dizia: _trabalho de menino é pouco, mas quem dispensa é louco. Lá em casa, cada um de nós, por seu turno, vigiara o leite ferver. Algumas vezes no grande fogão a lenha; outras, amiúde, no fogão a gás. Existia uma panela alta onde o leite era posto a ferver e tínhamos de mexê-lo com uma escumadeira para que não criasse raspa no fundo. Inevitavelmente, em algum momento, o leite levantava fervura e prontamente girávamos o botão do queimador para que não entornasse – o que representaria sujeira e prejuízo. Era ainda o tempo da vida sólida, conforme ensina Zygmunt Bauman.
Hoje uma enorme quantidade de sujeira é produzida a fim de que possamos tomar um copo de leite pasteurizado, e batizado com uns não-sei-quantos-aditivos. Sem contar os químicos na alimentação da vaca que já não vive só de comer capim. De todo modo, a sujeira não forma mais binômio com prejuízo. Tornamo-nos SUJISMUNDOS para que o serviço de coleta de lixo chegasse a ser a mais notável indústria movida pelo consumo e lucro. Não há crise na indústria da remoção do lixo. Desde os contratos sob suspeição até a criminosa condição insalubre de trabalho diuturno dos garis, passando pelas subcontratações e termos aditivos duvidosos, a coleta e destinação do lixo é o antro onde germina a corrupção com desvio dos recursos públicos pelo incesto com a iniciativa livre. Nesse caso, melhor é o adjetivo privada, que serve também para qualificar este tempo da “Vida Líquida”.
O ponto central é a reflexão sobre a produção do lixo. Não é bem o “onde vamos colocar tanto lixo?”; mas se podemos adotar uma atitude para não produzi-lo com essa voracidade crescente. Porque estamos vendo a “fervura levantar” faz tempo.
O mercado consegue, ano a ano encurtar a distância entre a loja e a lixeira fazendo com que esse processo ocorra o mais velozmente possível. Estamos aceitando, sem arrependimentos, a curta duração dos bens de consumo. Em conformidade com os ditames do mercado, temos prontidão em nos livrar das coisas que duram mais do que 1 ou 2 anos. Isso vale para relacionamento amoroso, aparelho de celular, perfil no facebook, ritmo musical ou projeto de formação acadêmica. Chegamos à sociedade do consumo sem mártires ou heróis. Vige o tempo breve da celebridade – palavra de origem latina, mas que não se confunde com cerebrum.
No início do século, a Rita Lee cunhou uma letra líquida, gastronômica, para consumo instantâneo. O refrão diz assim: Um dia depois / Não me vire as costas / Salvemos nós dois / Tudo vira bosta.... As fezes, como se sabe, são o lixo mais original desde sempre. É o mais reciclável, pois de 80% a 90% é água. Diferentemente de tudo o que metaforiza explicitamente, como o “programa do partido, o herói, o dedo duro, a apólice de seguro, o passado e o futuro, a prostituta e o deputado, a virtude e o pecado”, a merda é uma imposição fisiológica, natural e legítima.
Toda a elaboração dos outros lixos poderia ser minimizada não houvesse o incentivo ao consumo compulsivo, que a indústria do descartável pôs na linha de produção planetária.
Tudo isso ferve num fogão à lenha. E não tem botão de DESLIGA. Ao contrário. Quando a elite toma de volta as rédeas da nação, e impõe um governo cuja marca paira ameaçadora como o império da “ordem” e do “progresso”, parece que tudo vai passar, menos as dores e a corrupção. A “ordem” produz lixo humano, que, nessa lógica, são todos os que estão fora do mercado, e não conseguem consumir. O “progresso” do capital, quer pela exacerbação produtiva, quer pelo rentismo, não pode ser alcançado sem produção de lixo, inclusive industrial. O “progresso” depende de “coletores de lixo” cujas vidas físicas são apenas mantidas, pois alguém tem que catar e dar destinação ao refugo.
Haverá quem diga que as crianças de antigamente eram exploradas por seus pais, obrigadas a produzir muitos trabalhos como a varrição da casa e quintal, torração dos grãos de café, alimentação dos animais de criação etc. Eu vivi aquele tempo sem me sentir abusado ou alienado a respeito da produtividade que a família esperava de mim. Mas, o processo civilizatório “resgatou”, como numa nova abolição, os menores do trabalho. Tirou as crianças da produção para inseri-las na roda do consumo. E, desde cedo, os jovens são convencidos a não se apegarem muito às coisas. A respeitarem a transitoriedade necessária da existência delas. A admitirem que o mercado não existe sem o nosso profundo desapego. A obedecerem aos impulsos de consumo.

Publicado na Estilo OFF - setembro/2016

domingo, 7 de agosto de 2016

Sem sustos, esperemos!


Há pessoas que somente cuidam excepcionalmente da casa quando vão receber visita. Casos assim, nem sempre se tratam de uma agenda de última hora. Acho que uma ocasião dessas serviu para cunhar o dito popular “varrer pra debaixo do tapete”. Tenho uma estória de família que contamos repetidas vezes nas rodas de riso e prosa. É de uma parenta distante que estava pra receber o pretendente – era como chamavam o rapaz que tinha intenção de namoro. Naqueles idos do século passado, todo namoro guardava um potencial de matrimônio. Manuela, querendo causar boa impressão, arrumou toda a casa e, ao final, já cansada tinha a última etapa da faxina a fazer na cozinha, já que nos outros cômodos, alguma sujeira tinha ido parar debaixo do tapete. É bom que o leitor mais jovem saiba que, naquele tempo em que se amarrava cachorro com linguiça, a cozinha era um dos espaços mais importantes das residências. Então, muito ansiosa e cada vez mais apressada, nossa já nem tão jovem moça resolveu arear as panelas somente de um lado – o que ficaria exposto quando arranjadas nas prateleiras de alto a baixo dos paneleiros. E assim fez.

Uma irmã traquina, enquanto Manuela se banhava e aprontava para a chegada do rapaz, resolveu se vingar de alguma amargura pretérita e, indo à cozinha, trocou o lado de todas as panelas fazendo com que o que era polido e brilhante ficasse fosco e feio. No auge dos salamaleques, a futura noiva apresentava a casa ao moço e se auto elogiava até que chegando à cozinha seu mundo desabou: _Era um pretume só, gente! ela contava, com alguma amargura, tempos depois em que continuava solteirona.Não tenho complexo de vira lata. Mas reconhecendo essa “emergência” da síndrome de Ricúpero – “O que é bom a gente mostra; o que é ruim, esconde.” – fico me perguntando quantas desculpas mais teremos de pedir ao mundo e informar que “É natural que haja ajustes a fazer.” (Eduardo Paes) em todas as obras dos Jogos. Não deveria ser preciso colocar cangurus, alces, suçuaranas e antílopes para que australianos, suecos, argentinos, quenianos e outros “se sentissem em casa”. Muito mais civilizado seria se as obras de infraestrutura estivessem concluídas, uma vez que o Rio fora escolhido para sediar a XXXI Olimpíada há quase oito anos.
Não é simplesmente deixar para a última hora, e mesmo assim – ou por isso mesmo – se atrasar. É mais. É fazer mal feito. O leque de motivos é muito mais amplo do que o utilizado pela parenta. Aqui tem a corrupção, tem a incompetência técnica, tem a proposital escolha de materiais mais baratos, tem a indolência, e, em tudo, tem a falta de respeito, sobretudo pelo que é público. Aliás, cá pra nós, que os estrangeiros não nos ouçam: como pode um dos legados da Olimpíada do Rio ser o mistério das vigas perdidas (há quase 3 anos) da perimetral? Parece ficção que o furto de 7 vigas de uma combinação especial de metais, somando mais de 200 metros, tenha, além de tudo, sumido também dos noticiários como que escondido debaixo do tapete. E nem se pode dizer que as autoridades responsáveis pela apuração do caso não tenham vergonha na cara, pois isso parece coisa tão bem distribuída no seio da sociedade que, nunca se ouviu alguém reclamar de que tivesse pouca.
Por poucas, mas acertadas, razões, torço para que estejamos tendo uma bela Olimpíada. Detestar saia justa – ao contrário do prefeito do Rio – é um dos motivos que me movem a desejar que tudo esteja bem. Receber mal em minha casa os convidados é outro.Nem sei quantos brasileiros comungam de um sentimento de temeridade frente à realização dos Jogos, mas preciso dizer que me sinto meio Manuela. Tomo pelos braços, amistosamente, milhares de pessoas do mundo inteiro e desfilo impávido e solícito pela casa mesmo sabendo de quase tudo que foi empurrado para debaixo do tapete.

Publicado na Estilo OFF - agosto/2016

sábado, 9 de julho de 2016

Olha o voto! Quem dá mais?!


Deve haver dois ou mais motivos para que as eleições municipais estejam tão mornas em pleno julho. É um paradoxo que, num país onde a população tem saído ininterruptamente às ruas nos últimos 3 anos em manifestações políticas dos mais variados matizes, se veja agora este marasmo quanto às próximas eleições municipais, logo elas que são as mais próximas do povo. Será que a realidade da política nacional jogou nas cordas o sistema político brasileiro afastando de vez o povo do processo eleitoral? É uma possibilidade.
Certo mesmo é que a justiça eleitoral mexeu no calendário das eleições de modo que as campanhas ficaram mais próximas do fim. Para isso, entre outras medidas, reduziu de 90 para 45 dias o prazo legal de campanha e criou mais dois canais para denúncia de malfeitos: uma página do facebook (https://www.facebook.com/trerj) e o número (21) 995335678 de whatsApp. O tribunal eleitoral está de olho, principalmente, nas propagandas antecipadas (antes de 16 de agosto) e no abuso do poder econômico.
Uma razão concreta para o desânimo dos políticos é a posição do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que tenta banir de vez o financiamento empresarial das campanhas. Isso tem sido o pesadelo de várias candidaturas, sobretudo as que tradicionalmente se organizam por grupos de poder econômico país afora.
Em Itaperuna, conhecer um pouco da história eleitoral do município pode ajudar a antecipar o que está por vir. Não precisa muita experiência na análise, pois em nosso município os resultados eleitorais não surpreendem. Costumo dizer que aqui, o grupo de poder é único, mesmo não sendo totalmente hegemônico. Nenhum candidato a prefeito, até hoje, se elegeu fora do reich.
Geralmente, a um ano das eleições se percebe o movimento do jogo político. Claro que para a candidatura da chamada situação, um pleito está sempre emendado no outro, pois, com o instituto da reeleição (1997), um prefeito pensa nisso desde o início do mandato. Por cá é tradição que antes do jogo jogado, o número de candidatos a prefeito é sempre inflacionado. Para este ano já temos 6, mas a história mostra que nunca vão para a disputa mais do que 4. Uma particularidade quanto ao financiamento de campanha chama muito a atenção de quem pesquisa o processo eleitoral na cidade. Acho da maior importância reiterar essas informações públicas sobre o financiamento, pelo menos das candidaturas majoritárias, que não é muito diferente do que ocorre com as coligações de modo geral, até porque, o tema surge com muita força neste próximo pleito. Para caber neste artigo, a pesquisa se restringe às eleições deste século XXI.
Em 2012, o candidato eleito – Alfredão – teve 56,9% de sua campanha financiada por empresas direta e indiretamente. É curioso que entre os candidatos que chegaram quase empatados respectivamente em 2º – Paulada – e em 3º – Dr. Roninho – somente esse teve financiamento empresarial da ordem de 32,4%.
Já o vencedor das eleições de 2008 – Claudão – não teve um único tostão dos empresários da cidade. O segundo colocado – Daruís – foi ajudado em 67,2% de suas despesas por empresas. Aliás, este foi o ano em que saiu derrotada, pela primeira e única vez a candidatura que investiu mais e apresentou a maior despesa de campanha. Explicação: venceu a memória afetiva do povo. Uma excepcionalidade que sempre escapa às pesquisas de opinião!
Nas eleições de 2004, a campanha mais cara – Jair Bittencourt –, que teve 67,2% de financiamento empresarial, é que saiu vitoriosa tendo gastado o dobro da despesa do segundo colocado.
Desde quando nesse país o voto se tornou obrigatório, é que se “institucionalizou” sua compra e venda. Pode parecer um exagero, mas sempre digo que, salvo poucas e honrosas exceções, os mandatos neste país são comprados. Isto é, o preço do voto é o novo cabresto. Não é gratuitamente que se aculturou o povo de que a democracia – que pretensamente é o regime da civilitude – somente se legitima pelo voto. E o voto se tornou solução dos dissensos. Por meio do voto tudo se resolve: desde a escolha da cor do piso da sala até se se mantém um país na União Europeia ou não, passando agora pelo voto para diretor de escola estadual há pouco aprovado na ALERJ.
Só pra lembrar: de ordinário, nas eleições municipais, quem gasta mais dinheiro é eleito prefeito, vereador, o diabo a quatro. Tendo por base as eleições de 2012, aviso aos candidatos a prefeito que o voto aqui custou R$ 8,98. Quem pagou R$ 13,80 virou prefeito de Itaperuna.

 Publicado na OFF - julho/2016

quarta-feira, 8 de junho de 2016

O juízo, afinal!

Definitivamente, a palavra delação entrou no vocabulário do povo brasileiro e, ao que parece, promete vida longa.
Antes, lidávamos com a prática da CONFISSÃO. Ainda que fosse obtida de modo coercitivo, vinha a público como sendo a manifestação livre da vontade do réu. Eivada de mea culpa, a confissão comprometia a inocência de quem a fazia, pois desnudava seus planos e malfeitos. Mesmo assim, era algo pessoal e somente excepcionalmente se evocava a atuação de coadjuvantes e figurantes.
Quanta diferença da delação! Essa confissão moderna e premiada que aponta apenas os erros e infrações dos outros. O prêmio não é apenas ver o algoz em maus lençóis. Serve para diminuir ou aliviar de vez a pena de quem desnuda o crime contra quem o quer esconder. Ou seja: ao dedo duro, os louros e a amnésia social.
Principalmente quando se trata da formação de bando, quadrilha ou rede, que tem sido o modus operandi tão facilitado pelas novas tecnologias, o instituto da delação premiada (elevado a essa categoria somente na década de 1990), segundo se diz, tem servido à justiça brasileira no desvendamento de crimes, principalmente, contra o erário por parte de agentes políticos e de governos. Não há um único dia, desde o início da chamada Operação Lava Jato, sem que sejamos informados sobre trechos de delações e também de grampos telefônicos, ilegais ou não, de atores do jet-set nacional.
A esse respeito, quando se misturam confissão, delação e espionagem, digo, investigação, é que se descobre que isso é o TODO do sistema de apuração de crimes. E talvez seja este o ponto nevrálgico: a tênue linha divisória entre investigação e espionagem.
No plano internacional, por exemplo, os EUA alegam que as revelações de Edward Snowden não são sobre espionagem contra governos e grandes corporações, mas monitoramento investigativo. Ou melhor: um programa de vigilância a favor da paz mundial. Como diria Confúcio: arranjem a crença, que eu lhes arranjo os crentes.
Já na Itália, dá-se conta de que as delações prosperaram tanto que sua influência inspira a Justiça mundo afora. Em troca do perdão judicial, o “arrependido” Buscetta (o Tommaso) dedurou deus-e-o-mundo da Cosa Nostra. Não digo MÁFIA, pois, aqui, são tantas e indistintas que o leitor não iria saber se falava sobre a do ISS paulista, a da merenda escolar, do trabalho escravo, do tráfico de drogas, dos planos de saúde, de mulheres, de influência, da BRANCA etc. “Deus sabe a força de um adjetivo, principalmente em países novos e cálidos”, diria o machadiano Brás Cubas.
No Brasil, a Justiça já tirou, nem sei quantas vezes, o Whatsapp do ar, já determinou prisão do vice-presidente do Facebook, mas não consegue colaboração numa simples investigação de tráfico de drogas. Nesse campo, parece que as delações recompensadas não prosperam.
Agente secreto, investigador, intercepção telefônica, espionagem, criptografia, gravação de áudio e/ou vídeo tudo isso me remetia especialmente à ficção da minha juventude nos anos 70/80, tempo de ler e ver Sherlock, 007, Mata Hari, Dick Tracy, o brasileiríssimo Ed Mort, Virginia Hall, Rabugento. Pensei que tudo isso tivesse ficado para trás, naquele tempo em que o máximo de indiscrição era feita por uma janela, às vezes com um binóculo. As delações mais os áudios gravados às escondidas, sendo seletivamente postos na imprensa a cada dia, ainda evocam as estórias de Agatha Christie.
Daí é que me vem nascendo uma preocupação com esses tempos de diga-me o que postas, curtes e compartilhas que eu dir-te-ei quem és: o registro indelével da memória guardado pelo serviço de espionagem e invasão de privacidade da vida alheia em algum super HD planetário. Para simplificar, sendo itaperunense, chamo de ITC, Inventário de Todas as Coisas. Quando essa teoria superar meu provincianismo, vou batizar de CT, o Cadastro de Tudo. Não quero assustar você, mas ele já existe. Os escatologistas dizem que no grande último dia, essas coisas que fizemos, falamos, escutamos, escrevemos, compartilhamos, curtimos com KKKK e pelas quais batemos palmas irão, uma a uma, aparecerem num grande telão para todos verem.
Por isso, faz tempo que tenho tido um estranho desejo de também fazer uma delação premiada.

 Publicado na OFF - junho/2016

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Entre o antagonismo e o protagonismo juvenis


A partir de certa idade, precisamos fazer como João e Maria: ir deixando marcas pelo caminho a fim de facilitar a volta, torcendo para que passarinhos não sacaneiem.
Traço mapas mentais no intuito de manter o fio da meada. Para a cafeteira não ficar funcionando o dia todo, deixo uma xícara limpa solta na bancada. Ao sair, vejo-a! Lembro que a cafeteira está ligada. Tomo o último cafezinho antes de apertar off. A xícara é o link com o meu paiol de lembranças. Minha memória RAM, a que organiza todo o saber, não está 100%. É a envelhescência! Tudo fica mais devagar.
Na juventude é o contrário. O jovem tem uma memória organizativa enorme. Está sempre de prontidão. É voluntarioso!
Imaginemos que haja dois tipos de memória: de curto prazo e de longo prazo. Gosto de compreender isso como uma mesa de estudos. Nela está o necessário para realizar um trabalho: livros, papéis, canetas, lápis, borracha. A mesa é a memória de curto prazo ou provisória. Quanto maior, mais materiais podemos colocar sobre ela. Cada um dos materiais é a memória de longo prazo com toda informação que se vai acumulando pela vida.
O tipo de memória predominante faz a diferença entre jovens e adultos. Também a qualidade dos processos de adquirir, armazenar e recuperar.
Os mais velhos têm um HD grande com muitas informações de cada assunto. Em contrapartida, a “mesa de trabalho” é pequena e a pesquisa lenta. Já os adolescentes têm espaço na mesa para vários HDs cheios de itens variados; entretanto, o conhecimento de cada assunto é raso, com pouca informação acumulada.
Esse introito desmedido é para conversar sobre o movimento de OCUPAÇÃO das escolas da rede estadual do Rio de Janeiro. Também para dizer que à vista das diferentes formas de constituir e utilizar suas lembranças, adultos e jovens fazem profícua parceria quando seus interesses se afinam. Para o bem ou para o mal.
Neste dia de São Jorge, o número que aparece na mídia é de 72 escolas ocupadas em apoio à greve dos professores. Juntaram aí as memórias.
Vejo as notícias dos estudantes “ocupados” dentro das escolas – pelo menos as imagens liberadas. Observa-se uma superorganização dos meninos e meninas na partilha e execução de tarefas, no cuidado com a infraestrutura predial, no zelo pela limpeza, na segurança, na alimentação. Penso que as escolas ocupadas estão em melhores mãos que as outras cujos gestores insistem em fazer funcionar com infraestrutura ruim; precário serviço terceirizado; sem porteiros; com quadro incompleto de professores, pois há uma greve.
Nas ocupações, quanta diferença! Os estudantes, parece, agora, estão completamente apaixonados pela escola. Nenhum deles está pensando em ano letivo. Se há terceiroanistas, não reclamam a falta de habilidades e competências para pontuarem bem no ENEM, cujas inscrições começam em 9 de maio.
As reinvindicações não são surreais frente ao aperto econômico do governo. Afinal, as ocupações são um sucesso! Recebem visitas de autoridades jurídicas, apoio de alguns pais, e, claro, do sindicato dos profissionais da educação, afinal: “tamo junto”!
Mesmo não havendo diálogo com os “ocupados” e seus apoiadores, talvez o Estado não devesse ir à luta por reintegração de posse. As ocupações são um fim em si mesmas e barateiam os gastos com as despesas correntes. Esperemos que os articuladores intelectuais e financeiros das invasões botem a cara para fora e granjeiem o bônus e o ônus político do movimento. E, quando quiserem, saiam pacificamente cansados ou desentendidos.
A sociedade tem sua própria mobilização. E não é passiva e nem considera tudo natural. Os responsáveis têm buscado transferir os filhos para colégios onde não haja greve. Do mesmo modo, a SEEDUC tem que oportunizar isso aos alunos que precisam garantir o ano letivo. Se a judicialização do imbróglio dá ganho de causa a quem constrange o direito de estudar, a saída é procurar outra escola. Lembro que a educação básica é um direito público subjetivo. Não está descartada a matrícula do aluno numa escola particular às expensas do Estado. Além disso, há os que ensaiam um contramovimento que se divide em duas frentes: “NÃO OCUPA” e “DESOCUPA JÁ”.
O jovem de todos os tempos sempre protagonizou ações que pareciam antecipar o fim do mundo para os mais velhos. É uma marca juvenil essa capacidade de produzir o insólito. Primeiro a adesão; depois, às vezes, a justificação. Ficamos na torcida para que esta juventude não seja apenas a “banda numa propaganda de refrigerante”.
Sócrates (470-399 a.C.) dava conta do uso diferenciado da memória entre os jovens e os adultos. Explicava que essa memória estendida de curto prazo podia levar a comportamentos que ele traduzia como amor ao luxo, má educação, desprezo pela autoridade, falta de compreensão para com os mais velhos, gosto pela tirania e por aí vai. Isso, claro, é uma generalização. Não o é, entretanto, dizer que os alunos das escolas ocupadas as querem de volta, pois não podem perder o ano à toa.
Entre o antagonismo e o protagonismo juvenis, cabe nos acostumar a esta agenda do século XXI.

Publicado na OFF-maio/2016

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Tem um chafariz no meio do caminho


Muito da história político-administrativa de Itaperuna pode ser contada na súmula feita em camadas que é a avenida Cardoso Moreira. Pouca gente jovem sabe, mas há uma via central e um leito de estrada férrea inteiros soterrados pela alameda que hoje, apesar de malcuidada, enfeita o centro da cidade e ameniza, com seu correio duplo de árvores e arbustos, o sol cáustico que paira sobre nós.
http://www.estacoesferroviarias.com.br/efl_ramais_2/itaperuna.htm
A avenida, até o final da década de 1970, era um elogio rendido às máquinas automotivas, poucas, mas impávidas, que serpenteavam incólumes pelas três largas pistas. Seus privilegiados proprietários criam no fim do transporte férreo para que a cidade “fosse limpa” dos trilhos que a “enfeavam” e davam-lhe um ar provinciano de atraso tecnológico. A Estrada de Ferro Leopoldina orgulho desenvolvimentista , inaugurada em 1881, é desativada em 1977 por motivos subterrâneos cuja explicação merecem outra oportunidade.
No futuro, o sítio arqueológico de Itaperuna irá contar uma história interessante de como foram os governos municipais de nossa cidade a partir do final da ditadura militar. O corte neste período é em respeito aos leitores contumazes desta página da OFF que não poderão se recordar de tempos mais distantes em que ainda não eram nascidos. Além do que, somente a partir da Constituição de 1988 é que os municípios ganham o poder de se auto-organizar. Antes, até para arranjar um paralelepípedo da rua era preciso a autorização do governador biônico do Estado.
Vê-se de estalo que o prefeito Claudão (1º mandato - 1983 a 1988), ainda que apenas no final do governo, inaugura na administração do município essa, diríamos, vantagem competitiva: melhora a arrecadação do tesouro da cidade a partir da autonomia fiscal trazida pela redemocratização do país e os ventos constitucionais. Por esse tempo, forja-se talvez uma camada definitiva que é a construção do canteiro central da Cardoso Moreira, projeto arquitetônico do CREA, do qual nos orgulhamos, sobretudo porque criou um marco fundamental na disputa pela ocupação do solo urbano. Mesmo com os erros que o desenho do canteiro ainda apresenta, como é o caso da descontinuidade do calçadão para preservação dos cortes das ruas transversais, é como se a cidadania pedestre marcasse seu gol de placa contra a invasão dos automóveis ensandecidos.
De lá para cá, nenhuma evolução. Somente as árvores fizeram seu papel de crescerem fortes para sombrear de ponta a ponta a artéria fundamental da cidade. Além da iluminação de gosto duvidoso e outras maquiagens, em 32 anos, o calçadão não recebeu a propalada ciclovia e nem o estacionamento rotativo. Mas em compensação, ganhou um emblema: um chafariz que é verdadeiro artefato arqueológico a céu aberto.
O símbolo em homenagem ao ex-vereador Hermes Leite era para ser uma instalação sensitiva com ênfase na visão e na audição. Contudo tornou-se marco da disputa mesquinha da política brasileira que tem por mote deixar inacabadas as obras dos opositores. Quando dão continuidade ou reformam, tentam se apropriar da autoria com o fito de apagar da memória popular o benfeitor.
Fingir que não estava vendo um chafariz agonizando no meio do caminho foi a atitude pouco republicana do prefeito Péricles em seus dois seguidos mandatos de 1997 a 2004, mesmo podendo pedir música no Fantástico. Mudou a estratégia, em 2005, o então prefeito Jair Bittencourt. Viu que tinha um chafariz no meio do caminho. “Revitalizou-o” diminuindo seu tamanho original sem calcular a pressão d’água nas serpentinas. Desse modo, no dia da “inauguração” o chafariz, que tinha ficado mais feio, se vingou molhando parte dos convidados e autoridades.

Resultado de imagem para chafariz itaperuna
http://www.paulorobertonews.com/2014/12/sera-que-teremos-chafariz-novamente-em.html
Mesmo assim, o povo continuou ligando a criatura ao criador. Então não teve outra solução se não o abandono. No 3º (meio) mandato do Claudão também não se cuidou da fonte acqualuminosa, que continuava no meio do caminho, talvez aí por se acreditar (?) que ela era obra do Jair. No brevíssimo governo Paulada a fonte era de somenos diante de tantos interesses inconfessáveis. Já o prefeito Alfredão que é uma rima; mas não uma solução, diria Drummond tem feito o possível para apagar o chafariz do Claudão da memória popular. Primeiro veio a indiferença, depois o projeto de modificação que ficou pelo meio do caminho e só fez deteriorar ainda mais a instalação –, agora o reconhecimento de que não é prioridade nesses tempos de piora na arrecadação.
O chafariz tem estórias suficientes para um romance russo, cheio de nomes, personagens e tramas. É um túmulo aberto diante do qual parece que os governantes preferem apertar o botão de DANE-SE.

Publicado na OFF - abril/2016

sábado, 5 de março de 2016

MEU OUVIDO NÉ PENICO NÃO!

Depois de certa idade não descobrimos quase nada; constatamos. A rigor, não há muita surpresa na realidade circundante. Aliás, nada que de certa forma já não nos estivesse anunciado através da perspectiva do olhar e da experiência acumulada tornados, inapelavelmente, conhecimento de mundo.
Dizer que descobri é toda vida mais interessante do que um “achei” ou “encontrei”, que fica parecendo coisa do acaso. Já a descoberta tem o emblema do Eureka (!), assim mesmo com o encanto que exerce sobre os tupiniquins uma expressão em língua estrangeira. Quanto mais se for no idioma de Arquimedes. Mesmo em inglês, com o seu Insight, dá um ar de intelectualidade.
Chega desse preâmbulo e vamos ao assunto desta bagaça de março aqui na OFF. Descobri que praia não é somente mar. E que carnaval não é exclusivamente marchinhas e samba enredo. Foi preciso ter nos hospedado na casa de veraneio dos pais de nosso amigo Silvinho Monteiro, em São Francisco do Itabapoana, durante a folia de momo, para compreender o óbvio.
Eu teria, com gosto, ficado tomando minha cerveja com a vista dos moinhos de vento do parque eólico de Gargaú. Todos os dias, por que não?! Mas insistiram em quebrar minha paz madorrenta. Velocidade não é coisa que me atraia, por isso prefiro ver as ondas e ouvir sua música malemolente quando quebram na praia. Tenho preferência pela calmaria. Mas sei o que a pressa exerce em certos espíritos insurgentes. Na minha modesta opinião, as pessoas, amantes da velocidade 5 do Creu creem poder fugir de si mesmas. O Roberto Carlos, no século passado, já registrara esse fascínio como fuga em 120... 150...200...km por hora. A mim causa vertigem quase desatino.

Vencido, me deixei levar até o Bar do Chiquinho - pérola escondidinha lá na curva do S - entre Santa Clara e Sossego. Surpresa! A música que tocavam era bossa daquelas que nos permite encontrar com nós mesmos, e com os outros coadjuvantes da nossa história, sem esbarrar ou atropelar ninguém. Além disso, eram talentos itaperunenses que se faziam brasa pra assar a sardinha dos são franciscanos. O trio era capitaneado pelo maestro René Zanelli, vivo pra sempre, que sugeria a Adalto e a Jairo Muniz que o acompanhassem no melhor da MPB sem pressa que vai de Ary Barroso a Lupicínio Rodrigues, passando por Ataulfo e Adoniran e por um montão de grandes compositores que não há espaço aqui pra nomear. Às vezes, a cantoria civilizada era abafada, mas não derrotada, pelos alto-falantes móveis que passavam na estrada em frente gritando um funk raivoso. O bar é tudo de bom para quem não é doente do pé e gosta de comida e música brasileiras honestas. Nele há grande chance de ser recebido ao som dançante de “Eu daria tudo que tivesse / Pra voltar aos tempos de criança / Eu não sei pra que que a gente cresce /se não sai da gente essa lembrança”, ao vivo.
De volta ao nosso oásis, tínhamos que passar pela estridente Santa Clara com suas metralhadoras-bang-descidinha-daquele-jeito-que-nem-de-camarote aguento-ouvir-essas-safadezas. E outras. Feitas em público na rua desnuda e imunda. Entretanto passávamos vitoriosos com as janelas fechadas protegidos do calor e da música “gastronômica” que explodia lá fora. Gastrointestinômica (fica mais completa pra se ouvir sentado na privada) no sentido dado por Humberto Eco de que seja uma música sem objetivo artístico, apenas para satisfazer as exigências de um mercado do descartável. Os hits que não acrescentam nada, apenas redizem o que a plateia já sabe e espera com ansiedade ver repetido ininterruptamente, mesmissíssimamente, enquanto tiram os pés do chão e balançam as mãos pra cima, segurando uma latinha morna, atrás de um carro de som alto, rua afora, imaginando que aquilo é música e que o ouvido de todo mundo é penico.

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Nesse carnaval da volta da campeã Mangueira, sob a inspiração da menina dos olhos de Oyá, ficou mais evidente de que não somos apenas o que comemos e o que bebemos; cada dia, sempre mais, a gente é o som que a gente ouve e se balança.


Publicado na OFF - março/2016