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domingo, 9 de novembro de 2008

ESCATOLOGIA DAS COISAS E DE PESSOAS

Enfim acabaram-se as eleições. Todo cronista que se preze faz sinopse do fim de tudo: de olimpíadas, seqüestro, crise econômica, mala de dinheiro apreendida pela polícia etc. O fenômeno do continuísmo, festejado por uns e criticado por outros, deu ares de tendência como se esperava: onde o prefeito fora bem avaliado reelegeu-se, ou a um poste; ao contrário, foi derrotado ainda que tivesse colado sua imagem à de Lula com ou sem o consentimento do presidente.

Em Itaperuna tivemos um plebiscito. Era dizer SIM ou NÃO à continuidade. A cidade foi partida quase ao meio. Surgiram panfletos apócrifos de lado a lado. É pena que quem pagou pesquisas não tenha divulgado o teor qualitativo para sabermos por categorias sociais quem disse o quê. Mas apenas 4,41% quiseram se riodejaneirizar (É que por aqui não havia candidato posando de sunga de crochê). Daí que, passo agora a defender segundo turno para nós e para o povo de Pato Branco. É a última chance para que a questão da educação (a mais importante de todas) possa entrar em pauta de discussão. Como previra, o cenário é de festa. A esta altura, eu acho mais prudente que o clima fosse de transição: pacífica, objetiva e republicana.

Quanto ao Legislativo, convenhamos! Dou um doce a quem me apontar um eleito que não tenha se associado a cambistas para a prática de simonia sobre o dever e o direito sagrados do voto. Vão dizer que é implicância minha com esse poder. Estão certos, absolutamente. Vou repetir: dez assistentes sociais contratados pela prefeitura fazem mais barato (e melhor!) o serviço ao distinto público que todos os vereadores e agregados. De toda forma, Retiro do Muriaé foi o único distrito a eleger vereador e logo dois de uma vez. Anotem aí: ao final de um ano ou dois... três?! tá bom! o mandato inteiro vamos ver se a vida das pessoas que vivem lá irá melhorar. Eu torço para que sim.

Terminaram também as XV Olimpíadas Regionais dos Estudantes de Medicina, que o povo sabia apenas pela alcunha de OREM e até agora não acredita que o epíteto do poeta Juvenal ''mens sana in corpore sano'' tivesse alguma coisa a ver com os acontecimentos. Muitos nem sabiam que se tratava de jogos olímpicos. Outros criam piedosamente serem cruzadas religiosas pelo deslocamento da tonicidade na sigla do evento. A despeito de muita especulação a priori e muita fofoca durante, a posteriori tudo acabou bem. Uma “cabeça-de-nego” aqui, uns manequinhos de chafariz lá, injeções de glicose acolá e muito qüi pro có alhures; nada que não se possa abater na conta dos lucros. A rede hoteleira e o comércio em geral que o digam.

O que não acabou bem na foto, todos sabem, foi o seqüestro em Santo André. Admitamos! Há alguma coisa errada quando a polícia devolve ao seqüestrador uma das reféns. Isso não pode fazer parte de nenhuma estratégia que não seja a do suicídio ou do homicídio. Acho que vão perdurar interminavelmente os estudos periciais que determinarão se os tiros que atingiram as reféns se deram antes ou depois da invasão do apartamento pelo GATE e, também, se saíram mesmo da arma do seqüestrador.

A crise econômico-financeira globalizada ainda não acabou e parece mesmo interminável e cada vez mais próxima de nós. Na edição de julho, eu adiantara aqui que nossos hermanos argentinos iriam acabar com a previdência privada deles, lembram?! Pois é, Cristina Kirchner acabou de fazer isso. No entanto, erra, infelizmente, quem celebra os estertores do capitalismo. Ele é hegemônico mesmo na bancarrota e, como não há outra via em curso, vai continuar impondo a política das Bolsas e o tamanho dos nossos bolsos. Há algo de risível nessa crise, concordemos. Trocaram o nome ESTATIZAÇÃO por NACIONALIZAÇÃO a fim de nos fazer acreditar que socorrer os bancos comprando seus papéis podres com o dinheiro público é patriotismo. Então reconheçamos nossa derrota e adotemos o epitáfio que Drummond nos escreveu em sua Elegia 1938: “Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.”

Bem, esse negócio de dinheiro para financiamento de campanhas políticas (leia-se, na maioria dos casos, para compra de votos) pode acabar com a biografia de uma pessoa. Mas - como ensina a amiga Beth Senra - sobre loucos, fica para a próxima.


Crônica publicada na revista Estilo OFF de novembro/2008.