A sociedade brasileira está mais uma vez chocada. Dias desses, um dos telejornais de maior audiência do país mostrou um bandido ensinando ao seu filho e a sua sobrinha a assaltar e a matar. Sinceramente, nunca tinha visto algo semelhante. É até mesmo diferente das notícias que temos de exército de crianças treinadas para a guerra no Oriente Médio e na África. Talvez por crer que isso fosse algo muito distante de nós, que não apresentava similitude com nosso país.
A chamada civilização - “preeminência” do mundo ocidental - sempre exercitou seu poder através da violência seja física, moral e/ou psicológica. Contra a criança a violência mostra sua face mais cruel: desequilibra as relações humanas e fomenta sua perpetuação junto à espécie. Mas, temos caminhado em busca de soluções que vão do institucional às tentativas de reeducar os adultos para a convivência em sociedade.
O exercício do poder pela violência faz vítimas principalmente entre as crianças. São elas a porção mais frágil e, portanto, mais suscetível ao sofrimento. Talvez a violência tenha se tornado um modus vivendi da sociedade, isto é, faça parte da cultura de muitos povos. De outro modo não se pode compreender como ela tem permeado a história das sociedades desde a violência física em favor da sobrevivência na disputa pelo território, pela comida, passando pela violência reconhecida - imposta aos “sacos de pancadas” - na Idade Média, até aos modernos meios de violência, tais como: a exposição a certos programas de televisão, a reclusão, a precocidade sexual, o abandono familiar, o incesto, o trabalho infantil...
A comunidade científica está comemorando neste ano o centenário de nascimento de Charles Darwin. Toda polêmica a parte, os neodarwinistas têm lançado o que eu chamaria de luzes sobre a discussão da violência. Segundo o doutor Richard Trembaly da Universidade de Montreal, “os bebês só não matam uns aos outros porque não lhes damos acesso a facas e revólveres”. Claro que essas ideias não são tão originais assim; pensadores como Hobbes e Locke já filosofavam sobre a gênese da violência humana. Destarte não podemos ignorar as causas sociais e muito menos o determinismo genético na composição da impetuosidade da espécie.
O stress do mundo moderno pode toldar de tal sorte a mente a ponto de levar as pessoas a comportamentos violentos como forma de extravasarem a ansiedade ou compensarem perdas. Para além disso, acredita-se que nossa sociedade, esquecida de sua origem de cooperação, optou ou foi levada a optar pela competição. Desse modo, até mesmo a criança pode representar, ainda que circunstancialmente, um competidor a ser derrotado, ou um estorvo a ser removido do caminho, como no intrincado caso Isabella Nardoni.
Numa perspectiva histórica, o que mais chama a atenção é o crescimento da desfaçatez com que a violência é praticada, chegando mesmo a sua completa banalização.
Particularmente, não creio no acaso, nem na sorte, muito menos nas coincidências. Por isso, reluto em compreender o ato violento como manifestação de entidades espirituais, demonismo e coisa e tal. A grande questão, parece-me, não é o como nós aprendemos, ou somos determinados, a agredir uns aos outros; mas como estamos nos educando para não fazer isto.
De novo, na Escola reside a possibilidade de uma sociedade de paz. É lá o único lugar onde não se pode conceber a violência. Infelizmente, os muros das escolas têm sido aumentados quase acintosamente. Em algumas se veem até cercas elétricas. Há alguma coisa estranha aí. Lembro-me de que sentávamos nos murinhos que rodeavam nossas escolas aqui em Itaperuna e nossa comunidade era muito mais feliz. Afinal, estamos nos aproximando ou nos afastando do ideal de respeito, de direito, de justiça com que as pessoas em sociedade se devem tratar? Mas o caminho é mesmo esse: educar para a não-violência, através do resgate permanente da cidadania, e combater a violência através da lei.