Fazer
Bodas de Coral, 35 anos de casamento, nestes tempos pós-modernos não é pouca
coisa. Não à toa, isso é uma pauta da hora. Desde algumas décadas que a
durabilidade das uniões de casais tem chamado mais atenção pela resistência da
instituição do que pela idade dos pares. Antigamente, quando a gente ouvia
dizer que um casal estava fazendo Bodas de Ouro ficava pensando em quão
velhinhos e carcomidos deviam estar os nubentes e como conseguiriam renovar os
votos com cerimônia, lua de mel, pegar a noiva e tudo mais àquela altura.
Naquele
tempo, pareciam raros os casais que chegavam à comemoração dos 50 anos de união.
E a sociedade reconhecia como digna de louvor essa, digamos, manutenção da
promessa matrimonial de fidelidade, amor e respeito “por todos os dias da nossa
vida, até que a morte nos separe”.
Eu
era cético a uniões tão duradouras. Achava que a instituição do casamento não
se sustentaria pelas próximas décadas. As evidências eram a raridade de casais
com muitos anos de união, as separações judiciais ou não, e a Lei do Divórcio
(1977), que chegava pra comprovar a minha tese de que o casamento fora
inventado pra durar somente enquanto não se acabasse.
Enganei-me.
A instituição casamento não só permaneceu e tornou-se mais popular, quanto
expandiu-se qualiquantitativamente. Agora muita gente se casa mais de uma vez.
Casa-se pela festa. Há quem se case a fim de receber pensão do INSS –
viúvos profissionais (mais aí é caso de polícia e não de tabelião). Não se casa
mais apenas para ter filhos. Além de tudo, o casamento, em boa parte do mundo
civilizado, já não é somente entre homem e mulher.
Hoje,
muitas uniões continuam duradouras. Entre gente do meu convívio tenho visto
dezenas de casais comemorando Bodas de Porcelana, de Prata, de Pérola etc. Isso
tem explicação na expectativa de vida do brasileiro. De 1980 –
ano em que eu e Elâine juntamos nossas escovas –
pra cá, o indivíduo que esperava viver, em média, 62 anos e seis meses, ganhou
a chance de chegar tranquilo aos 73 anos e nove meses em 2010. Não é nada não é
nada...uma Bodas de Aço.
Mas
as uniões mais duradouras têm seus segredos. Não chegam a ser fórmulas ou
receitas, muito menos magia.
Certamente
a resposta que cada um dá à Nietzsche, quando ele nos desafia a dizer se
seríamos capazes de ter prazer em conversar com a pessoa com quem nos casamos
até à velhice, é decisiva na durabilidade e na qualidade de uma relação a dois.
Aproveito pra dizer que o casamento é uma sociedade que pode durar pra sempre e
ser infinita, porque não é chama; mas lenha.
O
pensador Rubem Alves fez uma comparação inusitada e acertadíssima. Disse que há
casamentos que se parecem com um jogo de tênis, outros com o de frescobol.
Enquanto o tênis é uma disputa que termina sempre com um vitorioso e outro
derrotado, o frescobol não termina nunca e ninguém fica contando quantos pontos
fez. Nele o prazer é jogar de tal maneira bem a bola que facilita que o outro a
devolva redondinha também e juntos não deixem que ela caia. Quando alguém erra,
pede desculpas. Os erros não são comemorados. Goza-se com cada acerto. No meio
do jogo se pode contar histórias sem fim de mil e uma noites... sem sofreguidão,
sem pressa, com calma e com sensibilidade. Não se precisa mais provar nada um pro
outro. O sexo não se faz mais somente através dos órgãos sexuais; também com o
coração e com a mente. O “eu te amo” não é mais uma vez a confissão forçada ou
impensada no espasmo do corpo; mas é sim o erotismo da alma.
Que
venham as Bodas de Jequitibá!
Publicado na ESTILO OFF - agosto/2015
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