Não tenho compromisso de criticar as organizações
Globo. Exceto quando dizem e fazem besteira. O problema é que ultimamente têm
feito muita, abusando do direito de errar intencionalmente. Nem estou levando
em consideração o mesmismo da programação televisiva; a indigestão a que têm
submetido os telespectadores com o excesso de telenovelas diárias; a exibição
de lixo dominical; o manchetismo de “O Globo”; a autofelação narcísica; ou
mesmo a criminosa cobertura jornalística das eleições de 2014. Mas agora, a
editorialização dos fatos no caso “Charlie Hebdo”, ainda que fazendo coro à
imprensa do resto do mundo, me levou ao cansaço extremo para não dizer
deselegantemente ao nojo. Sobretudo o se tem feito na telinha deixou de ser jornalismo
para se tornar propaganda faz um bom tempo. Para desgraça do bom jornalismo, a
imprensa global se dá a inventar ardilosamente histórias, a transacionar
opiniões e fatos, a negociar vazamentos seletivos, a interferir no andamento de
investigações e outras cositas más.
Vem daí que este articulista de mais
de um lustro de ESTILO OFF não poderia deixar de se pronunciar sobre o caso. É
que para o jornalismo dos Marinhos, parece que ficou politicamente incorreto
não aderir à causa “Je suis Charlie”. Ora, me poupe! A rede Globo não tem mais
a hegemonia da moda nacional. Acho mesmo que é o contrário disso. Agora a
população pensa duas ou três vezes antes de acreditar no que escrevem e dizem
os “Globo”, ou de aderir às suas campanhas, assistir a seus BBBs e replicar
seus bordões. Além do mais, a causa da defesa de semeadores de maledicências,
xenófobos e porras-loucas irresponsáveis não me parece uma pedida saudável.
A imprensa internacional, incentivada
pelas verbas de propagandas governamentais, aderiu na primeira hora à campanha
antiterror capitaneada por EUA, Israel e França, que de há muito praticam uma
política prevencionista que beira à islamofobia. Foi a essa Cruzada que o plim
plim se alinhou, mais uma vez e sempre.
Longe de mim defender o terror, ou o
imperialismo. Acho que sua existência, entretanto, testemunha a incompetência
humana para a heterogenia, para a convivência entre os diferentes, para a paz
mundial. A sociedade dominante, no fundo no fundo, mesmo fazendo o exercício da
tolerância, acha insuportáveis os povos fora do eixo judaico-cristão e as
economias não alinhadas.
Eu
não sou Charlie. E
não é por que sê-lo pareça unanimidade burra, pecado mortal, ou em razão de o slogan ser fácil e ordinário demais. É
porque acredito que devesse haver uma responsabilidade
pela expressão que se antecipasse à liberdade
de expressão. Se quiserem chamar a isso de censura que chamem. Mas saibam
que um pouco de repreensão talvez tivesse evitado o massacre dos cartunistas da
Charlie Hebdo. Não foi a primeira vez que o deboche e a liberdade de “tirar
sarro” com a crença alheia fizeram da sede do semanário humorístico alvo de
ataques de muçulmanos de saco roxo. Em 2011, uma bomba incendiária foi lançada
como um aviso de desaprovação do humor desmedido dos cartunistas contra a fé
islâmica. De outro lado, não acredito que os fanáticos religiosos desse 7 de
janeiro tenham feito um atentado à liberdade de imprensa, como querem nos fazer
crer a cretinice falada e escrita. Nada disso! A meu ver, o que fizeram foi
vingança.
Publicado na OFF-fevereiro/2015
2 comentários:
Caro Zeluiz, acabei de ler esse seu texto na Estilo Off e prontamente quis vir aqui e lhe parabenizar pelo modo tão contundente e ético em expor uma verdade que pouquíssimos conseguiram ver na época dos fatos do ataque ao Charlie Hebdo.
Concordo quando diz que é necessário haver uma responsabilidade pela expressão que antecipe a liberdade de expressão, pois somos responsáveis pelas consequências daquilo que expomos, seja em atos e/ou palavras.
Creio que seu texto devesse ser lido por todos os que procuram expressar seus pensamentos, para que compreendam que os limites éticos, sociais e, até mesmo, religiosos, devem ser respeitados e considerados.
Mais uma vez, parabéns!
Deus lhe abençoe!
Valeu, Ana Paula!
Somos diletantes e não temos a pretensão de convencer pessoas, pois isso, acreditamos, cada um deve fazer por si. Toda informação tem que permitir a escolha livre de cada leitor.
Obrigado por sua visita e pela leitura honesta do texto. Ninguém sabe tudo. O conhecimento está no coletivo.
Um grande abraço.
Postar um comentário