Os benefícios da web
já vimos desfrutando há muito; mas, definitivamente, também as mazelas da
internet entraram de vez na vida social. Parece que agora as faturas têm
chegado caras e vencidas; a Carolina Dickman que o diga.
Sempre pontuei que as
pessoas decididas a preservar sua privacidade devessem ficar longe das redes
sociais, facebook e afins. Eu não
tinha a dimensão das possibilidades dos hackers,
crackers e X9 virtuais; de sua
capacidade endoscópica que pode invadir nossas entranhas e e-mails. Claro que
deixam os rastros pelo caminho da inconfidência possibilitando o flagrante e a
punição, mas aí... é casa arrombada e Inês morta.
Para
além das pertinências e impertinências dessa nova configuração da vida em
sociedade em que a internet se impõe como espaço do achamento, do encontramento
e da conversação é preciso nos lembrar todos da perda de um sentido humano
fundamental nas relações: a percepção fina que o olho no olho propicia. De toda
sorte, não tenho dúvidas de que o ser humano é capaz de desenvolver habilidades
suficientes para superar os desafios que vêm e virão surgindo nesse afã de
colar os “tais caquinhos do velho mundo”.
Nas
eleições presidenciais de 2010, a internet teve um papel, senão decisivo,
bastante pronunciado e sacudiu a própria legislação sobre o assunto. Todos nos
lembramos da guerra de marketing travada no front virtual da webimprensa:
sítios de jornais, blogs, redes sociais. Agora, nas eleições municipais, muito
mais do que vitrine, a internet tende a ser uma ágora de intensa manifestação
de idéias, opiniões, denúncias, maledicências, falsidade e extorsão virtual em
tempo real. A própria ministra Carmem Lúcia – TSE – disse que o twitter
é uma mesa de bar virtual. Os comícios, portanto, virão para dentro de nossas
casas através dos portões digitais.
Ninguém
estará imune ou protegido contra a invasão das campanhas políticas em sua vida.
Não se terá o direito à indiferença, ao descaso ou à apolitização. Os
bombardeios não terão hora marcada nem espaço delimitado. Não há casamatas.
O mestre
em Administração, Stephen Kanitz, tem usado a expressão “vigilância epistêmica”
– preocupação que todos
nós devíamos ter com relação a tudo o que lemos, ouvimos e aprendemos de outros
seres humanos, para não sermos enganados. Significa não acreditar em tudo o que
é escrito e é dito por aí. – a fim de nos alertar sobre os perigos
que rondam os navegadores desse mar de informação, contra-informação e
desinformação que é a internet.
No bom nome da
liberdade de expressão, as pessoas têm, justamente, o direito de dizer o que
pensam e mesmo a reproduzir e ampliar o que pensam outras. Gosto de recordar
que nossa Carta Magna é muito objetiva em repudiar a censura à opinião. Entretanto,
no decantado artigo 5º, que cuida de anunciar a nossa igualdade perante a lei,
o inciso IV anuncia que “é livre a manifestação do pensamento, sendo
vedado o anonimato”. E este é um
ponto fundamental sobre o qual devemos cuidar de ficar atentos: a assinatura
dos interlocutores. Precisamos ter pelo menos o crédito de saber com quem
estamos falando e a quem estamos lendo e/ou ouvindo antes da curiosidade
desmedida e burra de sair clicando links por aí.
Não estou declarando guerra à internet, apenas lembrando que nela habitam o trigo e o joio - o que os separa é a credibilidade sem fiador e o cheque caução. Se de tudo precisar navegar pela internet diariamente, saiba que não há mapa preciso e o mar não é o da tranquilidade.
Publicado na revista Estilo OFF - junho/2012
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