As pessoas começam a envelhecer quando dizem “no meu tempo não era assim...”, quando eu era moço...”, “antigamente é que...”. Dizem isso, invariavelmente, por uma dificuldade de compreender e aceitar a realidade. Não estamos falando aqui de idade cronológica; mas mental, comportamental. Ao contrário dos seus contemporâneos, minha mãe sempre diz que tempo bom é o de hoje. E desfia um rosário de dificuldades que viveu na sua juventude em elogio às novas tecnologias que exemplifica com o chuveiro elétrico, o ferro de passar roupas a vapor, o fogão à gás, o liquidificador etc. Ora, até mesmo para este quarentão, é difícil entender a vida sem essas facilidades tecnológicas nem tão novas assim. Acho que herdei dela esse sentimento evolucionista. Não posso admitir que a humanidade ande em algum momento para trás. A história ajuda a compreender o presente e até orienta o futuro. Entretanto, ela não é uma alternativa de vida.
Tenho ouvido muitos discursos surrealistas, sobretudo dentro da Escola, apregoando a volta de certos valores do passado - mais ou menos na base do “vigiar e punir” - que resultassem em joelhos nos caroços de milho, mão à palmatória e que tal. Um saudosismo meio mórbido e fantasioso de que seja possível viver esses tempos tão dinâmicos e inclusivos de hoje na base dos vinte quilômetros por hora, velocidade que os automóveis alcançavam em mil e novecentos e antigamente. E, o que é pior, dentro de ternos de casimira e vestidos plissados.
Neste dia 11 de agosto também se comemora o dia do estudante. Apesar de a data ter sido criada numa referência à instalação de dois cursos de Direito, sempre penso no dia em relação às crianças e aos jovens. Isto porque na minha cabeça a infância e a juventude são os melhores e mais proveitosos momentos para se estudar sistematicamente. Além disso, gosto de ver a vitória da infância e da juventude na luta secular pelo reconhecimento de sua cidadania e de que este período da vida é produtivo, pois estudar é também uma forma de trabalho, ainda não remunerado.
O cientista inglês David Bainbridge, um evolucionista, tem afirmado ser entre os 11 e 20 anos que muitas das habilidades humanas são desenvolvidas. E vai mais adiante: “Sem a adolescência, os seres humanos não passariam de uns bobos incoerentes dotados de um cérebro enorme.”. Muita gente inteligente já sabia disso, mas reluta
Se continuarmos perdendo nessa proporção os nossos jovens, de um lado pela violência homicida e de outro por uma Escola cujos professores querem uma clientela adestrada e disciplinada que não lhes dê muito trabalho para escolarizar, a falência é certa como o dia amanhecerá, queiramos ou não.
Por isso, desejo prestar esta homenagem a todo estudante desse país. Fazer hoje um mea culpa, por que não?! Somos nós que existimos para você e não o contrário. Desculpe-me e aos meus colegas professores:
Por querê-lo igual aos outros;
Por desdenhar dos seus direitos;
Por debochar do seu desconhecimento;
Por ter feito a pegadinha na avaliação;
Por “valorizar” os seus erros;
Por menosprezar seus acertos;
Por não ter preparado a aula;
Por não entregar os resultados em tempo;
Por compará-lo;
Por não reconhecer o seu time;
Por tentar convencê-lo das minhas verdades;
Por buscar cooptá-lo;
Por ter faltado à aula;
Por ter usado você para uma desculpa;
Por tê-lo chamado de preguiçoso;
Por ter sido deliberadamente injusto com você;
Pela impaciência;
Pela intolerância;
Pela covardia;
Pelo mau juízo;
E por tudo que fez você sofrer.
Professor Zeluiz
Centro Interescolar de Agropecuária de Itaperuna
Crônica publicada na Revista Canal da Cultura - CAE de agosto/2009
5 comentários:
Meu amigo Zéluiz, se eu não o conhecesse ficaria admirado pelo seu grau de interpretação do universo que nos rodeia mas, conhcedor que sou, só tenho de admirá-lo em suas andanças literárias. Parabéns !
Assim que puder faça-nos uma visita:
mrcyberchaos.blogspot.com
Professor...obrigada por compartilhar conosco suas belas crônicas!Realmente o Nivaldo acertou quando me disse que eu iria gostar muito do seu texto!
Parabéns... e Parabéns a CAE!
Abraços...
"Salve ...salve os cronistas!!!"
Fiquei feliz em saber que você é uma das poucas pessoas que sabe realmente interpretar as coisas no mundo hoje em dia ( isso é raro ) .
Adorei o texto , e me identifiquei muuuito com ele !
Parabéns !
Grande Mestre Zéluiz!
Parabéns pelas observações sempre lúcidas a respeito do universo escolar q vc com muita propriedade descorre em suas crônicas.As escolas merecem mestres como vc, por certo seus alunos são privilegiados.Abço grande.
"Olá colegas,
Deixo aqui a divulgação da Primeira Olimpíada Nacional em História do Brasil, iniciativa inédita no país, organizada pelo Museu Exploratório de Ciências da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com o apoio do CNPq. A Olimpíada é para escolas públicas e particulares e acontece pela internet, com equipes formadas por estudantes do oitado e nono anos do ensino fundamental e por estudantes do ensino médio, juntamente com seu professor. As inscrições já estão abertas!
www.mc.unicamp.br
Obrigado"
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