A mudança do local da
feira livre de Itaperuna teve capítulos de uma queda de braço entre os
feirantes e a prefeitura. Na verdade, nenhum dos dois lados acreditava que o
novo local atrairia os clientes habituais e xepeiros tradicionais acostumados há
décadas de desconforto, furdunço e abandono na avenida senador Francisco Sá
Tinoco. O problema era que não tirar o livre comércio de seu antigo local não
estava entre as possibilidades. A alternativa de levar a feira para a avenida deputado
Cory Pillar se impunha face à retomada das obras de drenagem e esgotamento
sanitário da Vinhosa. Ou seja, a transposição da feira não tem nada a ver com
projeto de melhoria do trânsito ou de respeito aos feirantes e consumidores,
que há décadas carecem de atenção do poder público.
Quase todo mundo mais
ligado ao assunto do deslocamento da feira errou redondamente em relação à
resposta dada pelo povo. Disseram que 40% dos feirantes não compareceriam no
primeiro sábado no novo endereço. Houve até mesmo feirante que não se preparou
para o boom de vendas ocorrido na
inauguração da nova rua da feira e ficou com carão. Eu não sou muito bom de
cálculos, mas frequento com certa regularidade a feira livre de nossa cidade, por
isso suponho que o movimento tenha sido maior do que o historicamente
registrado no antigo local. Mesmo que não tenha crescido, foi ao menos muitíssimo
mais organizado. Aproveito, neste ponto, pra dizer que quem não gosta de feira
é ruim da cabeça tanto quanto os que não gostam de samba.
O bom funcionamento da
feira em seu novo local surpreendeu. Creio que até mesmo o secretário de
agricultura do município, que entende do riscado, não acreditava nesse sucesso.
Esta era uma estratégia da administração, dos secretários envolvidos, do
prefeito? Claro que não! Penso que toda a discussão acabou por funcionar como marketing para o negócio do varejo
popular. Acordou uma parte da população que estava esquecida da existência da
feira livre todo sábado. O que já tinha, por assim dizer, caído na rotina tornou
a virar novidade, renovou-se. Creio que uma reflexão sobre a apropriação dos
espaços públicos vem permear o debate sobre a transferência e o funcionamento da
feira em sua nova casa.
Os moradores do
Loteamento João Bedim e adjacências – acho que posso falar em nome deles –
receberam os feirantes de braços abertos; afinal, tê-los todos os sábados pela
manhã é muito melhor do que conviver com as autoescolas e seus aprendizes de
motorista durante a semana inteira e, regularmente, com o engarrafamento e perigo
trazidos pelo pouco zelo do próprio Detran-RJ nos dias de exame de direção.
Há um fato interessante
que passa desapercebido para muita gente que pensa a cidade. O centro comercial
de Itaperuna tem se deslocado, ainda que vagarosa, mas visivelmente, em direção
aos bairros Cidade Nova e Presidente Costa e Silva. De malas prontas chegaram supermercados,
concessionárias de carros, agência bancária, escolas particulares, lojas de departamento
talvez fugidos das enchentes que castigam ordinariamente o centro da cidade
mais do que os bairros novos. Desta forma, a vinda da feira pra cá é mais um
sinal.
Infelizmente, a
administração municipal de Itaperuna erra até quando acerta. Desorganiza quando
tenta organizar. Não fosse assim evitaria apregoar a provisoriedade da mudança
do local da feira; não estaria gerando uma enorme insatisfação nos feirantes e
clientes mudando as barracas de local a cada sábado – a gente fica tonto sem
saber onde estão os produtos que queremos –; e, por último (espero que seja a
derradeira burrice), impondo aos feirantes a taxa banheiro/lixeira (um negócio
de sublocação – para não dizer outra coisa – que tem cara de malfeito). É como
se a municipalidade não pudesse arcar com isso. O poder público tenta pegar
carona na popularidade da feira; mas, atrapalhadamente, acaba metendo os pés
pelas mãos. Ora, os feirantes, em sua maioria, são pequenos produtores com
reconhecido direito à informalidade; não são caçadores anuais de níqueis como
os barraqueiros da festa de 10 de maio. Por falar em festa de maio... deixemo-la
pra lá.
Publicado na OFF - junho/2014
Nenhum comentário:
Postar um comentário