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quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

FÉRIAS

Estou de férias da escola, mas não das pessoas e das coisas. Acabo de chegar de Santos - belíssima cidade paulista - onde passei o Ano Novo entre velhos e novos amigos. Santos está uma beleza: as praias maravilhosas; os pontos turísticos bem cuidados; o patrimônio histórico preservado; a população hospitaleira e os bares... ah, os bares! O prefeito Papa, reeleito com 77% dos votos, foi aprovado e vai poder dar continuidade a uma administração de sucesso.
Disse que não entro de férias das pessoas e das coisas. Senão como ficariam minhas convicções? Acredito que ninguém deve se economizar. Há pessoas que se tornam ainda mais egoístas no recesso. Férias podem significar descanso de determinada rotina. Entretanto prefiro vê-las como oportunidade de renovar as forças e reformular o planejamento. Não por acaso estou debruçado sobre o livro do Daniel Pennac que acabei de adquirir. Chama-se “Diário de escola” (Rocco) e aborda a questão da educação de jovens por um prisma inédito para mim. O educador francês confessa ter sido um jovem idiota e defende a tese de que muitos jovens precisam de um choque de futuro. Isto é, a escola deve prepará-los para a vida, mas eles precisam saber que esse é o propósito dela e cobrar deles a transformação ainda que tardia. Pennac insiste em que os adolescentes têm que querer um futuro; precisam desejar uma profissão no mercado de trabalho e construírem suas próprias condições de bem estar. Trabalhar com educação é muito desafiador e toda experiência é bem-vinda. Em meio a essa leitura vou preparando minhas próprias estratégias de como lidar com meus alunos em cada segunda-feira pela manhã neste e nos próximos anos letivos.
Pra que você tenha desejo de conhecer mais esse romance do Pennac, transcrevo um trechinho para degustação:
Nossos “maus alunos” (alunos considerados sem futuro) nunca chegam sozinhos à escola. É uma cebola que entra na sala de aula: algumas camadas de desgosto, medo, preocupação, rancor, raiva, vontades não satisfeitas, renúncias furiosas, acumuladas no fundo de um passado vergonhoso, um presente ameaçador, um futuro condenado. Olhe como eles chegam, seus corpos em formação e suas famílias dentro das mochilas. A aula não pode verdadeiramente começar antes que o fardo seja depositado no chão e que a cebola seja descascada. Isso é difícil de explicar, mas um só olhar às vezes é suficiente, uma frase de simpatia, uma palavra de adulto confiante, clara e estável, para dissolver as tristezas, tornar mais leves esses espíritos, instalá-los num presente rigorosamente indicativo.
O livro custa apenas R$ 29,90. Coisa de mais ou menos 10 cervejas que, sei, você deve já ter bebido nessas férias. Eu, já!

3 comentários:

Unknown disse...

Ola!
Sua crônica ficou espetacular, de muito bom gosto.
Tb estamos com muita saudade, com certeza foi um fim de ano inesquecível
Beijo grande!
Josy e Eraldo.

Anônimo disse...

Caro Zé,
Às vezes penso que “engano” bem como professor porque fui um péssimo aluno. Tomei muito “cock” na cabeça por causa de gramática e tabuada, talvez seja esse o motivo de eu estar sempre enchendo o saco para revisar meus textos.
Daniel Pennac também teve este problema no início do ensino fundamental. Não li nada dele ainda, mas, por identificação, me lembrei de sua entrevista, recentemente, no “O Globo”.
Quanto aos 10 a zero em comentários, você está certo, comento muito pouco, mas estou me esforçando.
Um abraço amigo
Fernandão

Professor Zeluiz disse...

Olha, Fernandão, não acredito sinceramente que sejam bons professores quem não teve problemas quando aluno e, sobretudo, se não se lembrar deles. Creio ser exatamente a recordação - trazer de volta ao coração - das dificuldades e das facilidades em relação aos conteúdos é que orienta nossa prática pedagógica e nos faz capazes de ajudar o menino e a menina a saírem da alienação.
Forte abraço pra você.