Quando se vê, já é outubro. E o ano,
que tinha começado agorinha, já tá pra virar. Em dois ou três meses – nunca se
sabe ao certo, pois o tempo não é feito somente de cronologia –, que tendem a
passar rapidinho, puf. Foi-se.
O último mês do ano nem se fala! É
aquela sensação de que não vai dar tempo. Vai ficar pelo caminho a grande
maioria dos projetos sonhados. Certa vez eu disse aqui, em OFF, que dezembro é
um mês que não cabe em si. Afinal, são muitas confraternizações que preparam o
Natal e, depois, o Ano Novo – uma festa que, no fim, parece pertencer mais ao
ano que passou do que ao que está chegando.
Ah, novembro! Nem sabemos ao certo como
acontece de haver um mês tão galopante! É uma antecipação, sem dúvida! É um making of, para dar a isso um tom
anglófilo. São apenas 4 finais de semana, mas em compensação teremos 3 ou 4
feriados e, a depender da economia que os administradores da coisa pública
topem fazer... pelo menos uma sexta-feira de recesso contra 17 dias úteis para
sentir o pulso de quem irá sobreviver. Outubro fecha o tríduo e o final de mais
um ano. Esse mês, originalmente, era mais grandalhão. Daí arranjaram um feriado
para cravar quase no meio dele e isso lhe atenuou a duração. A mim, traz sempre
a sensação de que estou definitivamente no segundo tempo.
Agora, em muitos lugares do mundo é
primavera. Menos em Itaperuna. Aqui na pedra quente - digo, na pedra preta -
sempre é meia estação. Sim, por essas bandas temos o verão-outono,
verão-inverno, verão-primavera e verão-verão. Tivesse nascido no Noroeste
Fluminense, Mário Quintana, para poetizar a rápida passagem do tempo, por certo
teria feito umas linhas dizendo que “quando se vê, já é verão”.
Quando eu era criança, não
enfrentávamos esse clima de deserto que se instalou definitivamente. O regime
de chuvas era outro. Tanto que podíamos contar, praticamente durante o ano
inteiro, com as poças das pancadas d’água para uma das brincadeiras de maior
apelo entre a criançada: reparar o espetáculo que há nas poças d’água. O
reflexo de tudo nelas. Pisá-las como num batismo de pés descalços por condição,
ou por opção preferencial. E o apogeu: num movimento atlético, com a parte de
baixo do pé, chutar para mandar a poça inteira de água barrenta no outro.
Porque o barro torna a brincadeira mais original e emocionante. Tudo feito com
uma gritaria combinada. Fazia sentido aquele catarro escorregadio limpado com
as costas das mãos. A umidade relativa do ar estava sempre a nosso favor.
Eventualmente havia tempos secos.
Nessas ocasiões, o Muriaé e o Carangola minguavam mostrando seus esqueletos de
pedra. A serpente mansa corria límpida e esquálida no desvão das rochas. E se
acreditava que fazendo procissões e rezas ao pé de um cruzeiro a chuva desceria.
E nos prontificávamos com esperança. Entretanto eram raros os anos em que os
períodos de estiagem se prolongavam demais como vêm sendo ultimamente. E mesmo
rezando mais, e mesmo fazendo procissão de whatsapp
em correntes intermináveis, a chuva cada vez demora mais, e dura menos, como se
fora um castigo.
Todavia já é outubro e certamente
choveu. É possível que a água da chuva, mesmo que pouca, tenha apagado da memória
social o aperto das consequências e o desmazelo sobre as causas. Novamente
fazendo surgir a indiferença atitudinal. Somente no ano que vem, entre junho e
setembro a gente volta a se mobilizar pro lamento, pra dança e pra oração pela
chuva.
Para fazer diferente desta vez a gente
pode adotar um princípio confuciano bem bacana e útil: “o que eu ouço, esqueço.
O que eu vejo, lembro. O que eu faço, aprendo”. Neste dia 8 de outubro, a
partir das 9 horas, na Praça de Skate, todo mundo está convidado para o ABRAÇO
NO RIO MURIAÉ.
Publicado na OFF - OUTUBRO/2017
3 comentários:
Como sempre, primoroso!!!
Também, com os leitores que tenho fica mais fácil!
Magnífico! Abrace o rio por mim. Amo os rios, preferencialmente cheios.
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