Cada pessoa
costuma ter preferência por algum mês. Eu, por exemplo, gosto muito de abril.
Tenho a sensação de que o ano finalmente começa sem risco de voltar atrás. Mas
não é somente isso. Tem o amanhecer, a iluminação, a temperatura um pouquinho
mais amena certificando nossa saída do inferno que é Itaperuna no verão. Talvez
justifique esse meu gosto uma nota cultural: desde criança carrego a convicção
de que a verdadeira Páscoa, aquela com ovinhos de chocolate, bacalhau, e leite
de graça ganhado nos currais dos sítios lá de Retiro do Muriaé, sempre acontecia
em abril. Isso sem contar que nesse mês havia um feriado que não entendia
porquê; ficava fulo da vida vendo todo mundo exortando o Tiradentes e não o
Descobrimento do Brasil que eu achava muito mais importante. E ainda há
Afrodite com todos os tons de cinza a que nos remete!
Entretanto,
ainda hoje, maio é certamente o mês mais querido da maioria das gentes; é de
Maria para os católicos do mundo inteiro, é das noivas suspirosas e de muitas
outras flores. Eu acho simpático, mas nada como abril. Nem junho do meu
aniversário, dum montão de santos festeiros, da paçoca e do quentão e dos
arrasta-pés em chão batido é melhor que meu abril.
Já foi o
tempo em que julho era adorado por todos da escola; com 180 dias de aula no
calendário da educação, o mês era inteirinho um recesso. Quem podia viajava.
Hoje, tanta gente pode, mas a folga ficou pequenina.
Não tenho
preconceito, mas agosto... não é só a rima ou o senso comum. Talvez por ser um
mês em que não há feriado em calendário nenhum; ou pelo curioso suicídio de
Vargas de que, crianças, a gente ouvia os pais lamentarem, agosto é assim meio
sinistro.
Ah,
setembro! É meu vice-campeão! Mas eu queria mesmo que fosse hors concours. Não sei se já disse que
em minha adolescência eu era apaixonado pela Vanusa. Pronto! As manhãs de
setembro nunca me saem da cabeça.
O mês mais
grande (tive uma vontade enorme de escrever assim) sempre foi outubro. Trinta e
um dias que pareciam dois meses juntos. Então criaram um feriado nos anos de
1980. Foi para institucionalizar o Dia da Padroeira do Brasil, mas para mim, de
verdade, foi pra comemorar o Dia das Crianças e o Descobrimento da América.
Acho que há muito mal entendido sobre
o mês de novembro. No meu caso, as reminiscências da puberdade (ainda uso esta
palavra) desenharam um tempo muito funesto e mágico. Durante anos, e até hoje,
às vezes me parecia que novembro era inteiro o mês das bruxas (uma invasão
outubrina). E tinha ainda a Proclamação da República que eu pensava que sempre
existira. Hoje em dia, para os itaperunenses, novembro traz uma vergonha doída:
o massacre sofrido pelo jovem Marcos
Hirô.
Acho
dezembro uma correria. É um mês que não cabe em si. O balanço revela para cada
pessoa um montão de coisas prometidas e não cumpridas ou completamente
esquecidas nos desvãos do ano. Parece que nos últimos trinta e um dias o motor
gira a mais de 120 km por hora. Além disso, dezembro, novembro, outubro e
setembro têm seus nomes equivocados no novo alinhamento; eles não são o décimo,
o nono, o oitavo nem o sétimo mês do ano. Mas aí chega janeiro e muita coisa
deixa de ser importante.
Conheço um
montão de gente que gosta mais de férias do que de um mês. Então não importa
quando, mas o gozo dos 30 dias de pernas pro ar é o que interessa. Ocorre que
99,9% dos meus amigos querem tirar férias em janeiro ou fevereiro – que foram
meses inventados posteriormente para dar conta do calendário solar. Daí, esses
meses ficaram muito populares. Fevereiro acho muito justo. Pra mim o Carnaval
somente devia acontecer nele. Institucionalizado pelo Jorge Ben Jor. Não gosto
muito, mas respeito janeiro. Por aqui, muitas vezes chuvoso, esvazia a cidade –
que não é serra e nem mar – por onde os carros passam apressados rumo ao
litoral.
Já março,
sinceramente, ô coisinha mais sem personalidade. Pra mim ficou cravado que é um
mês em que as pessoas não fazem boa interpretação do que leem. Ainda bem que
abril nos socorre, logo no dia primeiro, fazendo tudo que passou parecer
mentira.
Publicado na Estilo OFF - abril/2015
Nenhum comentário:
Postar um comentário