Estão
todos tontos: tanto culpados quanto inocentes. Não há quem possa com 100% de
acerto dizer qual é o elemento catalizador das manifestações que transformaram
as ruas do país novamente na grande Ágora. A esta altura, claro, tem muita
gente querendo tirar casquinha na mobilização popular e indo pra rua usufruir
de um espaço público feito proscênio a fim de exibir sua bandeira particular. E,
à parte, os vândalos que encontraram não apenas a casquinha, mas o sorvete inteiro.
Pouca
gente que marcou ponto nas manifestações acredita mesmo na possibilidade do
nosso transporte coletivo vir a ser franqueado à população, sobretudo nas
cidades de médio e grande porte. Lugares pelo mundo inteiro, e alguns no Brasil,
adotaram com razoável êxito a chamada “tarifa zero”. Em comum, eles têm o fato
de serem pequenos; uma população que não ultrapassa 50 mil viventes. Ainda
assim, tem que se perguntar de onde viria o financiamento para um projeto desse
tipo. Tirando de alguma outra necessidade pública como a saúde e a educação?
Porque fazer projeto é muito fácil; difícil é achar a grana para financiá-lo. Além
disso, é preciso nos lembrar da influência sobre os governos que têm os
empresários detentores da concessão do transporte público, principalmente numa
cidade como Itaperuna onde estamos, então, tratando de um forte monopólio.
Sinceramente, essa bandeira me parece desfraldada inutilmente. Quem viver verá.
De
toda sorte, se o MPL foi o grande mobilizador do levante popular do mês de
junho, sua causa não é a responsável por fazer o povo ir às ruas com tanta
disposição. Aliás, podemos dizer sem medo de errar que o movimento teve um
caráter muito mais de protesto do que de reivindicação. Ora, reivindicar exige pauta,
certa ordenação e comando propositivo; já o protesto é anárquico e nele cabe de
tudo, pois pode ser feito contra o que não nos agrada: desde um vizinho
rabugento até os gastos com as obras da Copa, passando por um projeto de lei,
pelos cambistas etc.
Contudo,
as manifestações deixam uma grande lição para todos. Tão grande que dela se
pode aproveitar todos para aprenderem alguma coisa sobre tudo. A fim de tornar
isso aqui mais didático, divido o alvo da aula popular em dois públicos. O
primeiro é o governo e a classe política. Parece que o poder executivo governa
para os humores do legislativo. Há uma explicação: em tese, os senadores, os
deputados e os vereadores representariam os anseios do povo. E é aí que está
uma das mais propedêuticas lições dos últimos dias: a patuleia não se sente
representada por suas excelências, que sabem exatamente porque se chegou a este
anacronismo. As ruas ecoaram que democracia não é só voto, não! Sobrou preleção
também para os partidos políticos que estão fingindo não ouvirem o povo dizer
que não precisa mais deles. E para a maioria dos sindicatos e associações de
classe que, ao se imiscuírem na política pequena, se apequenaram também. Resta
ainda cobrança para a polícia que, entre idas e vindas, não consegue separar o
joio do trigo nestas manifestações.
O
segundo alvo são os inocentes. Muitos que se deixam levar apenas pela emoção e
pelo modismo à la facebook. Há quem
tenha coragem de empunhar um cartaz, uma bandeira, gritar uma palavra de ordem
sem de fato entender o que está fazendo. E, desavisadamente, deixa um bando
pelo outro, e nem percebe que continua sendo massa de manobra. Tem uma boa dose
de inocência também os que não sabem ou não podem exercer liderança sobre seus arrebanhados,
que acabam acreditando ser a mobilização um fim em si mesmo e perdem a chance
de serem mais efetivos, mais pragmáticos, e alcançarem melhores resultados.
A
mim também coube uma lição. Faz tempo, pontuo que o processo de democratização
brasileira devesse privilegiar os instrumentos da democracia direta e que a
desregulamentação de certas instituições pudesse ir aos poucos sendo feita. É
que me dá medo pensar em destruir as instituições ao invés de reformá-las.
Acreditei por muito tempo que era possível melhorá-las de dentro pra fora. Não
é, aprendi agora! Descobri em pesquisas públicas que tem caído no país o número
de eleitores (> 16 < 18 e >70 anos) que não são obrigados a votar.
Noutra ponta, aumentam os votos em branco, nulos e as abstenções em todos os
níveis. Por que insistir no voto obrigatório? Ele serve para quem e para quê?
Aliás, de que adianta obrigar o eleitor ir às urnas se ele não votar em
candidato algum? Pra que serve mesmo o título eleitoral se portá-lo não garante
o acesso do eleitor à cabine? Instituições carcomidas! Nesse mesmo patamar – tenho
que perguntar! –, pra que servem os vereadores, deputados e senadores? Se é pra
fazer leis é bom avisar a eles, pois mais de 85% delas são de iniciativa do
poder executivo. Essa gente precisa ficar isolada para que chamemos os decentes
a uma Assembleia Nacional Constituinte específica para a Reforma Política. E
não me venham os juristas de plantão a dizerem que isso afeta a ordem
constitucional e coisa e tal. O povo pode fazer as exceções que desejar. As
togas também não nos assustam.
Para
estas manifestações tenho uma bandeira: para melhorar as coisas na cidade,
proponho o fim do legislativo municipal! Aí teremos certeza de que não faz
falta alguma; só faz despesa, e alta! Em pouco tempo já nem nos lembraremos de
que existiu um dia. Ah, mas para dar tudo certo é preciso que o prefeito de
Itaperuna tome posse e administre o município! Estou evitando escrever isso faz
um bom tempo, mas diante do arroubo da juventude para cobrar o funcionamento da
máquina governamental, tomei tenência e aproveito para exigir do prefeito de
minha cidade, que era “cheia de encantos sem par”, que expulse aqueles “anjos”
de oração inversa acampados na prefeitura e tome posse de uma vez por todas. A
coisa tá feia! Já tem muita gente com saudade da SAÚDE, e tudo mais, do tempo de
Paulada.
Publicado na OFF Julho/2013
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