Sei que eu sou
Bonita e gostosa
E sei que você
Me olha e me quer
Eu sou uma fera
De pele macia
Cuidado garoto!
Eu sou perigosa...
Rita Lee / Roberto de Carvalho / Nelson Motta
O
Ronaldo Esper (se você não sabe quem é, não tem a mínima importância!)
“ensinava” dias desses num programa de TV que PERIGUETE não é moda ou modismo,
mas atitude. Não ficarei aqui te amolando com discussões sobre semântica: se é
atitude, comportamento ou postura, pois equivaleria a tentar descobrir quem
nasceu primeiro, se o ovo ou a galinha. Nem se é PE ou PIriguete, pois estamos
em plena anarquia linguística. Quanto a isso, aliás, o neologismo só cai no
gosto popular se obedece à lógica do enquadramento. O vocábulo tem que evocar
uma imagem mental. E não há quem tenha dúvidas do que seja uma periguete do
ponto de vista estilístico. Não é um quadro, uma pintura estática; é um gif animado, tem movimento - ainda que
repetitivo - como aquele de dar uma puxadinha para baixo nas pontas do
vestidinho teimoso em escalar o côncavo das nádegas abundantes. Ou a vendavaldada
de cabeça que valoriza as madeixas com ou sem a franja, porque periguete que se
presa tem farta cabeleira natural ou encomendada. Ah! Para completar: o salto.
Deus do céu! É inimaginável uma moça desta extirpe com uma sapatilha de
cinderela. Olha eu aí dando um acento épico a isso.
Não
me venham dizer que a TV tá forçando a barra. Nesse ponto, só faz registrar o
fato. Talvez dando uma mãozinha no modismo, isto é, na atitude. No fundo no
fundo, o papel social existe há tempos imemoriais. O que avançou é a exposição
e, diga-se de passagem, muito positivamente, a Lei e os Direitos. Antigamente,
antes das leis, esse tipo não representava quase nenhum perigo a quem usava
seus serviços. Mas o tempo, crudelíssimo, desgasta certas “atitudes”. E, para
sobreviver é preciso chacoalhar a obsolescência comportamental e se renovar.
Quem ainda usa conceitos como os enfiados em “perdida”, “mulher da vida”,
“mulher-dama”, “prostituta”, “piranha”, “profissional do sexo”, “garota de
programa”? Já eram. Há um novo valor, um novo tipo, ou como deseja o Ronaldo,
uma nova atitude: o periguetismo. Reconheçamos! As intenções são bem mais do
que a necessidade de sobrevivência. Há muito mais do que o desejo de segurança
alimentar, por exemplo. Ou não haveria a que achasse pouco uma pensão de R$
18.000,00. Evolução! O objetivo é se dar
bem como as ancestrais “maria gasolina” “maria chuteira”, “vagaba”, “cachorra”,
“pistoleira” e por aí afora, que já tiveram seu momento de fama e estrelato.
Aqui
não vai nenhum preconceito. Jamais, alguma censura. É o curso da sociedade.
Como contou um camarada que reencontrei depois de anos, evocando Allan Kardec,
dizia que “o avanço moral da sociedade é lentíssimo, mas substancial e
irreversível”. Também acho. Apesar de não ter lembranças de outras vidas – que
não sei ter vivido – acredito que já fomos muito piores. Sobretudo os homens.
As mulheres nem tanto. Trabalhavam 24 horas encafuadas nas cavernas. Estão no lucro.
O Último censo do IBGE constatou que laboram 5 horas a mais que os machos. Elas
insistem em dizer que fazem jornada dupla. Mas aí a matemática é crudelíssima:
isso só dá 16 horas, com tendência a diminuir. Exceto para a periguete que,
entre o salão de beleza e a costureira (ainda existe isso?), sobram vinte e
poucas horas para a pose, a pegação e o gol. Fazem melhor do que os
meritíssimos que agora resolveram peitar a Lei de Acesso e teimam em não querer
divulgar seus salários para a patuleia que os paga.
Não
há como saber quanto tempo “periguetes” ficará no TOP das conversas, mas elas não permanecerão. Durarão, talvez, uma
Suelem ou outra. Transformar-se-ão em algo novo. Outro produto de consumo,
outro nome fantasia e, talvez, outras atitudes. Uma candidatura a cargo
eletivo, quem sabe?! É moda! É momentâneo! Sazonal!
Publicada na Estilo OFF - agosto/2012
Um comentário:
Vou pegar o final da sua crônica, para sobre ela, usar a expressão do Caipira, quando diante de algo com o qual concorda, diz:
- É verdadeeeeeee!
CCF
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