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quarta-feira, 7 de março de 2012

CONFORME A MÚSICA


É março! Felizmente o verão está de ida e as aulas, de volta. Esse tempo tem uma música especial tocada em todas as ruas, pelas calçadas por onde, principalmente os adolescentes, caminham em direção à escola: a sinfonia das maritacas, como diria o educador Rubem Alves.
Acho que nunca deixei de pensar em Educação. Respiro isso todos os dias refletindo no poder que é dado à Escola. A crença social de que os professores podem encaminhar nossas crianças para a cidadania enquanto lhes vão ajudando a adquirir habilidades e competências para o mundo do trabalho é um presente: uma verdadeira eucaristia, no sentido grego da palavra.
Há uma imagem muito emblemática em minhas lembranças recentes sobre a importância de que gozam os educadores no imaginário popular. A cena é do filme “O Contador de Histórias” (2009 – Brasil), biografia de Roberto Carlos, pedagogo, ex-interno da extinta FEBEM. Era um assalto a banco. A polícia, que não estava em greve, chegou. Os assaltantes fugiram, mas o menor Roberto, arma em punho, acabou detido. A mãe, já dentro de uma Kombi velha, grita em fuga:
_ Tudo bem meu filho... eles vão levar você pra FEBEM. Você vai ter casa, comida e escola.
Por todo o século XX pelejamos por uma luta árdua, mas vitoriosa, pela universalização da matrícula, do acesso à Escola. A despeito das vozes contrárias de que “nem todo mundo nasceu para a escola”, “não posso abrir mão do trabalho do menino na roça”, “escola é pra filho de doutor”, “os pobres vão acabar com a qualidade da academia”, o processo intenso de urbanização iniciado nos anos de 1960 impulsionou as demandas por escolarização e, já nas últimas décadas daquele século, o Brasil precisou forçosamente colocar a Educação na agenda nacional. Inauguramos o séc. XXI com políticas públicas para garantir a permanência dos alunos na escola e, pode-se dizer, com relativo sucesso. Mas, nesse momento, o país ousa mais – correndo contra o prejuízo de 500 anos de colonialismo educacional – para garantir a aprendizagem, diminuir as diferenças e estabelecer a justiça social. Estamos descobrindo que enobrecer a Educação com os modernosos adjetivos “de qualidade”, “de resultados”, “libertadora” etc. só restabelece a malfadada divisão entre ricos e pobres, entre os que podem escolher e os que não têm escolha. Desse modo, Educação para todos é um desafio não apenas de governos e governantes, mas da sociedade, da nação, dos homens e das mulheres que sonham e trabalham por um país justo e próspero.
Há três anos, o Governo do Estado do Rio de Janeiro resolveu dar a volta por cima. Fustigado pelos resultados do Ideb – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – medido em 2009 que, no Ensino Médio, lhe deram a penúltima colocação entre os estados da federação, percebeu que a educação pública precisava ser priorizada de verdade. Tendo à frente o Economista Wilson Risolia, a SEEDUC – Secretaria de Estado de Educação – vem recuperando na Rede o prazer de alunos, professores e gestores pelo processo educacional. Com ansiedade, as comunidades escolares estaduais aguardam o resultado do Ideb 2011, que deve sair em maio ou junho. Não como quem jogou na loteria, mas como uma comunidade que trabalha árdua e afavelmente por alcançar metas e resultados positivos. Já se pode ver a melhoria tanto das condições de infraestrutura quanto pedagógicas numa nova música que se toca nas escolas da rede.
Entretanto, os resultados da melhoria na educação nacional não dependem de iniciativas isoladas nas modalidades de ensino ou na determinação de um ente federado. Por isso, no Estado do Rio, preocupamo-nos não apenas com os esperados bons resultados da rede estadual e da privada também; mas, sobretudo, com a performance das escolas municipais. Isso porque, morando nos municípios, temos uma visão muito mais clara das políticas educacionais que nestas escolas se tocam. No caso de Itaperuna, por exemplo, mas não exclusivamente, temos de admitir como Montesquieu, que é “perigosa a influência dos interesses privados nos negócios públicos"; pois, por aqui, se os políticos não são desonestos, precisam urgentemente recorrer ao photoshop, pois eles agem como tal e, desgraçadamente, se parecem com, e desafinam uma música muito mais para “Se gritar pega ladrão” do que para “Ai, se eu te pego”.

Publicado na Estilo OFF em março/2012

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