Dezembro será sempre, e covardemente, o mês dos balanços. Se você tem mais de 40 anos sabe que não estou falando de embalos, baladas, animação ou coisa e tal. Refiro-me à prestação de contas. Para os gastadores compulsivos ou não, é hora de invadir sofregamente as lojas e consumir. Comprar é a palavra de ordem do comércio que, se não inventou o Natal, vale-se dele como de uma vaca de quem se aproveita praticamente tudo. A palavra de ordem é: OCUPEM o empório. Já para outros, é tempo de fechar as contas, de confrontar ativo com passivo, de chorar sobre os débitos, de constatar a pindaíba ou de comemorar os dividendos. Para todos, indubitavelmente, hora de colocar muitos pingos nos “is”.
Há tempos sonho com a semestralidade oficial do ano. Acredito que dessa forma, diminuir-se-ia o impacto do dezembro na vida das pessoas e das instituições. E teríamos a vantagem de ver a vida se renovar pelo menos duas vezes em 365 dias mais ou menos. É tanta gente que deixa tudo para janeiro: o casamento ou a separação; o parar de fumar; a dieta; a poupança; as férias; a serenidade. Nas instituições então: a reforma ministerial; a demissão do gerente; o recomeço; a faxina ambiental; o atendimento competente; a seriedade.
Fico lembrando as relações comerciais de antigamente. Meu pai era dono de uma “venda” em Retiro e, nos anos de 1970, acompanhei razoavelmente os negócios. O crédito se chamava “fiado” e os lançamentos de débito eram feitos em cadernetas ou vales. A população rural era majoritária naqueles idos. A palavra valia mais que a assinatura – até porque a maioria era analfabeta. Não havia juros nem inflação. Pasme: o pai de família comprava durante o ano inteiro e a maior parte do débito só era paga na colheita. Não havia necessidade de SPC ou SERASA; mas, de vez em quando, um ou outro sabichão arranjava o prejuízo de algum comerciante.
Esse recorte, que também vem como balanço, me faz refletir sobre o mais importante componente da mudança social que temos vivido nos últimos 30 ou 50 anos: a aceleração. Não fosse a velocidade, e a longevidade dos atores, a mudança ficaria quase imperceptível.
Estou defendendo um paradoxo, parece. O ano passa mais depressa; entretanto, sustento que ele “feche” de 6 em 6 meses – pra balancete. Não há contrassenso em querer isso. Pois, a despeito da realidade que ruge, a legalidade é lenta e acomodada, uma pasmaceira. Por exemplo: nas universidades vige o período semestral. Por que razão, causa ou circunstância isso não vale também para o ensino médio e o fundamental regulares? Aliás, facilitaria que as crianças nascidas em mês posterior ao período de matrícula pudessem entrar na 1ª série logo que completassem 6 anos. Não entendo por que a Permissão para Dirigir tem 1 ano de prova ao invés de 6 meses ou os juros serem apresentados mensal ou só anualmente.
De todo modo, você está fazendo balanço ou balancete por estes dias. Espero que tudo esteja certinho; que todos os seus gastos agora estejam provisionados no orçamento da família pelo resto do ano novo. Minha intenção não é deixar você chateado, trazer-lhe reminiscências desagradáveis... Se o 13º está todo comprometido, é porque em julho já se tinha gastado metade dele. Pelo menos espero que se lembre: janeiro é um mês cheinho de contas a pagar. Desde a matrícula das crianças – baseada na anuidade –, as cotas únicas de IPVA e IPTU, os boletos e cartões de crédito dos delírios natalinos – aqueles agradinhos que no início deste ano você prometera não atrever-se novamente, até as juras que fez regadas a alguma bebidinha (hic) na virada do ano.
2011 não foi como os outros, que nunca foram semelhantes entre si. Foi melhor! A despeito disto e daquilo – da incompetência da administração municipal, exemplarmente –, os que estamos vivos temos sim que comemorar (hic). De minha parte (hic), obrigado por sua companhia (hic). Saúde!
Publicado na Estilo OFF - dezembro de 2011.
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