Dizem que o Brasil é um país paradoxal. Eu diria que é extremoso. Quando era moço, ouvia dizer que o nosso país se assemelhava a uma belíndia. Isto queria dizer que, quanto à repartição das riquezas, a nação era uma mistura da rica e pequena Bélgica com a pobre e imensa Índia. De lá pra cá, muita coisa mudou. Os indianos e os brasileiros estão entre as maiores economias do mundo e os belgas... bem, os belgas não estão nesta lista.
Entretanto, o Brasil continua sendo um país de extremos sociais. Embora tenhamos avançado bastante na última década, nossa concentração de renda ainda é um calcanhar de Aquiles. Muita gente, especialista no assunto, gosta de atribuir todas as nossas mazelas à difamada origem luso-afro-indígena. Um grande intelectual chegou a dizer que o Brasil é a mistura da cultura ibérica, que é a cultura do privilégio; a cultura africana, que é a cultura da magia; e a cultura indígena, que é a cultura da indolência. Há quem se encante com esse tipo de explicação. Particularmente, penso que muita dessa verborréia vem depois que certos sábios tomam doses de elixir paregórico.
A panacéia do crescimento econômico, acreditem, é o investimento em educação e não os determinismos étnicos ou estéticos. Não é preciso ser Herculano Quintanilha para saber que os chineses irão fechar o ano de 2011 como tops da economia mundial. É só olhar a revolução que estão fazendo em sua Escola. Podemos dizer mesmo que Educação é sim “um negócio da China”. Em 12 anos, os chineses saíram do 4º para o 1º lugar no quadro de medalhas olímpicas. Não considerem que chegaram à frente de todos exatamente porque os jogos se deram em Pequim. Isso não foi coincidência, mas planejamento e determinação. Em educação propriamente dita, vou amolar você com dois números do PISA – Programa Internacional de Avaliação de Alunos – que mede o aprendizado em Leitura, Matemática e Ciências de alunos com 15 anos. Os chinesinhos ficaram em 1º e em 2º lugares. Entendeu? Não?! É que os organizadores do teste dividiram a China em duas regiões: Shangai e Hong Kong. Sabe em que lugar o Brasil ficou?! Deixa pra lá. Só mais um número: sabe qual é o país onde mais gente quer se tornar professor?! É lá mesmo onde você pensou.
Outro dia, nosso editor mandou-me um e-mail falando do polêmico Projeto de Lei do senador Cristovam Buarque que “Determina a obrigatoriedade de os agentes públicos eleitos matricularem seus filhos e demais dependentes em escolas públicas até 2014.” Ele tá paradão – desde 2007 –, lá na Comissão de Constituição e Justiça, esperando desesperadamente por um relator. É que só o povo tem interesse que o projeto vire lei. A mim fica parecendo que o respeitável senador está jogando para a plateia, vez que a ideia tem aparência e cheiro de inconstitucionalidade. Não passa da CCJ. Minha metade vingativa ainda deseja a aprovação do Projeto.
Estudei em escola pública até a 3ª série primária, como se falava. Naquele tempo, a escola pública era muito objetiva. Entretanto meus pais e irmãs mais velhas achavam que o Colégio Bittencourt era melhor para mim. À época, falava-se que a escola particular era onde “papai pagou, passou”. Comigo não foi assim. De qualquer forma, nós éramos o que se podia chamar de belgaleiros. Hoje sou professor na rede pública e reconheço que, a despeito dos esforços que muita gente séria faz, não temos atendido às expectativas por uma escola pública de qualidade, exceto, talvez, na Educação Superior.
A ideia de a matrícula obrigatória em escola pública para os filhos/dependentes de agentes públicos é um extremismo dessa gente que vive num país em que os termômetros vão de 0 a 40 graus na mesma estação. Não se pode querer a qualidade da escola pública e universal à custa do direito de quaisquer cidadãos de matricularem seus filhos onde escolher e puder arcar com os custos, mesmos que esses sejam detentores de mandatos eletivos. Ainda que possam abater no Imposto de Renda os encargos da escolarização, não dá pra contestar o direito à opção. Ninguém, em sã consciência, prefere o que acha pior.
Quando a classe média alta matriculava os seus filhos no, então glorioso, Colégio Estadual Marechal Deodoro da Fonseca, fazia-o por ser aquela escola a melhor de Itaperuna. Quando os professores, mesmo trabalhando também em outros educandários, punham seus filhos a estudar em uma escola pública, criam estar fazendo a coisa certa. Quando a classe média matricular novamente seus rebentos na rede pública, é porque ela estará boa e/ou irá ficar melhor ainda.
O Brasil passa por uma grande reestruturação de sua pirâmide social. Por isso, a Escola Pública – isso inclui governos, gestores e professores – precisa decidir se quer a matrícula dos filhos da nova classe média. Para isso ela precisa melhorar muito. Os new rich compram as bugigangas da Casa & Vídeo, têm celulares pré-pagos e amam modismos musicais; contudo querem botar seus filhos estudando em boas escolas.
Os governos devem cuidar dos extremismos. Não é mais possível conviver com a farta distribuição de bolsas de estudo no exterior, que podem custar até 200 mil dólares aos cofres públicos, e com o pão-durismo da prefeitura de Itaperuna que – por causa de merreca – se nega a providenciar transporte para os nossos universitários que estudam a 100 km daqui. Ah, claro! Precisam, também, considerar a impre$cindibilidade do profissional da educação, já que estamos neste parágrafo falando de dinheiro.
Os gestores e professores precisam buscar com mais afinco melhorar sua formação, inclusive naquilo que está para além dos currículos – estou puxando a orelha, porque existem muitas oportunidades desperdiçadas por aí, atualmente.
Não quero ser extremista; mas, por fim, lembro ao leitor que nos educandários da China, da Coreia e do Japão – tenho notícia – os pais costumam passar uma parte do período integral de estudo de seus filhos observando in loco como se dá a educação na escola. Mas, por aqui...
Publicado na Estilo OFF - setembro/2011
2 comentários:
Professor o prefeito deveria colocar vc como secretario e não essa Borracha que ficava mamando como funcionário fantasma do Marcelão.
hahahahah essa borracha diz que é professor pq vai no colégio comer merenda, o negocio dele é coçar no sindicato.
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