Evaristo da Veiga
Com quase oito mil palavras, Pero Vaz de Caminha faz uma narrativa-descritiva a D. Manuel I mostrando-lhe o Brasil de 1500. No último parágrafo, pede um favor ao rei: “...peço que, por me fazer singular mercê, mande vir da ilha de São Tomé a Jorge de Osório, meu genro...” O talzinho fora condenado ao exílio por ter aprontado coisas do arco da velha
Creio que a expressão “jeitinho brasileiro” pode ter começado aí; o adjetivo é só a qualificação do local ou porque praticado na terra brasilis. Mas, façamos justiça, não há indícios de ter sido uma invenção nacional. É que, como o próprio Caminha intuíra sobre a nova terra “querendo aproveitar, dar-se-á nela tudo” inclusive o fisiologismo que esfervilha aqui, sobretudo no lamaçal de Brasília, e multiplica-se “como larvas no esterco”.
Neste mês, comemoramos o 187º aniversário da Independência. Que naquela época representava apenas um jeitinho para que Dom João VI pudesse voltar para Portugal e manter o poder (Dom Pedro I) sobre o Brasil. Já o jeito mesmo foi o caso da maioridade de Dom Pedro II - coroado aos 15 anos para que o pai pudesse ser rei
Ao longo de nossa história, o Senado foi descrito como uma casa onde os anciãos da nação criavam e revisavam as leis para melhorar a vida da gente. Fiquei fuçando, neste fim de semana, os princípios de criação e organização da casa. Descobri que alguns estudiosos do direito constitucional apregoam que a organização do Poder Legislativo não é cláusula pétrea (imutável). Portanto, podemos sim abrir o debate sobre a conveniência do sistema bicameral - pra ficar barato! -, pois a existência de um legislativo corruptível e corruptor como o nosso - Valha-nos, Deus! - é pra se discutir. Mas, sejamos um pouco mais pacientes e, com jeitinho, debatamos apenas a “Casa dos Horrores”, como foi chamado o senado brasileiro pela revista inglesa “The Economist”. Gente, são 81 senadores que precisam de 10 mil servidores para os paparicar! É um pouco demais, não é?! Nem há espaço aqui pra falar dos últimos escândalos de suas excelências, pois a lista estará sempre desatualizada. Aquilo é mesmo uma casa de criar e manter escândalos de mal uso do dinheiro arrecadado com os impostos que eu e você pagamos. Desgraçadamente, o calor destes trópicos favorece a gestação e proliferação não apenas da dengue e da gripe suína; mas, do fisiologismo, do clientelismo, do corporativismo, enfim, da corrupção generalizada tão visível no senado brasileiro, que se assemelha mais a uma casa de tolerância.
Neste 7 de setembro, não posso dar vivas à Independência. Continuamos colonos desde que nascemos (!) em
Publicada na Revista CAE de setembro
4 comentários:
Professor Zé Luís... mais um texto interessante!Refletir sobre o passado e tentar aprender com ele é preciso, é fundamental!
Gostaríamos também de agradecer o comentário feito no Outra Revista http://outrarevista.blogspot.com/ na postagem "Professores do Estado do RJ decidem por entrar em greve dia 08 de setembro". Se nossos colegas professores externassem mais suas idéias em relação a toda esta problemática, com certeza sairíamos mais fortalecidos.
Concordamos com cada uma de suas palavras e agradecemos por mais esta participação em nosso Blog.
Abraços.
Marco Antônio e Beth Vitória
Falar da docência é falar das várias profissões que transpõem e se sobrepõem a esta.
Enquanto professores...
Somos mágicos,
ao fazermos malabares com diversas situações que atingem nossa imagem e a
vida pessoal.
Somos atores, somos atrizes,
que interpretam a vida como ela é, sentimos e transmitimos emoções ao
conviver com tantas performances.
Somos médicos,
ao receber crianças adoentadas pela miséria, pela falta de tempo da família,
pela carência de tempo de viver a própria infância.
Somos psicólogos,
ao ouvir as lamentações advindas de uma realidade dura,
que quase sempre nos impede de agir diante do pouco a se fazer.
Somos faxineiros,
ao tentarmos lavar a alma dos pequenos,
das mazelas que machucam estes seres tão frágeis e tão heróicos ao mesmo tempo.
Somos arquitetos,
ao tentarmos construir conhecimentos, que nem sabemos se precisos, que nem
sabemos se adequados.
É só parar para pensar que talvez seja possível encontrar em cada
profissão existente um traço de nós professores. Contudo, ser professor,
ser professora é ser único, pois a docência está em tudo, passa por todos,
é a profissão mais difícil, mas a mais necessária.
Ser professor é ser essência,
não sabemos as respostas.
Estamos sempre tentando,
Às vezes acertamos, outras erramos, sempre mediamos.
Ser professor é ser emoção
Cada dia um desafio
Cada aluno uma lição
Cada plano um crescimento.
Ser professor é perseverar, pois, diante a tantas lamúrias
“não sei o que aqui faço, por que aqui fico?”
fica a certeza de que...
Educar parece latente, é obstinação.
Ser professor é peculiar,
Pulsa firme em nossas veias,
Professor ama e odeia seu ofício de ensinar
Ofício que arde e queima
Parece mágica, ou mesmo feitiço.
Na verdade, não larga essa luta que é de muitos.
O segredo está em seus alunos, na sua sala de aula, na alegria de ensinar
a realização que vem da alma e não se pode explicar.
Não basta ser bom... tem que gostar.
Não caro mestre, não é de minha autoria, e recebi também sem o autor, uma pena, pois, me identifiquei muito com o texto.
Mas irei providenciar isso já, ok. Abraços.
O FERIADÃO DE ALEX ou O 7 DE SETEMBRO DO PEDRO
ENQUANTO O DOUTO DESCANSSA
E O COLAR DE ESTRELAS BRILHANTES PULSA
NO COUTO UMA CRIANÇA
VIVE A SUA INDEPENDÊNCIA
NUMA INDIGÊNCIA ABSTRATA
QUE VIOLENTA SUA INOCÊNCIA
NÃO FOSSE A MÃO FORTUITA
QUE SOBRE ELA POUSOU UM COBERTOR
A REALIDADE SERIA MAIS FRIA
NOS OLHARES ABSORTOS DOS QUE PARTEM
SENTINDO NO AR A MARESIA
QUE PAIRA SOBRE AQUELE CORPO SEM COR
COM SEUS ANDRAJOS ELE RESOLVE
VAGAR CIDADE AFORA
A NOITE ELE VOLTA
PARA DORMIR POR AQUI(*)
SUA CASA AGORA
ONDE NADA O INCOMODA
(*) Terminal Rodoviário Tude Bastos-Praia Grande/SP
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