SEJA BEM-VINDO

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

2009 PRECISA COMEÇAR

Por que razão, motivo ou circunstância o ano novo nunca começa quando termina o velho? Creio que há algo de metafísico, na passagem de um ano, que rompe o calendário seja ele hebreu, egípcio, juliano, gregoriano - como o nosso - ou chinês. Não é à toa que sempre estamos diante de anos que não terminaram como o de 1968 - dando o que falar e escrever ao Zuenir Ventura - insistindo em se sobrepor até aos recentes anos deste outro século, quando desenterram seus mortos e nos surpreendem com seus fantasmas insepultos. Porque, na verdade, na verdade os trinta-e-um-de-dezembro não encerram nada, apenas a validade da folhinha amarelada pendurada na parede.
Há ainda os anos que não começam. Aliás, acho que os anos não se iniciam aqui no Brasil, pelo menos até o carnaval. Aí já são cinzas e ficamos 40 dias esperando a ressurreição que não é um ano novo, mas um recomeço.
Gosto de reler uma crônica do Veríssimo intitulada “Caderno novo”. Ele e alguns amigos se reúnem para eleger a melhor sensação do mundo entre as publicáveis, mesmo numa revista de vanguarda como a ESTILO OFF. E concluem, não sem dificuldade, ser o caderno novo. Amo essa metáfora. Porque a despeito de hoje em dia as papelarias nos quererem “enfiar” fichários caríssimos em cujas capas pairam um ícone qualquer da efemeridade - em três ou quatro meses a moçada inventa um jeito de fazer a família comprar uma capa nova - o velho caderno-novo é um mundo vasto.
Imagino o meu caderno de pauta com as folhas juntadas com dois grampos que não permitiam tirar meia folha da primeira metade sem comprometer a correspondente da direita. Com suas páginas em branco ainda por serem escritas; aquele mundo de folhas-dias que a gente imagina que terá e, o que virá, folheando depressa com o polegar de uma máquina de contar dinheiro. Tudo branquinho: um convite pra tantas coisas... o indicador molhado no mataborrão da boca a passar uma a uma as páginas virgens; o roçar com a mão espalmada cada centímetro de celulose; o cheiro inebriante de novidade... uma sensação de possibilidades incontáveis.
Diante do caderno novo - um ano que não começou -, que encapávamos no último gosto e com plástico também, jurávamos solenemente mantê-lo limpo e em dia. Prometíamos ser cuidadosos, cidadãos respeitáveis, pessoas melhores... essas coisas que se dizem em juramentos. Entretanto, vinha a roda viva dos dias, a rotina das semanas, o balanço das ondas e voltávamos a ser os mesmos e a vivermos “Como os nossos pais” - obrigado, Belchior!!! Mas aí o caderno já não era mais novo... - um ano que não acabou e nós já torcendo pro apito final.
Quando me permito ser menos egoísta vislumbro os interesses sociais. E me preocupo com as pessoas e com as demandas de todos nós. Por isso acho que 2008 não se acabou graças a pelo menos três eventos que invadiram 2009:
  • A imprensa diz que o mundo saúda a eleição e a posse de Obama como se fosse o salvador do planeta e o apaziguador dos povos. Muitos concordam com isso pelo fato de o presidente ser jovem e negro. É preciso saber, contudo, o quanto ele se sente negro; não nos esquecer de que é norte-americano. E, quanto ao fato de ser jovem, nós itaperunenses somos gatos escaldados.
  • O senado insiste em aumentar o número de vereadores pelo Brasil afora. Minha nossa! Pensei que a democracia caminhasse para o fim do Legislativo com o povo interagindo no ciberespaço, tomando decisões online nos referendos e plebiscitos na web e no celular, mas não! Aumentam o número de vereadores para afastar-nos cada vez mais das "decisões". Será que os senadores não sabem que vereador só cria firula para levar ainda mais vantagem do prefeito que precisa ter maioria - ainda que comprada - para administrar?
  • A enchente de dezembro deve ser um fantasma a cobrar planejamento do novo governo municipal. É mister reconhecer que a natureza foi a grande atriz do cataclismo. De toda sorte, não podemos esquecer de que algumas ações públicas como o desassoreamento do Rio Muriaé, o reflorestamento das encostas, um projeto de drenagem urbana, o arco viário da BR 356 e outras teriam minimizado esta catástrofe e acabado com tantas menores que nos azucrinam o ano inteiro.
Sinceramente, 2008 já vai tarde se nós deixarmos. O nosso prefeito Claudão, a esta altura, já tem encapado o seu caderno novo, com juramento solene e tudo mais. Dá pra fazer muita coisa antes do carnaval: mudar o clima, reescrever um plano urbano... e até fazer 2009 começar.