Essa garotada de hoje
ainda estava nas fraldas quando os Mamonas Assassinas reconheciam que “Esse tal
Chopis Centis é muitcho legalzinho, pra levar as namoradas e dá uns rolezinhos”.
Talvez muitos jovens que têm marcado encontro nos shoppings para o tal rolezinho não se lembrem ou conheçam a música
do grupo de Guarulhos que fez meteórica carreira em meados dos anos de 1990.
Quando a gente fica mais
velho, passa a enxergar a teoria da conspiração incrustrada em quase todas as
atitudes sociais. Alguns fazem isso equilibradamente, mas outros – tss tss tss,
gente desconfiada de tudo! – veem segundas e terceiras intenções em qualquer
desenho de fumaça. Sinceramente, sabe o que há por trás dos tais rolezinhos?
Sabe o tem? N A D A! Essa meninada descobriu uma colônia de férias de graça.
Ora, gente, os shoppings não recebem somente pessoas
que vão às compras. Muitos deles têm mais cara de parque de diversão. Aliás,
foram criados assim exatamente para atrair pessoas ao consumo fácil e
supérfluo. São uma antiescola: deseducam para o consumo enterrando a navalha do
cartão de crédito no pescoço dos mais desavisados. Esse é o sistema construído
pra convencer a gente a gastar o que não temos em coisas que não precisamos
para criar impressões passageiras em pessoas que não são importantes pra nós,
como diria o anarquista Émile Henry.
Gosto muito de definir
esses centros de compras aproveitando uma fala de Leonardo Boff num pinga fogo
com o apresentador Jô Soares: o Jô disse shopping
center e o teólogo respondeu: “um monte de coisas que eu não preciso”. Essa
garotada não programa rolezinho imaginando estar invadindo a catedral do
consumo para destruir o capitalismo. Não tem esse nível de engajamento ideológico.
Faz isso muito mais pra se encontrar, pra dar uns beijos nas bocas, pra se
divertir e, claro, pra CAUSAR.
Mas é evidente que nada
passa desapercebido aos aproveitadores de plantão. Esse inédito movimento de
jovens não ficaria livre da apropriação indébita de outras mentalidades que
povoam a nossa complexa organização social. Também foi assim nas manifestações
de julho do ano passado. Uma gente que ainda não sabemos qualificar aproveita o
momento pra desfraldar suas bandeiras, pra dar curso a intenções rasteiras, pra
tentar impor suas convicções e levar vantagem se escondendo por detrás da
desordem e da confusão que eles próprios provocam se confundindo
intencionalmente em meio ao rolezinho.
A polêmica está na ordem
do dia. Ideologicamente há quem diz e escreve que os rolezinhos ficaram com
cara de insurreição social porque a polícia anda agindo com truculência. Já
vimos esse filme: a polícia perdida, sem comando, deixa que quebrem e depredem
o patrimônio dos outros, pois reagir não seria politicamente correto. Confesso:
não aguento mais essa balela de politicamente correto. Para mim, as leis são o
marco da correção. Quem não concordar com elas que lidere os movimentos de
mudança, mas vai o aviso: mesmo pra se opor à lei a gente precisa estar dentro dela.
O papel da polícia é sempre separar o joio do trigo. É fácil?! Nada! Mas esse é
o ponto em que o aparelho policial não pode se comportar como os
administradores dos shoppings e sua
segurança particular: escolher os jovens que podem ter acesso através da lupa
do preconceito sociorracial. De toda forma, acredito que os rolezinhos têm data
para acabar: a volta às aulas. Vamos lá!
Publicado na OFF - fevereiro/2014