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terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Tá na hora da gente se reencontrar é na escola!



Essa garotada de hoje ainda estava nas fraldas quando os Mamonas Assassinas reconheciam que “Esse tal Chopis Centis é muitcho legalzinho, pra levar as namoradas e dá uns rolezinhos”. Talvez muitos jovens que têm marcado encontro nos shoppings para o tal rolezinho não se lembrem ou conheçam a música do grupo de Guarulhos que fez meteórica carreira em meados dos anos de 1990.
Quando a gente fica mais velho, passa a enxergar a teoria da conspiração incrustrada em quase todas as atitudes sociais. Alguns fazem isso equilibradamente, mas outros – tss tss tss, gente desconfiada de tudo! – veem segundas e terceiras intenções em qualquer desenho de fumaça. Sinceramente, sabe o que há por trás dos tais rolezinhos? Sabe o tem? N A D A! Essa meninada descobriu uma colônia de férias de graça.
Ora, gente, os shoppings não recebem somente pessoas que vão às compras. Muitos deles têm mais cara de parque de diversão. Aliás, foram criados assim exatamente para atrair pessoas ao consumo fácil e supérfluo. São uma antiescola: deseducam para o consumo enterrando a navalha do cartão de crédito no pescoço dos mais desavisados. Esse é o sistema construído pra convencer a gente a gastar o que não temos em coisas que não precisamos para criar impressões passageiras em pessoas que não são importantes pra nós, como diria o anarquista Émile Henry.
Gosto muito de definir esses centros de compras aproveitando uma fala de Leonardo Boff num pinga fogo com o apresentador Jô Soares: o Jô disse shopping center e o teólogo respondeu: “um monte de coisas que eu não preciso”. Essa garotada não programa rolezinho imaginando estar invadindo a catedral do consumo para destruir o capitalismo. Não tem esse nível de engajamento ideológico. Faz isso muito mais pra se encontrar, pra dar uns beijos nas bocas, pra se divertir e, claro, pra CAUSAR.
Mas é evidente que nada passa desapercebido aos aproveitadores de plantão. Esse inédito movimento de jovens não ficaria livre da apropriação indébita de outras mentalidades que povoam a nossa complexa organização social. Também foi assim nas manifestações de julho do ano passado. Uma gente que ainda não sabemos qualificar aproveita o momento pra desfraldar suas bandeiras, pra dar curso a intenções rasteiras, pra tentar impor suas convicções e levar vantagem se escondendo por detrás da desordem e da confusão que eles próprios provocam se confundindo intencionalmente em meio ao rolezinho.
A polêmica está na ordem do dia. Ideologicamente há quem diz e escreve que os rolezinhos ficaram com cara de insurreição social porque a polícia anda agindo com truculência. Já vimos esse filme: a polícia perdida, sem comando, deixa que quebrem e depredem o patrimônio dos outros, pois reagir não seria politicamente correto. Confesso: não aguento mais essa balela de politicamente correto. Para mim, as leis são o marco da correção. Quem não concordar com elas que lidere os movimentos de mudança, mas vai o aviso: mesmo pra se opor à lei a gente precisa estar dentro dela. O papel da polícia é sempre separar o joio do trigo. É fácil?! Nada! Mas esse é o ponto em que o aparelho policial não pode se comportar como os administradores dos shoppings e sua segurança particular: escolher os jovens que podem ter acesso através da lupa do preconceito sociorracial. De toda forma, acredito que os rolezinhos têm data para acabar: a volta às aulas. Vamos lá!

Publicado na OFF - fevereiro/2014