O
fim de uma telenovela da rede Globo pode trazer outras revelações para além do
nome de “Quem matou Max” e como cada um fica, se dá ou “termina”. Confesso que
não assisti; dormi depois de um dia cheinho de trabalho e outros muitos interesses.
Detalhe: com a TV ligada no canal.
O
último capítulo de Avenida Brasil, dizem, alcançou 51 pontos no Ibope. Esse
número parece, para a grande maioria da população, uma coisa mágica. Afinal,
ele é prepotente, pois significa que sozinha, a rede Globo de televisão teve
mais audiência que todas as outras juntas. Assim, até o que não era parece ser.
Dizem
alguns que as ruas, praças e avenidas estavam vazias. Falam que “tudo parou”
para que as pessoas assistissem à telenovela. Não posso ser cético – não quanto
a isso – pois se o Ibope fosse medido aqui na cidade, teria um número mais
pomposo do que este da “boa ideia”.
Mas
o que essa introdução nos permite discutir um pouco nesse mês de novembro é a
realidade brasileira dos meios de comunicação. Como o assunto é soberbo,
busquemos um viés que me intriga: a programação das TVs abertas são sempre mais
ruins – década a década – ou eu estou ficando melhor? Não deixei de ver
televisão desde que, ainda criança, na década de 1970, quando uma “Empire states” de pés torneados
enfeitava a sala da minha casa em Retiro do Muriaé. Para obter uma imagem com
menos chuvisco e sem que o vertical ficasse rodando, usávamos chumaços de esponja
de aço na antena espinha-de-peixe que era espetada num bambu gigante agarrado
aos canos da caixa d’água no telhado. Ficávamos horas à frente daquela caixa
mágica que parecia nos abrir os olhos para o país e o mundo inteiro. Sei lá,
parece que a programação era melhor, ou então não tínhamos tantas alternativas
como hoje.
Agora,
a busca por audiência tornou-se o único objetivo das redes de tevê. E a
concorrência exacerbada parece tê-las nivelado por baixo. Quanto maior
assistência tem um programa, ou uma grade do canal, mais anunciantes e mais
caros os preços dos reclames. Daí a pergunta que repito em outros termos: a
programação é mais escarninha ou busca atingir o gosto popular? Venho
respondendo a isso reconhecendo com tristeza que, apesar dos grandes avanços no
campo educacional, a maioria da população é pouquíssimo exigente. Somente para
ficar no exemplo que ainda ecoa: a trama da telenovela “Avenida Brasil” abusa
da inteligência da assistência. Não estamos falando de talento artístico.
Aliás, quanto a isso, há até que se perguntar quem é melhor atriz: Carminha ou
Adriana Esteves? A questão é a idiotice dos argumentos da trama. É de
propósito?! Penso que busca não complicar muito a vida do respeitável público. Mas,
já que é assim, prefiro “Carrossel”. É mais palatável e diz logo ao que veio.
Ouso
aprofundar mais o viés. Você, que agora me lê, é do tipo que tem 5 horas
diárias para perder diante de uma tevê? Mesmo da tevê por assinatura?! Claro
que não! Isso é mais de 50% do tempo que lhe sobra entre o trabalho e o sono.
Entende, agora, por que a programação de domingo – e mesmo a de sábado – é uma
@&#*a? Domingo, já diziam os Titãs, “é dia de descanso” / “Programa Sílvio
Santos”. Sobra audiência pra tudo que é mídia, da melhor à pior e à
inclassificável.
O
fato mesmo é que a tevê aberta está cada dia mais pobre. Mais pobre, porque
mais óbvia. Faça uma experiência: deixe de ver televisão durante uma semana.
Quando retornar, verá que não perdeu absolutamente nada. Estará tudo igualzinho,
no mesmo lugar. E pior, a programação por grade supondo um público fiel de
donas de casa e crianças que acordam prontinhas para ligar a TV e ver os
clichês dos programas culinários; alguns de auditório onde se desenrola um falso
debate; e os filmes de “bichinhos” como já se dizia há décadas. À tarde – Ah, à
tarde! – tudo um pouco pior, pois entram os enlatados de 3ª linha; os
jornalísticos repetitivos e sonolentos; a encheção de linguiça e outras coisas
que não valem a pena ver de novo. Haverá os que ainda se socorrem nos programas
religiosos e nos de leilão de gado que não param nunca. Então vem a noite da
qual, inutilmente, se espera alguma coisa.
Posso
dizer que na minha adolescência a tevê ensinou muitas coisas. Havia um sentido
de construção de conhecimento. As coisas ditas na mídia não eram tão
descartáveis. Entretanto, para a minha envelhescência dispenso as pataquadas
que a maioria dos canais oferece. A menos que seja para exercitar o humor.
Quanto a isso, a tevê brasileira continua afiada. Mas o humor é mesmo uma coisa
gastronômica e digestível. Faz bem assistir-lhe sentado na privada para que, ao
fim de tudo, usemos a ducha íntima e demos uma longa e inexorável des–car–ga!
Publicado na Estilo OFF - novembro/2012