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quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

FELIZ REFLEXÃO


2015 está um ano difícil de fechar. Nem quero pensar nos restos a pagar, estou falando é de questões políticas e sociais. De uma espécie de débito que não há dinheiro que possa quitar, mesmo juntando o saldo de todas as contas que não são mais secretas na Suíça e em outros paraísos fiscais.
Vivemos um momento de confusão política e grave convulsão social. Está se tornando natural, na sociedade do whatsapp, o esgotamento físico e mental das pessoas como se todas, de repente, fossem acometidas pela síndrome de Bournout. Mas nem é exatamente isso que vejo na maioria. Observo um sentimento mais ou menos comum de que tudo agora vai mal, de que nesse ano o calor foi mais intenso, a inflação aumentou, a seca apertou, a chuva minguou, o guarda multou, o chefe enjoou... Vou batizar de síndrome do Imediatismo Intolerante esta sensação de que tudo parece, agora, pior do que já foi um dia.
Por esses dias, sinto no ar uma crise de expectativa social. Aliás, ela vem atravessando o ano como um lamaçal contaminado rompendo a barragem da censura pessoal e arrastando sentimentos, comportamentos e dores, às vezes inertes, depositados no inconscientee que, agora, desembocam nas “águas do mar da vida” como a lama contaminada de anos a fio. Fim de ano quase sempre é assim para muita gente:Foz do Rio Doce.
Nos momentos de grande agitação social, quando as pessoas de ordinário esbravejam opinião, geralmente sem muita reflexão, mas com bastante religiosidade, é que se pode observar o quanto a sociedade precisa melhorar. Sempre se soube que a educação oferecida em nossas escolas públicas e privadas, no geral, apenas reproduzem e vivificam a luta entre as classes e a guerra pela posse dos bens de produção e dos meios de comunicação. Mas agora, com as redes sociais, o tal efeito manada – pessoas curtindo e compartilhando os post sem ler nada e sem nenhum espírito crítico - é muito mais perceptível e nefasto. Estamos testemunhando, com sobra de evidências, o que afirmou o escritor Umberto Eco de que a internet tem dado o direito à palavra a uma “legião de imbecis”. Meus 17 leitores talvez queiram me crucificar por replicar essa opinião do filólogo italiano, mas observo boquiaberto o crescente grau de intolerância e de idiotice multiplicado pelas redes com grande capacidade de prejudicar a coletividade.
Final de ano não é somente balanço; é também renovação de propósitos. Por isso, convido todos a uma feliz refletir sobre a sociedade que queremos e como cada um de nós pode contribuir para construí-la, primeiro em si mesmo e, quem sabe, assim poder ser um exemplo para outros.
Refletir sobre o Brasil é pensar não apenas no país que desejamos, mas no que fazer para ter o país que queremos e precisamos.
A sociedade brasileira, para mudar o rumo, precisa menos fazer e mais deixar de incitar a esperteza nacional. Não podemos continuar a nos sentir o máximo porque instalamos“gato” a fim de pagar menos energia elétrica; por vampirizar a TV a cabo e a internet do vizinho; fraudar a declaração de IR para receber restituição; produzir mais lixo que o necessário e o atirar na rua; saquear cargas de veículos acidentados;beber e depois dirigir;avisar a todo mundo que tem blitz na rua tal; estacionar na vaga reservada a deficiente físico; pegar atestado médico sem estar doente, só pra faltar ao trabalho; casar com a nora separada para garantir-lhe a pensão; viajar a serviço da empresa e, se o almoço foi R$20,00 pegar uma nota de R$40,00; querer ofender os outros chamando-os de muçulmanos ou judeus, incitando o ódio religioso; entrar no ônibus, sentar e, se houver uma pessoa idosa, fingir que está dormindo; matricular o filho também na rede pública somente para se favorecer com o sistema de cotas; gastar mais do que ganha; vender o voto. (parte desta lista foi retirada de um vídeo em que uma nordestina dá uma lição impecável ao dizer que precisamos melhorar a sociedade para termos governantes melhores.)

Não temos somente idiotas nas redes sociais; mas eles são muitos, sim. Olhai e deletai.
Publicado na OFF-dezembro/2015.