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domingo, 23 de setembro de 2012

Ideb e Eleições



Aprendi com o velho Freud que a gente pode fazer tudo que quiser; mas é preciso saber o que se está fazendo. Lembro isso, às vésperas de mais uma eleição municipal, porque, sinceramente, acho que tem um montão de gente por aí que não tem ideia do que está fazendo. Tanto entre candidatos (as), quanto no meio do povo.
Há coisa de duas ou três semanas o governo federal divulgou o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – Ideb. Falando assim, no singular, pode parecer que seja apenas um número. Não é! Trata-se de um calhamaço deles. Gente que sabe o que está fazendo se debruça sobre eles sem pressa de acabar. Alguém pode até dizer que isso só interessa a secretários de educação, diretores de escolas e a alguns poucos professores. Errado! Isso tem a ver com toda a sociedade. Na quarta edição dos resultados da Prova Brasil dá pra ver a história da evolução ou involução da Educação que é oferecida ao povo deste país e a fotografia pormenorizada do momento atual.
Separei os resultados das escolas municipais de Itaperuna para prestar um serviço ao leitor da OFF. Não quero dirigir sua leitura, mas não posso deixar passar em branco uns entendimentos fundamentais revelados pelo Sistema de Avaliação da Educação Básica – Saeb. Antes quero dizer que a Educação do Estado do Rio de Janeiro, medida em suas redes – estadual e municipal –, evoluiu 11 posições: saiu do lastimável 26º lugar – à frente apenas do Piauí – em 2009 para o 15º lugar em 2011. Pode parecer pouco para o 2º estado mais rico da federação, entretanto havia uma tendência de continuar caindo até o fundo do poço que os governos anteriores lhe tinham com afinco cavado. E mais: enquanto a rede pública no estado melhorou grandemente, a rede particular caiu 4 pontos. Mas, quem pode, escolhe matricular seu filho onde quer; espero que saibam o que estão fazendo.
Vamos lá! A partir do compromisso “Todos pela Educação”, que busca levar o Brasil a ter índices semelhantes aos países mais desenvolvidos, o MEC estabeleceu METAS para as escolas e as redes.  Na série histórica das três últimas edições da Prova Brasil, o Ideb alcançado pelas escolas municipais de Itaperuna, em relação a essas metas, vem tendo um comportamento ziguezagueante. Procurei destacar nos retângulos pretos com números em branco o que mais interessa nessa nossa análise.
Quanto ao Ensino Fundamental das séries iniciais, vínhamos num crescente de 2007 a 2009 (de 5 escolas batendo meta para 9 escolas). Mas, desgraçadamente, em 2011 apenas três continuaram alcançando suas metas – uma queda de 66%. E o pior: a maioria voltando a patamares inferiores aos atingidos em 2007 e mesmo em 2005, como o leitor que acessar o sítio do Inep irá tristemente verificar.
No Ensino Fundamental II – que prepara nossos adolescentes para ingressarem, por exemplo, no ensino profissionalizante – crescemos ZERO em desempenho. As duas maiores escolas do município – EM Francisco de Mattos Ligiéro e EM Nossa Senhora das Graças – pioraram grandemente. Não podemos creditar esse ônus aos professores, pois são praticamente os mesmo que conseguiram fazer os alunos aprenderem mais de 2007 a 2009. Há que se perguntar, então: o que mudou tanto nas gestões escolares e na condução da política educacional em nosso município? o quanto isso está ligado a nossas escolhas?
Nesse ponto vou aproveitar o espaço que resta para fazer uma reflexão política, contudo apartidária. Tenho saudado com entusiasmo uma importante mudança de paradigma na política nacional e na gestão das políticas públicas. Pra ficar somente no campo da educação, temos visto secretários estaduais e municipais que não são professores ou o são, mas também graduados em economia. Olhemos, por exemplo, para o Ministério da Educação ou para a Secretaria de Estado da Educação. Os titulares são economistas. E vêm tendo sucesso gerindo sistemas educacionais.
Vamos escolher no início do próximo mês os gestores municipais e os legisladores para a Câmara. Dizem que as eleições ou as campanhas eleitorais estão mornas. De duas uma: ou o povo está refletindo com ponderação suas escolhas, ou a população não está querendo saber de “política” e nem pensar no assunto. Na primeira hipótese, é muito ruim pros candidatos; na segunda, para nós mesmos. Acho que não temos o direito de votar em quem nos der na telha... é a cidade que está em jogo, é o bem comum, é a melhoria ou a piora na educação nos nossos sobrinhos, filhos, netos...
Continuo achando que nossa cidade – e todas as outras - não precisa de vereadores. Mas, não iremos fazer uma revolução dessas agora. Então, já que temos de escolher, que saibamos quem estamos escolhendo.
Pergunte ao candidato a vereador que lhe pedir votos pelo menos o seguinte: a meta do Ideb para 2013 no EF I de Itaperuna é 5,7, mas em 2011 caímos e o realizado foi 5,0. No EF II a meta é 5,4, entretanto, em 2011, patinamos em 4,2. O que a Câmara de Itaperuna poderá fazer para melhorar isso? Se achar essas perguntas muito difíceis de serem respondidas, não desista. _Quais são as funções do vereador? Essa é batata. Se ele responder algo que não seja legislar – no âmbito da constituição, pois há vereadores que se acham no direito de fazer ou modificar leis da competência de Estados e União -, fiscalizar, assessorar o Executivo, organizar e dirigir os serviços da Câmara e somente dela, elimine este. Você pode dar uma ajudazinha básica: Peça que ele fale de sua plataforma, de tudo que pretende fazer desde que não haja entre seus projetos algum que venha a AUMENTAR as despesas do município, nem DIMINUR suas receitas, pois isso é INCONSTITUCIONAL.
Cansou?! Se não existe em nossa cidade candidatos que possam responder satisfatoriamente a essas perguntinhas singelas, então conclua comigo: não há em quem possamos votar para vereador, pois somos daqueles que sabem o que estão fazendo. De toda sorte, o comparecimento às eleições e o voto são obrigatórios. O voto em branco, o voto nulo...

Publicado na Estilo OFF - setembro/2012