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quarta-feira, 4 de abril de 2012

FATOS E NÚMEROS


Quando é pra falar bem a gente é bom; mas pra falar mal, invariavelmente, somos melhores ainda. Então vamos à bagaça deste abril.
Há que se reconhecer um grande esforço da gestão municipal para “enxugar gelo”. Numa operação por toda a cidade, a prefeitura vem se mobilizando para tapar os buracos nas ruas e vias. Infelizmente, a velocidade da tapação é menor que a do surgimento das pequenas gretas que vão, dia-a-dia, regadas pelas chuvas, crescendo em meio ao trânsito agora mais civilizado com a exigência de ACC e emplacamento para as “cinquentinhas”. Deve ser uma escolha difícil essa de eleger uma rua em detrimento de outra. É uma Lista de Schindler que nosso FSFP preparou e que a secretaria de obras tenta seguir a despeito das pressões políticas que os vereadores impõem ao jogo. É até engraçado ver, neste mister, a mistura de elementos: rua pavimentada com paralelepípedos recebem remendos asfálticos. Paradoxalmente, deve estar sobrando esse material, pois até vias de terra batida têm os buracos tapados com o betume. Um primor da engenharia civil. Melhor isso do que nada. Pronto, esgotei a cota de “falar bem”.
Outro dia precisei dos serviços do Departamento de Pessoal (DP) da prefeitura. Fui atendido! Entretanto, estou estarrecido até hoje. É inacreditável o abandono a que foi submetido o imóvel e as instalações da prefeitura de Itaperuna. A má aparência do prédio com que nos deparamos todos os dias é nada perto do que está por dentro: pisos, paredes, teto, rede elétrica e de comunicação, sanitários... tudo, tudo mesmo parece uma grande casa abandonada pelos donos e onde os empregados continuam a viver e a trabalhar em meio ao mofo, ao calor e à completa falta de recursos materiais. A comparação não é a melhor, mas me ocorre agora: do ponto de vista administrativo, lembra muito o naufrágio do Costa Concórdia largado pelo capitão que, neste caso, é o rato da história. Não entendo a lógica da descentralização administrativa que muitas instituições públicas têm implementado. Os cargos de ocupação transitória, de livre nomeação, de indicação política são exercidos em imóveis mais bem conservados e, muitas vezes, alugados a preços sempre maiores do que realmente valem. No conforto das boas instalações, os passageiros temporários; na penúria do navio inundado – da senzala imunda –, os servidores públicos. Ninguém me contou; eu presenciei. Vi servidor comprar tinta de impressora de seu próprio bolso para atender ao público. Enquanto isso, os temporários usufruem de uma estrutura que lhes permite a distinção das benesses, de imprimir e/ou xerocopiar suas coisitas particulares, de criar dificuldades para vender facilidades, de “burrocratizar” o instituto da burocracia, de ficar full time nas redes sociais futricando a vida alheia e defendendo seus DAS.
Recente estudo da Firjan mostra o desempenho dos municípios brasileiros em critérios como receita, gastos com pessoal, investimentos, liquidez e custo da dívida, classificando sua gestão como crítica, em dificuldade, boa e excelente. O chamado Índice Firjan de Gestão Fiscal apontou os melhores e os piores municípios da Brasil a partir de informações que os próprios apresentaram à Secretaria do Tesouro Nacional. De nossa região, ficou faltando Varre Sai e Cambuci porque os dados não eram consistentes. Fiz o trabalho de casa e juntei as informações no quadrinho abaixo pra ajudar você a entender melhor a situação.
Um olhar atento aos números que estão no sítio http://oglobo.globo.com/infograficos/gestao-fiscal-firjan/ do Jornal O Globo revela um quadro no qual Itaperuna perde de goleada em Gestão para São José de Ubá, Laje, Pádua e Aperibé. A receita (capacidade de arrecadar) nossa de cada dia é uma das piores. Mas o comprometimento da folha com gastos de pessoal é um dos melhores. Para minha e sua tristeza, isso não significa equilíbrio ou responsabilidade fiscal, mas quer dizer que nosso município é dos que menos gastam com salários e benefícios de seus servidores. Trocando mais em miúdos: dos que pagam pior aos servidores. Só pra dar um exemplo que os números revelam: São José de Ubá arrecada menos da metade que Itaperuna e, mesmo assim, consegue pagar melhor aos funcionários e fazer duas vezes mais investimentos que FFSP nem sonha realizar.
Nossos munícipes – acredito –, mesmo sob a influência da propaganda e da contrainformação, conseguem avaliar a conjuntura. Os moradores conhecem os erros e acertos da administração, porque são sensíveis aos efeitos das ações dos gestores. Pode-se enganar um montão de gente durante um bom pedaço de tempo. Entretanto, é impossível fazer de bobo todo o povo por todo o tempo. De tudo, o que mais me causa preocupação é que a má gestão tem efeitos no curto prazo com as mazelas estampadas na nossa cara, mas há malfeitos que só vão aparecer mais tarde e pra toda a vida. Este é o caso específico do sucateamento dos bens, do serviço e do servidor públicos.
 Publicado na Estilo OFF -  abril/2012.