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sexta-feira, 20 de maio de 2011

Um discurso que eu gostaria de ter feito

Parabéns professora Amanda. Era preciso que alguém, sereno como você, falasse "urbe et orbi" - lá do longínquo Rio Grande do Norte - o que nosso país precisa ouvir. Chega de enganação, de falsas promessas, de redentorismos. O que move a melhoria da Educação não é realmente o salário dos profissionais, mas também, sem um salário minimamente digno, não se tem educação de qualidade. Nesse momento a sociedade precisa ser esclarecida - para além da propaganda enganosa dos Governos - de que se não aumentar para 9 ou 10% do PIB os investimentos nas escolas e, sobretudo, nos profissionais da educação todo remendo é inútil e a falência total do Sistema Educacional iminente.

terça-feira, 10 de maio de 2011

CARTA ABERTA AO PREFEITO FERNANDO PAULADA

Itaperuna, 10 de maio de 2011.

Excelentíssimo senhor prefeito Fernando Paulada
Neste centésimo vigésimo segundo aniversário de emancipação político-administrativa

Sou morador do bairro que chamam “João Bedim”. Oficialmente é Presidente Costa e Silva como deseja a burocracia municipal ludibriada por todos nós e pela ECT que continua nos entregando as encomendas postadas com o nome desse itaperunense judicioso que um dia conheci frequentando missa mensal na capela de São José lá em Retiro do Muriaé.
Moro aqui há 13 anos. Não sei se minha casa fica na parte pobre ou rica do bairro, pois não temos um canal a separar as classes como na Cehab – ou Gov. Roberto Silveira. O João Bedim é muito diferente do “Aeroporto”, isto é, Ministro Sá Tinoco. Não temos nada a ver com o bairro Centro Bruto, melhor, São Mateus ou o Pe. Humberto Lindelauf que, falando assim, quase ninguém sabe onde fica. É que meu bairro era (?) uma imensa várzea e apresenta uma topografia típica de bacia de recepção ou artesiana – pergunte ao teu secretário de meio ambiente o que significa isso e o que irá acontecer em curto prazo se continuarem, sofregamente, aterrando os terrenos (piscinões), até agora guardados para a usura. Não é à toa que, na última grande chuva de dezembro, fomos notícia no Canal 21: as águas invadiram ruas nunca dantes navegadas. Mas a gente vai levando.
Minha comunidade é nova. Trata-se de um grande loteamento que se foi desenvolvendo sem qualquer estrutura básica. Desses que são feitos sem autorização da prefeitura, mas com a permissão dos prefeitos – és novo na administração e talvez não saibas ainda como isso se dá. Por ser uma área “valorizável” da cidade, chamou a atenção dos especuladores que, no início, adquiriram os terrenos mais nobres e pressionaram o poder público para que fizesse benfeitorias a fim de mascararem as condições reais da escassa infraestrutura. Deste modo, ainda há muitos terrenos baldios à espera de valorização. Quando cheguei com minha família, praticamente não havia vizinhos. Eu abria a janela de minha casa e me deparava com o bummmmmmm-dia de umas vacas simpáticas que estavam sempre por ali a pastar na via gramada. Hoje, com o Aedes aegypti solto por aí, causam medo os depósitos de água nos terrenos de cujos proprietários a prefeitura insiste em não cobrar o imposto progressivo. Mesmo isso a gente vai levando.
Agora, entretanto, o João Bedim já não é um lugar tão bucólico, a despeito de as vacas e bois soltos pelas ruas – algumas raras precariamente asfaltadas – estarem agora a pastar o lixo dos terrenos baldios e a invadir o “cocho” de algumas lixeiras suspensas nas poucas calçadas. Salve! Temos indústria: um abatedouro de frangos que nos ensurdece e espalha pelo bairro o odor putrefato de seu lixo não tratado; parte jogada na rede pública de esgoto e outra espalhada por aí, ao Deus dará. Até isso, há 5 anos a gente vai levando, excelência.
A comunidade cresceu e os problemas evoluíram e novos também apareceram. Mas, é claro, benefícios surgiram juntos com os novos vizinhos, pois quanto mais gente – leia-se, votos – reclamando, maior é a atenção do poder público. Por exemplo, agora somos melhores atendidos no quesito Transporte. Mesmo assim, está longe do que a comunidade espera e merece. De uma precária – quando chovia, não havia o coletivo e/ou ele mudava o trajeto sem aviso - linha de ônibus, atualmente temos 3. É verdade que eles passam juntinhos no mesmo horário – os moradores não entenderam ainda a lógica da concessionária do transporte coletivo. De todo jeito, a gente vai levando.
Nos últimos 5 anos, foram pavimentadas algumas ruas principais. Entretanto, o material asfáltico não tem suportado a falta de captação de água pluvial e está deteriorado em mais de 90%. A maior parte das vias é ainda de terra batida que ora é barro, ora lembra um sucesso da Ivete Sangalo – isso vale para as “asfaltadas” também. Sabes, senhor prefeito, agora mesmo o teu governo resolveu dar um alívio para o povo daqui. Estamos recebendo o calçamento da Avenida João Bedim – não há previsão para o término da obra, parece que falta dinheiro, não sei. Não sou especialista em planejamento, então alguém precisa me explicar – como se ensina às crianças – por que calçar uma rua embaixo e deixar as de cima escorrerem toda a lama que a chuva lhes provoca por sobre a roupa nova da que está abaixo. Também isso a gente vai levando contra a vontade.
Por ser um bairro que há pouco era zona rural, esperava-se que a conservação do meio ambiente fosse primazia dos gestores públicos e da própria comunidade. Entretanto, afora termos uma pequenina Unidade de Preservação – um açude de tamanho médio rodeado de recente arborização – todo o mais está bastante degradado. São poucas as residências com árvores ou arbustos nas calçadas. Os terrenos baldios não são cercados ou limpos servindo, quase todos, de depósitos de dejetos humanos e animais, resíduos de construção civil, descartes domésticos de todos os tipos. O mais grave de tudo é que insistem – não sei se sabes o senhor, se têm aprovação da Prefeitura – em construir grimpa acima na encosta do açude, casas nos morros de uma terra rasa, perto da rocha. Coisa que nos lembra as condições para recente tragédia da Serra Fluminense. E de novo a gente vai levando.
Senhor prefeito, essa parece de menos, mas é demais O loteamento João Bedim é grande como um bairro. Entretanto não existe uma só praça! Dá pra acreditar nisso? Acho que os empreendedores enganaram os gestores municipais todos que passaram. Não reservaram um só centímetro quadrado para o lazer. Ou então os prefeitos anteriores deram uma de “João-sem-braço”..., ou doaram para igrejas que, com todo o respeito, não são um espaço realmente público. De sorte é que não temos praças nem praça alguma. Pode?! Porém... a gente vai levando junto com toda a cidade de Itaperuna.
Não sei se o senhor irá me ler até aqui, mas preciso dizer-te uma última coisa: senhor prefeito, não tenho pena de vossa excelência... Não acho que sejas um coitado (essa palavra, aliás, é uma m#r&@), que tenhas recebido uma herança maldita, que te pareças com um pobre de Jesus. Nada disso! Acho que sabes perfeitamente o tamanho da responsabilidade que pesa sobre teus ombros, que tens a clara dimensão de teu papel político-social, que conheces os problemas do povo e da cidade, os dilemas das nomeações de primeiro e segundo escalões, o corporativismo do funcionalismo público, o pardieiro que é o Legislativo municipal, os interesses dos financiadores de campanhas políticas, o “fogo-amigo”, os contra, enfim, as mumunhas do poder. Não pode haver desculpas, nem subterfúgios, muito menos incúria pode haver, pois há um limite pra gente ir tomando.

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Ah, Senhor prefeito! Sei que há uma agenda de prioridades na tua administração: tantas coisas grandes e outras tantas miúdas. Acredito que deves ouvir de um tudo: _Faze isto. _Aquilo. _Não, aquiloutro! _Fiat lux etc. Quero que saibas que apoio a obra do bicicletário Hermes de Novais Leite.


Publicada na revista Estilo OFF - maio/2011